O cinegrafista da emissora de TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, 49, ferido por um explosivo durante uma manifestação no Rio de Janeiro, teve morte cerebral confirmada na manhã desta segunda-feira (10) pela Secretaria Municipal de Saúde, de acordo com o portal de notícias Uol.
Andrade foi atingido na cabeça enquanto registrava o confronto entre manifestantes e policiais no protesto contra o aumento da passagem de ônibus na última quinta-feira (6), no Centro do Rio. Ele sofreu afundamento de crânio e foi submetido a uma cirurgia após ser levado para o Hospital Souza Aguiar, também no Centro. Desde então, estava em coma induzido.
No sábado (8), um jovem que apareceu em imagens da TV passando a um terceiro o rojão que teria ferido o cinegrafista se entregou à polícia. O estudante universitário e tatuador Fábio Raposo foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado pelo uso de artefato explosivo e teve a prisão preventiva decretada, de acordo com o portal Exame. Ele disse desconhecer a identidade da pessoa responsável por acender o artefato, mas afirmou que cooperaria com a polícia na identificação.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e outras entidades ligadas à imprensa emitiram notas de repúdio e pedidos de investigação após o episódio.
Este é o primeiro caso fatal envolvendo jornalistas feridos durante as manifestações de rua no Brasil. Só este ano, outros dois jornalistas foram agredidos em São Paulo no dia 25 de janeiro: Sebastião Moreira, da Agência EFE, foi agredido por PMs; Paulo Alexandre, freelancer, apanhou de guardas civis metropolitanos.
Desde o início das manifestações contra o aumento das passagens em junho de 2013, já foram registradas mais de cem agressões contra profissionais da imprensa. Segundo levantamento divulgado em dezembro do ano passado pela Abraji, 71 dos 114 casos de agressão (contabilizados até o final de 2013) durante os protestos foram intencionais, ou seja, realizados mesmo após as vítimas se identificarem como profissionais da imprensa. Dos 71 episódios de ataques deliberados, as forças de segurança foram responsáveis por 56, ou quase 80%. As demais agressões vieram de manifestantes insatisfeitos com a cobertura da grande mídia.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.