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Assassinato de jornalista cidadã que informava sobre cartel no México causa temor em redes de notícias cidadãs

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  • 3 novembro, 2014

Por Christina Noriega

O recente assassinato de María del Rosario Fuentes Rubio, uma médica e jornalista cidadã conhecida no Twitter por suas informações sobre a atividade do cartel no norte do México, abalou jornalistas que trabalham em redes de notícias cidadãs na região do estado de Tamaulipas.

Usando o pseudônimo Felina ou "Mulher-Gato", Fuentes Rubio era conhecida por usar as mídias sociais para informar sobre a atividade do narcotráfico e outros atos de violência não reportados pela mídia local. No momento de sua morte, sua conta no Twitter @Miut3 tinha 9.000 seguidores.

Fuentes Rubio foi sequestrada no dia 15 de outubro, em Reynosa, uma cidade fronteiriça mexicana controlada pelo Cartel do Golfo, que, de acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas, infiltrou-se na polícia local, no governo e na mídia, censurando as principais redações e proibindo a publicação de qualquer coisa que não tenha sido pré-aprovada.

No dia seguinte, uma foto do corpo da médica foi enviada por seus assassinos em sua conta no Twitter. A mensagem que acompanhava a foto dizia: "Minha vida chegou ao fim hoje. Não coloque suas famílias em risco como eu fiz. Desculpem-me. Eu morri por nada. Eles seguem mais de perto nossa trilha do que você pensa."

Embora o Comitê para a Proteção dos Jornalistas informe que mais de 30 jornalistas já foram mortos no México desde 1992, alguns analistas indicaram que a morte de Fuentes Rubio poderia ser diferente, ou que poderia ter um efeito inibitório similar no jornalismo cidadão.o efeito de impedindo semelhante relatórios jornalista cidadão.

"Eu acho que o assassinato da médica é um divisor de águas", disse o ativista mexicano Eduardo Cantu à Associated Press. "Acho que um monte de gente vai pensar muito" sobre continuar esse trabalho.

Em um post no Facebook que foi excluído, um usuário do site de notícias cidadãs Valor por Tampaulipas, onde Fuentes Rubio trabalhou até 2013, refletiu sobre os efeitos do recente assassinato do jornalista cidadão:

"Outro aspecto que me preocupa no futuro de curto prazo é a ameaça do crime organizado que não está alinhado com o Estado ou com o narcotráfico", afirmou o post. "Vamos ter dias complicados, como aqueles que tivemos antes."

Como uma contribuidora regular do site Valor por Tamaulipas, Fuentes Rubio usava a hashtag #ReynosaFollow, conhecida por veículos de mídia nacionais e internacionais como um agregador de relatos sobre violência local.

Sergio Chapa, um repórter de TV baseado em Harlingen, Texas, disse ao Comitê de Proteção aos Jornalistas que os relatos de #ReynosaFollow eram precisos, oportunos, e que os colaboradores monitoravam regularmente e excluíam da conta informações falsas. "Eles são um verdadeiro grupo de jornalistas cidadãos", disse Chapa. "Eles expõem material que vira notícia nacional."

O site de notícias tornou-se um alvo claro de grupos do narcotráfico que operam na área. No ano passado, um cartel não identificado ofereceu uma recompensa de cerca de 48 mil dólares pelas identidades dos administradores do Valor Por Tamaulipa, segundo o The Daily Beast.

Em recente declaração à Associated Press, no entanto, o administrador do site, que trabalha de forma anônima por razões de segurança, prometeu que a morte de Fuentes Rubio não iria parar suas operações, acrescentando que "os esforços da médica ao longo dos últimos anos para fortalecer as redes sociais terão que continuar, para honrar sua memória. "

A polícia ainda não encontrou o corpo de Fuentes Rubio e o crime foi classificado como um seqüestro, por enquanto. Repórteres Sem Fronteiras condenou abertamente o assassinato e exigiu que o governo mexicano conduza uma investigação completa. Atualmente, como enfatiza a organização defensora da liberdade de expressão Freedom House, os acusados ​​de ataques contra a imprensa gozam de quase total impunidade no México.

"Campanhas de terror dos grupos do crime organizado contra os cidadãos não são, infelizmente, novas no México", disse Virginie Dangles, representante da Repórteres sem Fronteiras. "A luta contra a impunidade é a única maneira de proteger os cidadãos que arriscam suas vidas para fornecer informações sobre a violência que atinge o país."

Enquanto Tamaulipas continua a lidar com a morte da conhecida jornalista cidadã, outras pessoas que colaboraram com Fuentes Rubio em Valor Por Tamaulipas tomaram medidas para proteger suas identidades.

De acordo com a reportagem do Daily Beast, muitos mudaram seus números de celular, temendo que o cartel possa ter adquirido suas informações de contato quando confiscaram o telefone de Fuentes Rubio.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.