Ativistas informaram que grupos criminosos e paramilitares na Colômbia, um dos países mais perigosos para jornalistas na América Latina, fizeram ameaças de morte a jornalistas e defensores de direitos humanos durante os últimos dois meses. Meios de comunicação e representantes do governo pediram investigações para encontrar os responsáveis.
O Ministro da Justiça da Colômbia, Juan Fernando Cristo, anunciou recentemente que ofereceria proteção aos jornalistas e defensores de direitos humanos ameaçados, e ressaltou a importância de averiguar quem está por trás destas ameaças.
“Não é aceitável que na Colômbia todos os dias apareçam panfletos contra distintos dirigentes da vida pública e precisamos encontrar os responsáveis por estes atos”, afirmou Cristo.
A nova série de ameaças começou no mês de dezembro e continuou neste novo ano, de acordo com Fabiola León, representante para Colômbia de Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Após uma entrevista com León, Telesur relatou que “em aproximadamente 20 dias, cinco ameaças escritas foram entregues a 150 pessoas incluindo, além de jornalistas, ativistas sociais e líderes de restituição de terras”.
No início de dezembro de 2014, RSF publicou que o grupo paramilitar Bloque Capital – Águilas Negras ameaçou um portal de análise de informação, emissoras de televisão e um jornalista.
A organização disse que “condena o fato de que os grupos criminosos paramilitares da Colômbia possam seguir semeando o terror com total impunidade. Sua manutenção – como resultado do fracasso do processo de desmobilização – é uma desgraça para a sociedade colombiana”.
Os jornalistas ameaçados se reuniram em Bogotá no dia 11 de dezembro para discutir as intimidações. RSF informou que o grupo paramilitar havia dado aos meios de comunicação até 1º de janeiro para abandonar suas cidades depois de acusar jornalistas de serem “terroristas guiados pelas FARC e o ELN”. A organização criticou o Governo colombiano por não ter se pronunciado sobre a situação.
O Ministro da Justiça ressaltou que as ameaças têm por objetivo afetar o processo de paz.
O governo colombiano e as FARC começaram os diálogos de paz para terminar um dos mais longos conflitos internos da América Latina em outubro de 2012. Durante grande parte do século passado, Colômbia foi terreno de combates entre as forças de segurança do Estado, guerrilhas de esquerda, cartéis de droga, gangues criminosas e grupos paramilitares.
O governo e as FARC acordaram três pontos da agenda de negociações, mas continuam negociando sobre os direitos das vítimas, o desarmamento de membros das FARC e a implementação do plano dos diálogos de paz. Os combates continuaram durante as conversas e os críticos questionaram certos acordos e a efetividade do processo.
Em 2003, o governo e uma das maiores organizações paramilitares, as Autodefensas Unidas de Colombia (AUC), assinaram um acordo de paz, e a partir disso milhares se desmobilizaram. Contudo, muitos asseguram que alguns grupos continuam operando.
Esta não é a primeira vez que grupos armados fazem ameaças de morte a jornalistas por meio de panfletos. Em maio de 2013, os jornalistas colombianos enfrentaram uma onda de ameaças e ataques que ativistas disseram ser em resposta às denúncias de corrupção e às negociações de paz.
Em 22 de janeiro deste ano, a Defensoria do Povo, instituição nacional que monitora os direitos humanos na Colômbia, denunciou as recentes ameaças que apareceram em panfletos sob o nome do grupo criminoso "Autodefensas Gaitanistas del Atlántico y Magdalena" e pediram uma investigação para determinar os autores dos panfletos. A entidade também pediu à Unidade Nacional de Proteção para revisar os métodos de proteção aos ameaçados.
Um relatório de 2013 do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) explicou que os grupos criminosos conhecidos como Bacrim foram criadas por ex-paramilitares. Estas gangues traficam drogas e extorquem empresas.
“As bacrim frequentemente operam com a conivência de políticos locais, e quando os jornalistas investigam temas como a corrupção governamental, recebem ameaças das bacrim”, segundo o relatório.
Pedro Vaca, da Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) da Colômbia, disse ao Centro Knight que durante 2014 a organização registrou 131 agressões à imprensa. Os agentes de segurança pública cometeram 24% dos ataques, enquanto as Bacrim cometeram 33%. Houve um aumento entre 2013 e 2014 do percentual de ataques cometidos pelas Bacrim.
Vaca disse que o programa de proteção do país para jornalistas lhes oferece coletes à prova de balas, apoios de transporte e subsídios para realocação temporária. Em casos onde o risco é maior, são designados seguranças e veículos de proteção.
Vaca destacou que o principal problema é que o esquema de proteção só pode conter os riscos, mas não os elimina.
“Para isso é necessário que as investigações avancem para saber a origem das ameaças e lamentavelmente isso não ocorre”, assegurou Vaca. “A capacidade de proteção diminuiu notavelmente nos últimos meses devido à carência de recursos econômicos para suportar o alto número de pessoas protegidas, isso gera o paradoxo de que vários jornalistas têm esquemas de proteção que não funcionam de maneira adequada”.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.