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Jornalistas mexicanos ganham salário mínimo de 13 dólares por dia

Salários muito baixos, instabilidade trabalhista e alto risco são as condições de trabalho enfrentadas pela imprensa no México. “A profissão está desvalorizada porque as pessoas sabem que é perigoso ser jornalista e que, além disso, se paga mal”, disse Ariel Muñoz, reitor da Universidade de Morelia, numa entrevista por telefone com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Segundo o guia da Comissão Nacional de Salários Mínimos de 2012, o salário mínimo de um repórter de imprensa escrita é de 176 pesos por dia (13 dólares diários, ou 400 dólares mensais). Mas os correspondentes do interior do país recebem como pagamento até 11 dólares por matéria, trabalhando turnos de até 12 horas por dia, denunciou a jornalista Elia Baltazar, fundadora da organização Periodistas de a Pie em uma entrevista recente à emissora de rádio MVS no México. Baltazar também alerta para um aumento de jornalistas que trabalham por conta própria. Antes, 70% dos jornalistas que participavam de sua organização eram empregados de um meio de comunicação, mas agora a maioria é independente e carece de serviços como seguro de vida ou plano de saúde. “É um desafio”, opinou Baltazar.

As condições de trabalho da imprensa mexicana são tão adversas que Muñoz sugere que o jornalismo no México possa ser uma "profissão em perigo de extinção”. Em agosto último, a Universidade de Morelia anunciou o fechamento do curso de jornalismo para o ano letivo de 2012-2013 devido a falta de candidatos. A Universidade de Morelia fica no estado de Michoacán, onde cerca de dez jornalistas foram assassinados desde 2000 e outros três continuam desaparecidos. Outra instituição, a Universidade Veracruzana (UV), também reportou altos níveis de evasão dos estudantes de jornalismo e um baixo número de calouros a partir do assassinato de 11 jornalistas em Veracruz, segundo reportou a revista eme-equis.

“Não estão matando apenas os repórteres, mas também a vocação para ser jornalista”, disse um funcionário dessa universidade.

Enquanto os jornalistas dos jornais El País da España e do The New York Times nos Estados Unidos se organizaram para protestar contra os cortes de funcionários e as condições salariais, para os jornalistas mexicanos tem sido mais urgente protestar contra os assassinatos impunes de 74 colegas desde o ano 2000.

Daniela Pastrana, da fundação Periodistas de a Pie, disse no Fórum de Austin em maio passado que os meios de comunicação em Veracruz demitem os jornalistas que recebem ameaças por seu trabalho.

Mariclaire Acosta, da organização Freedom House do México, disse que as condições trabalhistas para a imprensa no México se devem a uma falta de consciência de classe para reclamar os direitos trabalhistas, segundo sua participação no programa de rádio Ombudsman, da emissora MVS.

Por terem uma baixa penetração na internet, as publicações mexicanas têm uma vantagem sobre a imprensa estadunidense, mas no México há uma oferta de trabalho mais limitada para o alto número de profissionais do jornalismo e da comunicação. "Na maioria das redações trabalham pessoas muito jovens, com poucas possibilidades de avançar na carreira", observou Baltazar.

Como resultado, “não há tempo para fazer um jornalismo profissional, com informações checadas e comparadas”, acrescentou. E em lugares como Tamaulipas, as ameaças chegam a tal nível que é impossível confirmar os sucessos do crime organizado. “Há lugares onde a informação não entra e nem sai”, reportou há um ano a emissora britânica BBC.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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