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Seminário pré-ISOJ aborda problemas enfrentados por repórteres dos dois lados da fronteira entre México e Estados Unidos

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  • 25 abril, 2017

Por Cat Cardenas

Jornalistas de ambos os lados da fronteira abordaram a modernização, as notícias falsas e a corrupção durante o seminário Bridging the Border (Criando Pontes na Fronteira) na véspera do International Symposium on Online Journalism (ISOJ), na quinta-feira, 20 de abril.

A editora-chefe do Dallas Morning News e palestrante principal, Robyn Tomlin, começou o seminário falando sobre as várias mudanças que o jornal passou nos últimos dois anos, no discurso “Rock of Truth 2.0: What’s old is new again” (Pedra da Verdade 2.0: O que é velho tornou-se novo outra vez). Uma das maiores transformações foi uma tentativa de maior conexão com a comunidade hispânica e de maior transparência com os leitores.

Em termos de transparência, o Morning News convidou alguns de seus críticos a participarem em uma de suas reuniões para entender melhor como o jornal é produzido.

"Nosso objetivo é ser mais transparente em geral ... estar disposto a enfrentar seus críticos é uma parte importante da transparência", disse Tomlin. "Eu não sei se mudamos a opinião dos caras quando os trouxemos para a redação, mas mudamos suas perspectivas."

O Morning News também tem um repórter em tempo integral para cobrir imigração e a fronteira Texas/México, além de oferecer aulas semanais de espanhol na redação.

"Nós realmente pensamos que é importante que o maior número de jornalistas possível seja capaz de superar essa lacuna e cobrir uma comunidade que normalmente é subnotificada", disse Tomlin.

Para preencher melhor as lacunas na cobertura, as jornalistas Joy Díaz, produtora do Texas Standard para a KUT em Austin, Texas, e Rocio Guenther, repórter do Rivard Report em San Antonio, Texas, falaram da importância de conhecer mais de um idioma no painel sobre "Servir e cobrir a comunidade latina nos EUA".

Díaz encorajou as pessoas a se tornarem bilíngües ou trilingües, a fim de compreender melhor as questões que enfrentam as comunidades onde o inglês não é a língua principal.

"As histórias, as histórias dos imigrantes, as histórias dos nossos pais, as histórias que vivemos e sobre as quais reportamos não seriam possíveis ou não seriam tão fáceis de escrever se falássemos apenas uma língua", disse Díaz. "É muito importante que a autenticidade das nossas reportagens seja ouvida da boca das pessoas que passaram pela experiência".

Guenther reforçou seu ponto de vista acrescentando que, muitas vezes, em seu trabalho, ela encontra personagens que estão relutantes em falar, mas começam a se abrir depois que ela fala com eles em espanhol.

"Existe uma paranóia neste momento, especialmente entre a comunidade latina, e as pessoas têm muito medo de contar suas histórias", disse Guenther. "Eles têm muito medo de se abrir, mas no momento em que me ouvem falar espanhol é como se as paredes caíssem."

Emily Ramshaw, editora-chefe do Texas Tribune, e Adela Navarro Bello, diretora da revista Zeta, de Tijuana, no México, discutiram o tema “Cobrindo política na era dos #FakeNews e dos #AlternativeFacts.”

Desde o início do painel, Ramshaw logo admitiu que uma das maiores falhas da mídia ao cobrir as eleições de 2016 foi não ouvir o público.

"Nós realmente não tínhamos contato com muitos de nossos leitores", disse Ramshaw. "Eu acho que existem muitas 'buscas profundas' acontecendo em redações dos Estados Unidos agora sobre como nós podemos entender melhor o público, sobre como a mídia em grande parte errou sobre o resultado das eleições gerais, e sobre que precisamos fazer para compreender e informar melhor as pessoas em toda a nação".

Navarro começou sua apresentação explicando os perigos do jornalismo no México, onde onze repórteres foram mortos em 2016. Em sua história, a Zeta não ficou isenta dessa violência. Em 37 anos de reportagens, dois de seus editores foram assassinados. Eles receberam inúmeras ameaças, e Navarro teve que viver sob proteção por uma década.

No entanto, a diretora disse que é precisamente esse contexto em que "três carteles" pressionam o jornalismo - governo, tráfico de drogas e crime organizado - que faz com que seja necessário continuar a investigação jornalística.

