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É preciso humanizar as história de violência no México, diz repórter que atua na fronteira com os EUA

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  • 13 dezembro, 2012

Por Nathan Frandino

WASHINGTON D.C. - Corpos decapitados. Covas coletivas. Execuções públicas.

Seis anos depois, a guerra contra o narcotráfico no México deixou pouco espaço para a imaginação. Com todos esses atos terríveis de violência, a cobertura do tema desafia os repórteres a ir além das descobertas aterrorizantes.

Foi esse desafio que orientou o trabalho de Erin Siegal, uma repórter da organização Fronteras Desk, em sua cobertura da violência na região da fronteira com os Estados Unidos.

Recentemente, em Tijuana, na fronteira com a o estado da Califórnia, Siegal acompanhou a localização de covas com os restos mortais de pelo menos 100 pessoas. Os corpos foram dissolvidos em soda cáustica.

Na cobertura de uma história como essa, Siegal disse que contextualizar e humanizar as fontes, incluindo um ativista cujo filho desapareceu em 2007, são fatores fundamentais para manter o interesse na história e tornar seus personagens mais próximo.

Em entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, ela falou dessa cobertura.

Centro Knight: Havia muitos detalhes na sua matéria. Como os conseguiu e quanto tempo levou para isso?

Erin Siegal: Bom, eu moro em Tijuana e acompanhei o trabalho de Fernando Ocegueda, uma das pessoas citadas no texto, por um bom tempo. O filho dele havia sido sequestrado e estava desaparecido havia cinco anos. Desde 2007 ele fazia seu próprio trabalho de investigação, organizando outras famílias com entes desaparecidos. Mantive minha atenção nele especificamente. Ele é um mobilizador e sempre aparece na imprensa em Tijuana. Quando isso aconteceu, comecei a ler sobre o assunto na imprensa mexicana e decidi fazer meu próprio trabalho.

CK: Você diz em sua matéria que 25 mil pessoas estão desaparecidas no México por causa do crime organizado. Nesse trabalho, o que as família lhe disseram sobre suas experiências? Como é para essas famílias quando uma descoberta dessas é feita?

ES: Algumas das minhas fontes tiveram muita dificuldade para falar do assunto. É um processo um tanto lento falar com alguém que vive com um trauma desses. Outros meio que aceitaram o fato e conseguiram falar de forma mais fluida, como Ocegueda, por exemplo. Todo mundo é diferente. Alguns dessas famílias estão lidando com a situação há muitos anos, então é algo que já faz parte da vida delas.

CK: Para você que trabalha na região, houve desafios específicos nessa cobertura?

ES: Acho que é importante que os jornalistas preservem uma certa novidade, um sentimento de surpresa, uma curiosidade em relação a certas coisas. Eu não faço coberturas de assassinatos com muita frequência. Eu tento escolher histórias para contextualizar, então quando algo como isso acontece, não é apenas sobre aquela cena em particular. Sou capaz de ir lá e contar essa história a partir de uma perspectiva mais ampla e acho que isso é muito importante.

CK: A imprensa americana tem sido criticada pela falta de cobertura na região. Os veículos estão com medo de mandar seus repórteres para lá ou muitos simplesmente não se importam?

ES: Não acho que eles não se importam. E não acho que a decisão se baseia em medo quando as histórias não ganham cobertura. Acho que tem a ver com recursos. Tem mais a ver com a situação do jornalismo hoje em dia. Que veículos podem custear a ida de um repórter para fora do país? Não há tantos. E também há a questão de encontrar alguém capaz de cobrir aquela história. A garantir que uma história tão terrível e tão difícil para que os leitores se interessem seja importante o suficiente para ser consumida. Nos EUA, algumas pessoas se interessam pelo que acontece no México e outras, não.

CK: Há algo mais que os jornalistas devem consideram ao participarem de tais coberturas ou abordarem pessoa como Fernando, que estão no México todos os dias, buscando respostas?

ES: É importante fazer personagens como esses parecerem próximos e não apenas vítimas. Mas meio que todo mundo envolvido. Investigadores enfrentam seus próprios obstáculos fazendo esse tipo de trabalho. É muito perigoso. Todo mundo, dos soldados aos familiares de desaparecidos. Acho importante fazer essas pessoas saltarem da página, para que se aproximem do leitor, porque as estatísticas são tão fortes. Quando você lê sobre 25 mil desaparecidos, como você entende isso de forma humana? Acho que a única maneira de fazer isso é se concentrar em uma situação ou em certas pessoas e trazer isso para a realidade.

Ouça a matéria de Siegal no site da Fronteras Desk.

*Nathan Frandino é um jornalista freelance que vive em Washington D.C. Siga o jornalista no Twitter @NathanFrandino.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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