Por Isabela Fraga
As violências e restrições ao tarbalho jornalístico cometidas durante o período da ditadura militar no Brasil (1964 até 1988) agora serão investigadas de perto pela Comissão Memória, Verdade e Justiça, lançada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) durante o Seminário Internacional Direitos Humanos e Jornalismo, na sexta-feira, 18 de janeiro, informou o site da organização.
Juntamente com os sindicatos estaduais de jornalistas, o grupo investigará casos de censura, assassinatos, desaparecimento e outras formas de violência e de restrição ao trabalho jornalístico em todo o país à época. Participam da comissão os jornalistas Audálio Dantas, como presidente; Sérgio Murillo, da Fenaj; Rose Nogueira; Carlos Alberto Caó; e o deputado Nilmário Miranda.
Como principal objetivo, o grupo deverá elaborar um relatório com as investigações feitas durante este ano para apresentar à Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída em maio deste ano para "apurar graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos" durante a ditadura, segundo o site do grupo.
A maior parte dos integrantes da comissão sofreu na pele violências e crimes praticados pelo governo militar à época. Caó, Nogueira e Miranda foram presos políticos durante a ditadura, e Dantas era presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo quando o repórter Vladimir Herzog foi ilegalmente detido, torturado e assassinado pelo governo militar, em 1975. "A meu ver, uma das mais mais importantes contribuições da comissão será compreender os casos de censura que aconteceram por todo o Brasil durante a ditadura", opinou Dantas em entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. "A censura é uma das restrições ao jornalismo menos investigadas até hoje e, por isso, vamos conversar, colher depoimentos e procurar documentos que comprovem esses casos."
O presidente da comissão também lembra que, até hoje, o governo brasileiro é omisso em relação a casos de violências praticadas contra jornalistas durante a ditadura militar -- e também atualmente. "Já este ano um jornalista brasilerio foi assassinado. E até hoje o governo não apresentou as circunstâncias verdadeiras da morte de Herzog, algo que havia sido determinado oficialmente em 1978 por um juiz de São Paulo", recorda Dantas.
Além do relatório que será apresentado à comissão nacional, a Comissão Memória, Verdade e Justiça da Fenaj também disponibilizará suas apurações on-line para o público. "Caso contrário, continuaríamos a ocultar os crimes contra a imprensa cometidos na ditadura, como o governo tem feito com a justificativa da Lei da Anistia", alfinetou Dantas.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.