O maior jornal independente da Venezuela deixará de circular em papel após o dia 14 de dezembro e voltará sua atenção para o seu site.
"Amanhã [hoje] vamos publicar a última cópia impressa, por enquanto, do El Nacional", disse Miguel Henrique Otero, presidente do jornal, em um vídeo postado no Twitter. "O El Nacional é um grande jornal de referência para a Venezuela e para muitos na América Latina. Temos que ter orgulho por ter conseguido que pessoas extraordinárias participassem do desenvolvimento do jornal há anos, pelos jornalistas terem lutado como até agora e por ser um jornal internacionalmente reconhecido."
El Nacional @ElNacionalWeb es un guerrero nos cierran una puerta y abrimos una ventana pic.twitter.com/CNC84E2D8p
— Miguel H Otero (@miguelhotero) December 13, 2018
"Eles conseguiram silenciar o rádio e a televisão e fizeram desaparecer a mídia impressa independente, transformando-os em plataformas online", disse Otero, segundo o jornal espanhol ABC. “Fomos o último jornal nacional que manteve uma edição impressa.”
Otero disse à ABC que o governo usou várias táticas para pôr fim ao papel. Entre elas estariam a agressão física de grupos civis armados chamados de colectivos, o uso do Judiciário, impostos, campanhas de difamação e mais.
O próprio Otero está exilado desde 2015 devido a um processo por difamação de Diosdado Cabello, ex-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela. O El Nacional republicou um artigo da ABC sobre supostas ligações entre Cabello e o tráfico de drogas.
No entanto, a ABC apontou o fornecimento de papel como a principal questão relacionada ao fechamento.
Para importar papel de jornal, o meio deve solicitar a aprovação de moeda estrangeira a taxas excessivamente altas. Além disso, a estatal Complejo Editorial Alfredo Maneiro (CEAM), que distribui o papel e as chapas necessárias para impressão, tem sido acusada de usar papel de jornal como ferramenta de censura.
Mais de 70 jornais pararam de circular devido à crise dos impressos, segundo a organização de liberdade de expressão Espacio Público.
"Duramos mais que os outros porque havia solidariedade de outros jornais latino-americanos para continuar imprimindo, mas no final não conseguimos resistir", disse Otero à ABC.
El Nacional deixou de circular dois dias da semana em agosto deste ano para otimizar recursos.
No mês passado, a publicação comprou papel “três vezes acima de seu valor no mercado internacional”, de acordo com um comunicado assinado pelo gerente geral Jorge Makriniotis, publicado no site do El Nacional.
O jornal, que está em circulação há 75 anos, disse que agora vai fortalecer seu site.
“Estamos trabalhando em um cronograma de treinamento para todos aqueles que precisam, para que nos próximos meses possamos começar com uma robusta redação digital, uma grande redação que fará do El Nacional uma referência continental em termos de jornalismo”, afirma a declaração de Makriniotis.
O site também já foi bloqueado para leitores na Venezuela em diferentes momentos do ano passado.