Por Diego Cruz
Foram registradas 66 agressões contra a imprensa no México nos primeiros três meses de 2014, de acordo com um relatório trimestral publicado em 22 de abril pela organização defensora da liberdade de expressão e informação Artigo 19.
Destas, 23 foram agressões físicas contra jornalistas e 19, ameaças. Foram documentados nove casos de intimidação ou pressão, oito de assédio judicial, cinco detenções arbitrárias, um caso de difamação e um assassinato. Segundo o documento, houve 16 agressões a mais este ano que no mesmo período de 2013.
Em 39 dos casos, o suposto agressor foi um funcionário público, em 11 o responsável é desconhecido, em sete o suspeito é um civil, em quatro foram forças partidárias, em três foram meios de comunicação e apenas dois estão ligados ao crime organizado.
O relatório destaca Veracruz como o estado mais violento para a imprensa durante os primeiros meses do ano, contando com o assassinato do repórter Gregorio Jiménez em 11 de fevereiro e agressões ou ameaças contra outros dez trabalhadores da imprensa.
Artigo 19 também documentou “deficiências e omissões” das autoridades que investigaram as agressões. No caso de Jiménez, mencionaram que o diretor da Agência Veracruzana de Investigações e o promotor encarregado da investigação, Enoc Maldonado, disseram que o crime poderia ter sido causado por um conflito entre o repórter e uma vizinha. Contudo, as autoridades haviam encontrado o corpo do jornalista junto com o do secretário de um sindicato de trabalhadores cujo sequestro Jiménez havia divulgado, o que apontava para motivos relacionados com sua profissão de jornalista.
Também se registraram casos em que a ação tomada pelas autoridades não criou muito impacto. Depois de uma tentativa mal sucedida de sequestrar o dono do veículo veracruzano Notivisión, Ulises Mejía del Ángel, os responsáveis foram capturados, mas logo liberados por ordem de um juiz local.
O Distrito Federal foi a segunda entidade com mais agressões contra a liberdade de expressão, com dez casos de agressões contra jornalistas. Em cinco destes, os supostos responsáveis foram policiais da Secretaria de Segurança Pública da capital mexicana. Isso preocupou a Artigo 19, já que em 2013 a mesma força policial foi responsável por 60% das agressões.
O relatório também mencionou outras zonas de risco, tal como o estado de Sinaloa, onde trabalhadores do periódico Noroeste receberam cinco ameaças e agressões em relação a suas investigações sobre a captura do narcotraficante Joaquín "El Chapo" Guzmán Loera.
Guerrero foi o terceiro estado com maior número de agressões, com nove casos de agressões documentados, três dos quais por parte de policiais e outras três por funcionários do governo. Em um caso, três meios de comunicação se viram forçados a revelar as identidades de fontes utilizadas para uma matéria depois de ações penais de legisladores públicos.
Quanto a medidas de segurança tomadas pelo governo, o relatório apontou a crise enfrentada pelo Mecanismo de Proteção para Jornalistas, que não atendeu nem metade dos casos recebidos e foi considerado um “fracasso” pelas autoridades, que pediram uma reestruturação para alcançar suas metas.
Artigo 19 considerou o estado da liberdade de expressão no país mais adverso que no ano passado, e não só pelo maior número de agressões.
“A impunidade que costuma existir em mais de 90% dos casos documentados e a crise que atravessa a instância federal encarregada de proteger os comunicadores ameaçados se tornaram os melhores incentivadores para os agressores da imprensa no México”, disse a organização ao finalizar seu relatório.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.