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Governo de Morales criou rede de meios "paraestatais" para dominar opinião pública, segundo jornalista boliviano

Por Alejandro Martínez

Nos últimos anos, a administração do presidente da Bolívia Evo Morales construiu uma rede de meios “paraestatais” para dominar a opinião pública, segundo um novo livro sobre o governo boliviano e sua estratégia midiática.

O livro "Controle Remoto" foi escrito por Raúl Peñaranda, um reconhecido jornalista e ex-editor do veículo independente Página Siete. O livro está baseado em entrevistas com pessoas da vice-presidência, ministros, jornalistas, executivos de mídia e fontes anônimas.

O livro detalha a compra de meios por empresários que simpatizam com o governo, que “logo deram a ele controle editorial e informativo” e são manejados indiretamente pelo escritório do vice-presidente Álvaro García Linera, disse Peñaranda na apresentação de seu livro em 10 de abril.

Peñaranda destaca os canais de televisão ATB, PAT, Full TV e Abya Yala, assim como o jornal La Razón, o periódico com maior distribuição no país que atualmente pertence a Carlos Gil, um empresário venezuelano amigo de Morales e do falecido presidente da Venezuela Hugo Chávez. Estes meios recebem uma verba publicitária “insólita” e “muito maior” que a de outros meios que não estão alinhados com o governo, afirmou.

"Em todos os meios mencionados, foram nomeados jornalistas que têm a responsabilidade de controlar a linha editorial e informativa deles”, disse Peñaranda.

O vice-presidente García Linera respondeu às acusações dizendo que tem "coisouas mais importantes a fazer na vida" que controlar meios, informou a agência de notícias EFE. Os meios acusados negaram promover uma agenda pro-governamental.

Os 500 exemplares da primeira edição se esgotaram apenas 40 minutos depois da apresentação do livro. A segunda e a terceira edições já estão a caminho, disse Peñaranda por e-mail ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Peñaranda atribuiu o sucesso do livro em parte a uma tentativa de desprestígio contra ele por parte do governo boliviano alguns dias antes da apresentação da obra. A tática teve o efeito contrário, assegurou.

Antes da apresentação, a ministra de comunicação Amanda Dávila organizou uma coletiva de imprensa para avançar com as acusações contra Peñaranda e outros jornalistas do Página Siete por supostamente terem defendido interesses chilenos durante a disputa entre Bolívia e Chile por um acesso ao Oceano Pacífico. Durante a coletiva, Dávila apresentou um passaporte chileno que pertence a Peñaranda e o acusou de ter nascido no Chile.

Peñaranda respondeu assegurando que sua dupla nacionalidade chilena e boliviana nunca foi um segredo, segundo o diário Los Tiempos.

A relação de Peñaranda com o governo de Evo Morales é tensa. A cobertura sobre corrupção pública da Página Siete -- um jornal investigativo fundado por Peñaranda -- lhe renderam repetidas advertências e assédio por parte de funcionários públicos.

A pressão aumentou quando o governo começou a acusar o diário de favorecer interesses chilenos. No ano passado, depois de um erro publicado no Página Siete, Peñaranda decidiu deixar o periódico em uma tentativa de proteger a publicação de ser alvo de uma nova campanha governamental de desprestígio.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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