Políticos adoram falar, mas, fora do período eleitoral - se você tiver sorte - como as pessoas são ouvidas?
Após 20 anos sob o governo de um mesmo partido, os cidadãos de El Salvador elegeram uma outra legenda em 2009, mas houve poucas mudanças. Em vez de esperar pelas próximas eleições para que a voz dos cidadãos seja ouvida por meio dos votos, Orlando Alvarez, diretor criativo da agência Publicidad Comercial Lowe & Partners, quis explorar as possibilidades de uma campanha digital de engajamento. Ele entrou em contato com a publicação online El Faro com a ideia de usar o Twitter para dar voz ao povo de El Salvador.
Com o gerente de inovação do El Faro, Elmer Menjívar, Alvarez e sua agência ajudaram o portal de notícias a desenvolver um projeto que se aproveitou não apenas do poder das redes sociais, do próprio site e das mídias digitais, mas que envolveu as mídias tradicionais e canais de publicidade.
A campanha, que teve as mídias sociais como foco, recebeu milhares de ideias para melhorar o país, engajar os cidadãos na condução do governo.
O projeto mostrou quão poderosos projetos multimídia podem ser em engajar o público e como a força das novas e das mídias tradicionais podem se unir para maximizar os efeitos.
Pensando em como envolver os cidadãos de El Salvador
Tradicionalmente, a mídia tem sido um canal de comunicação de mão única, permitindo que os políticos falem com - ou possivelmente mais precisamente para - os cidadãos.
"Um jornal, neste caso um jornal digital, sempre comunica o que alguém quer dizer para o público', disse Alvarez. A ideia era inverter os papéis e dar à audiência a oportunidade de dar suas ideias para as "pessoas que tradicionalmente apenas falam, neste caso, o governo", acrescentou.
A agência procurou o El Faro por se tratar "do único jornal que poderia fazer algo relevante... por conta de sua reputação. Você não pode fazer uma campanha como essa sem a marca do jornal como apoio".
Do ponto de vista do El Faro, o timing da ideia de Alvarez não poderia ser melhor porque o jornal digital queria descobrir como as mídias sociais se encaixariam em sua marca de jornalismo independente, disse Menjívar. Eles levaram a ideia de Alvarez em frente.
“Há essa tendência global em relação à participação dos cidadãos no jornalismo, e o El Faro não sabia se seria uma boa ideia fazer com que os cidadãos gerassem conteúdo para o jornal, nem como fazê-lo”, acrescentou.
O jornalismo cidadão é uma tendência há anos, e com a ascenção das mídias sociais e dos smartphones, mais imagens, vídeos e conteúdos relacionados a notícias estão disponíveis. Como esse projeto agregaria valor ao que os cidadãos já estavam fazendo? Como esse projeto poderia ser tratado de forma que o El Faro pudesse administrá-lo?
Segundo Alvarez, o El Faro "não queria cometer o erro de colocar os cidadãos no papel dos jornalistas, e em fez disso deixou que eles fossem eles mesmos”. Eles acharam que seria mais produtivo apenas deixar os cidadãos serem ciadadãos e ajudá-los a comunicar suas ideias aos seus líderes.
Moral da história: Não apenas siga a manada digital. Seria fácil demais para o El Faro simplesmetne copiar um dos muitos projetos ao redor do mundo desenvolvidos por meios de comunicação para deixar os cidadãos dizerem o que querem. Em vez de simplesmente copiar uma ideia já existente, eles pensaram criativamente sobre seu objetivo com a participação cidadã no governo e deixou essa ideia guiar seu raciocínio.
*Kevin Anderson é o editor e estrategista digital do projeto Knowledge Bridge ("Ponte Digital") do Media Development Loan Fund. Leia o artigo completo aqui para saber mais sobre como o El Faro usou o humor para alavancar sua campanha e reunir os tuítes das pessoas em um livro best-seller. Veja o vídeo abaixo que promove a campanha do El Faro.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.