"Nós fazemos isso porque temos o compromisso de fazer jornalismo investigativo, um compromisso com a sociedade, com os mexicanos e queremos ajudar com justiça, queremos [lutar] contra a impunidade, queremos dizer à sociedade que nem tudo está perdido", disse Navarro.

Essa atitude tem funcionado para a revista. Na Zeta, eles sentem que os leitores são muito próximos. Na verdade, ela disse que 60% do conteúdo vem de sugestões da sociedade. Eles estão convencidos de que seu objetivo é estar "perto da sociedade e longe do governo".

E para conseguir isso, como a maioria dos meios de comunicação, quando se trata da apuração, a chave é ser cético a respeito das informações, e é isso que Navarro diz a seus repórteres.

"[Eu digo a eles], sejam céticos, não acreditem no que o governo diz, vamos provar o que o governo está dizendo", disse Navarro. "A maneira de desmascarar um governo é fazer jornalismo investigativo".

Uma ferramenta criada para ajudar os jornalistas a expor a corrupção e cobrir a violência é o MexicoLeaks, um site de denúncias anônimas, semelhante ao WikiLeaks. Celia Guerrero, jornalista da Pie de Pagina, que já usou o MexicoLeaks em algumas reportagens, disse que a ferramenta é um meio importante para que os jornalistas coletem recursos e colaborem com colegas internacionais para derrubar governos corruptos.

"Poderíamos estar colaborando mais com nossos colegas nos Estados Unidos para descobrir quem são esses grupos e com quem eles estão conectados", disse Guerrero. "A tecnologia está lá. Somos jornalistas digitais, temos o acesso e a tecnologia para nos corresponder e deveríamos fazer isso".

Guerrero falou no painel “Stories from the border” (Histórias da fronteira), com a jornalista multimídia Alicia Fernández, do jornal El Diario de Juárez.

Fernández deu um conselho para cobrir as vítimas da corrupção e da violência que os jornalistas trabalham para expor, a fim de evitar ser insensível ou revitimizá-los.

"É importante estar focado no porquê você realmente quer contar a história", disse Fernández. "Você precisa ter muita sensibilidade e empatia e pensar [na situação deles] como algo que poderia acontecer a qualquer pessoa [...], a fim de criar um espaço onde os personagens se sintam confiantes de que eles podem falar com você".

Para fechar o seminário, a repórter Anabel Hernández falou sobre os desafios que enfrentou durante a investigação de dois anos do sequestro de Iguala de 2014, no qual 43 estudantes do colégio de professores rurais de Ayotzinapa desapareceram, na cidade de Iguala, no México. Suas descobertas foram lançadas no livro "La Verdadera Noche de Iguala" (A Verdadeira Noite de Iguala) e em vários artigos na revista Proceso.

Em sua palestra, “Investigating corruption (and protecting yourself) as an independent journalist”, (Investigar corrupção (e se proteger) enquanto jornalista independente), Hernández contou como viajou para Iguala várias vezes ao mês durante dois anos, entrevistando os sobreviventes do incidente e desafiando o governo a manter a lei de transparência para obter acesso a determinados documentos do caso.

No final da investigação, ela descobriu que os alunos desaparecidos estavam em ônibus que carregavam US$ 2 milhões em heroína, sem saber. De acordo com o relato oficial, os estudantes foram levados pelo sindicato do crime Guerreros Unidos, mortos, incinerados, e tiveram seus restos lançados no rio San Juan. O que supostamente apoia esta versão oficial é um fragmento de osso de um dos alunos encontrados nas margens do rio, embora vários peritos forenses se perguntem como isso é possível.

Apesar de suas descobertas, Hernández sabe que elas nunca serão reconhecidas como o relato oficial.

"No final da minha investigação, descobri que o gabinete do procurador-geral reconheceu que [os estudantes] não foram enterrados no Rio San Juan e que os ossos que foram encontrados foram plantados", disse Hernandez. "O governo jamais se afastará dessa explicação".

"Bridging the Border: As perspectivas digitais das mulheres jornalistas no Texas e no México" foi realizado na School of Journalism da Moody College of Communication no campus da University of Texas at Austin, no dia 20 de abril de 2017. Vídeo do evento está disponível aqui.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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