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Editora Dahbar recebe prêmio da Association of American Publishers 'defesa da liberdade de expressão' na Venezuela

Por Ignacio Perez (*) e Katherine Pennacchio

Se existe um setor que foi afetado pela crise social, econômica e política na Venezuela, foi o editorial. Cerca de 75% das livrarias da Venezuela fecharam devido à hiperinflação, à migração e à grave crise de escassez de papel que o país vive há alguns anos e da qual ainda não se recuperou, segundo o jornal El País.

Por isso, a Association of American Publishers (AAP) concedeu, no dia 30 de novembro, o Prêmio Internacional de Liberdade Editorial 2022/Jeri Laber à Editora Dahbar, com sede em Caracas, por demonstrar "Coragem e força na defesa da liberdade de expressão".

E é que as poucas editoras que permanecem na Venezuela também devem enfrentar novas leis contra o chamado incitamento ao ódio, ameaças do crime organizado, assédio de autores e várias formas de pressão do governo.

"A Editora Dahbar demonstrou tremenda coragem e compromisso ao continuar a publicar, mesmo com a deterioração do ambiente social e político na Venezuela, fazendo com que muitos outros fugissem do país", disse Terry Adams, presidente do Comitê de Liberdade de Publicação da AAP e editora digital e de bolso da Little, Brown, no anúncio do prêmio.

O fundador da Editora Dahbar, Sergio Dahbar, agradeceu publicamente o reconhecimento e o considera “um incentivo para continuar defendendo os silenciados, aqueles que não têm voz para expressar suas ideias”. 

A LatAm Journalism Review (LJR) conversou com Dahbar sobre sua carreira e os desafios que a indústria jornalística e editorial na Venezuela tem enfrentado. 

 

Exercício em estado de guerra

 

Sergio Dahbar é jornalista e trabalhou no El Nacional, um dos principais jornais de Caracas, por quase duas décadas. Lá começou como bolsista da seção literária e chegou a ocupar o cargo de assistente de direção.

Sentindo que era hora de voltar à faceta literária, Dahbar deixou o cargo de diretor e fundou em 2006 El Librero, uma revista literária mensal, gratuita ao público.

Como jornalista, Dahbar viveu a chegada ao poder e a saída, por morte, do presidente Hugo Chávez. Ele testemunhou a criminalização do jornalismo causada durante os 13 anos de governo de Chávez. 

"Ele começou a demonizar a prática do jornalismo", disse Dahbar. Isso ficou claro especialmente durante o programa semanal intitulado "Alô Presidente", no qual ele discutia questões atuais, legislava ao vivo e criticava a mídia. 

"Chávez estava falando e naquele mesmo dia um de seus partidários atacou um jornalista", disse Dahbar. "Você virou alvo do governo e não conseguia ser muito objetivo."  

E embora o atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro, não tenha um programa semanal onde ataque abertamente os jornalistas, ele tem seguido a mesma linha de ataque à imprensa de seu antecessor. 

El Librero fechou em 2014, quando Maduro já estava no poder, devido a dificuldades de acesso ao papel jornal que deixaram muitos meios de comunicação impressos venezuelanos à deriva. 

Este não é o único obstáculo que a indústria jornalística venezuelana enfrentou, nos últimos anos, sob a presidência de Maduro. Além da crise do papel, caiu a publicidade e o poder de compra dos compradores.

O governo só ajuda financeiramente se eles estiverem dispostos a divulgar suas mensagens oficiais gratuitamente.  Enquanto isso, fecha estações de rádio em massa.

"Vivemos em um estado de guerra e isso torna muito difícil fazer jornalismo", disse Dahbar à LJR. No entanto, o jornalista acredita na geração de ajuda. "Esta nova geração de jornalistas está na linha de frente, trabalhando... Eles estão fazendo jornalismo com as unhas e eu aprecio muito isso." 

 

Jornalismo no mundo literário

 

Hoje, a Dahbar é totalmente dedicada à Editora Dahbar. A editora independente dá ênfase a trabalhos jornalísticos, sejam eles ensaios, reportagens ou memórias políticas.  

A equipe já imprimiu 150 livros, até o início de novembro. Eles também organizam clubes do livro nos quais os próprios autores vêm discutir o livro com o clube. Ajudar a comunidade é uma parte importante da missão da empresa. Seu site mantém seus valores de representação do jornalismo para entender os problemas sociais que afetam a Venezuela.  

"Valorizo ​​o jornalismo bem escrito, o jornalístico literário. Aquele que encontra sua natureza e forma no mundo literário sem precisar ser literatura. Tem a missão de narrar. Somos uma editora  cada vez mais influenciada pelo trabalho jornalístico," disse Dahbar. “Acreditamos no jornalismo que tem ambição de livro. Um jornalismo que não se empolga em contar a história de um dia em um artigo, mas em dez capítulos com uma história e muita informação. Isso decorre da minha paixão por jornalismo, dados e histórias."

*Esta matéria foi produzida como um trabalho para a aula “Reporting Latin America”, na Escola de Jornalismo e Mídia da Universidade do Texas em Austin.

Ignacio Perez nasceu em Houston, Texas, de pais venezuelanos. Ele estuda Jornalismo e está cursando Administração.

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