O conselho diretor do Prêmio Maria Moors Cabot, o mais antigo prêmio internacional de jornalismo do mundo, concedido pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, condenou a criminalização do jornalismo independente na América Latina, de acordo com um comunicado emitido em 13 de maio.
O conselho destacou os casos de perseguição contra Gustavo Gorriti, do Peru; José Rubén Zamora, da Guatemala; e a organização venezuelana de jornalismo investigativo Armando.info.
Gorriti, jornalista e fundador do IDL Reporteros, um site de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Peru, está sendo acusado por investigar a suposta corrupção política no Peru ligada à construtora brasileira Odebrecht.
O jornalista peruano recebeu a Medalha de Ouro Maria Moors Cabot em 1992 e também já fez parte do conselho do prêmio.
“Gorriti é alvo de uma campanha de difamação e de uma investigação criminal no Peru. Seu crime? Exercer um jornalismo investigativo independente e de interesse público, expondo políticos corruptos. Esses mesmos políticos estão agora fazendo acusações infundadas e exigindo que Gorriti revele suas fontes, com a ameaça implícita de prisão se ele não o fizer", disse o conselho do Prêmio Cabot no comunicado.
“O Estado peruano não deve permitir que seu sistema judicial seja usado contra o jornalismo investigativo independente”, acrescentou.
A declaração também alertou sobre o caso de José Rubén Zamora, jornalista guatemalteco e proprietário do elPeriódico, que está preso há quase dois anos, apesar de sua condenação por lavagem de dinheiro ter sido anulada e de várias organizações internacionais terem apontado violações em seu caso.
Zamora foi vencedor do Prêmio Cabot em 1995. O conselho diretor do prêmio disse em 2022 que sua prisão parece fazer parte de um padrão de deterioração das condições de direitos humanos na Guatemala.
“As organizações internacionais de direitos humanos e de liberdade de imprensa condenaram [o caso de Zamora] como uma vingança por ter denunciado a corrupção do governo”, disse o comunicado.
Além de citar os casos dos dois jornalistas, o conselho destacou a perseguição à equipe do Armando.info, que foi acusada pelo procurador-geral do país de receber subornos e estar envolvida em um esquema de corrupção. A acusação ocorreu poucos dias antes de o programa Frontline, do canal de TV americano PBS, exibir um documentário co-produzido pelo meio de comunicação venezuelano sobre corrupção e o custo do jornalismo independente no país.
O Armando.info recebeu uma menção especial do Prêmio Cabot em 2019. De acordo com o conselho diretor do prêmio, composto por jornalistas e educadores, essa acusação contra eles é “desastrada e sem sentido” e eles se solidarizam com todos os seus medalhistas, concluindo que “o jornalismo não é um crime”.