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Em meio a mudanças tecnológicas e políticas, workshop do ISOJ levanta a pergunta: 'Como definimos quem são jornalistas hoje?'

  • Por Keaton Peters
  • 15 abril, 2024

Ao redor do mundo, governos vêm buscando políticas públicas para ajudar a financiar o jornalismo. Na busca de políticas eficazes, alguns Estados e países criaram definições do que é o jornalismo para ajudar a determinar quais indivíduos e organizações se qualificam para receber apoio. Mas, na época digital, criar uma definição adequada é algo mais difícil do que se imagina.

"Como definir o que são notícias hoje em dia? Como definir o que é o jornalismo? E como definir os jornalistas?", perguntou Amy Mitchell a uma sala cheia de profissionais de mídia durante um workshop no 25º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ). O workshop foi liderado por Mitchell, diretora executiva fundadora do Center for News, Technology and Innovation (CNTI), um centro de pesquisa independente sem fins lucrativos iniciado em 2023. O centro trabalha com jornalistas, tecnólogos e grupos da sociedade civil com a missão de sustentar um ecossistema jornalístico saudável.

"Para ser capaz de enfrentar as oportunidades e os desafios do ambiente jornalístico digital, todos nós precisamos trabalhar juntos", disse Mitchell.

Durante o almoço do segundo dia do 25º ISOJ, cerca de 25 pessoas participaram do workshop intitulado "Equilibrando políticas de jornalismo e tecnologia com a proteção de uma imprensa livre e o acesso aberto do público às notícias" (“Balancing Journalism and Tech Related Policy with the Safeguarding of a Free Press and the Public’s Open Access to News” , em inglês), para discutir como os jornalistas definem a si próprios e ao trabalho que fazem. O workshop também ofereceu uma prévia do que o CNTI pesquisará neste ano.

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Participantes do 25º ISOJ pegam o almoço em 13 de abril enquanto ouvem uma discussão sobre o cruzamento entre jornalismo e políticas públicas de tecnologia. (Patricia Lim/Centro Knight)

O  Center for News, Technology and Innovation vai conduzir pesquisas para entender não apenas como os jornalistas definem seu trabalho, mas também como o público define o jornalismo. Por meio de uma série de grupos focais e pesquisas que serão realizadas em Austrália, Brasil, África do Sul e Estados Unidos, o centro explorará essas questões, desvendando como a mídia enxerga a si própria em comparação a como os consumidores de notícias percebem a mídia, e também quais são as implicações de políticas públicas a partir das definições variadas.

A pesquisadora sênior do CNTI Connie Moon Sehat, disse que o centro está "atualmente buscando colaborações com organizações de jornalistas" para ajudar a desenvolver e conduzir a pesquisa. Durante o workshop, os participantes concordaram geralmente que um conjunto de padrões éticos diferencia os jornalistas de qualquer pessoa que compartilhe informações com uma audiência, como um apresentador do YouTube ou um blogueiro.

Os jornalistas devem ter "um compromisso com um conjunto de ética e princípios", incluindo "sensibilidade a conflitos de interesse", disse Theresa Lalonde, instrutora da faculdade no Instituto de Tecnologia de British Columbia e ex-repórter e produtora da Canadian Broadcasting Corporation.

Em todo o mundo, órgãos governamentais, incluindo a União Europeia, Austrália e alguns estados dos EUA, tentaram definir o jornalismo como uma questão de política pública. As definições geralmente incluem algum tipo de padrão ético ou missão em prol do interesse público, e podem incluir também critérios relacionados ao tamanho e às fontes de receita das organizações.

"O motivo dessas definições é obter dinheiro", disse Jeff Jarvis, professor na Escola de Jornalismo Craig Newmark da City University de Nova York. "Você tem que ser um jornalista oficial ou uma organização jornalística" para se qualificar, disse Jarvis, acrescentando que "precisamos interrogar isso".

Jarvis participou de um painel no dia anterior ao ISOJ, onde expôs suas razões para se opor à Lei de Preservação do Jornalismo da Califórnia, dizendo que ela beneficiará principalmente grandes empresas de mídia pertencentes a fundos especulativos, deixando de fora pequenos editores independentes e muitas publicações negras e latinas.

O grupo começou uma discussão de casos limítrofes, nos quais indivíduos ou organizações podem estar fazendo jornalismo sem se encaixar facilmente em definições padrão. Mitchell mencionou o exemplo de Hugo Travers, que falou em um painel mais cedo no mesmo dia do ISOJ sobre como o seu trabalho na França, no canal de YouTube Hugo Décrypte, borrava as linhas entre jornalismo e a criação de conteúdo digital.

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Um workshop durante o almoço no 25º ISOJ em 13 de abril apresentou uma discussão sobre a melhor forma de definir o jornalismo em relação às políticas públicas de tecnologia. (Patricia Lim/Centro Knight)

Travers descreveu as dificuldades para obter credenciais de imprensa para a sua equipe de 25 pessoas, porque o canal do YouTube inicialmente não tinha um site. Outro participante no workshop descreveu dificuldades com as quais fotógrafos da Wikipedia se depararam ao tentar obter credenciais de imprensa para tirar fotos em eventos importantes.

"A falta de definição de jornalista em sociedades abertas é uma característica, não um erro", disse Richard Gingras, vice-presidente de notícias do Google.

Com tanta variação no que pode ser considerado jornalismo e mudanças tecnológicas velozes, alguns participantes do workshop do ISOJ se mostraram esperançosos de que o público também comece a mudar as suas perspectivas sobre a mídia.

"A conversa sobre nossa profissão precisa mudar para que as pessoas consigam se engajar conosco de forma mais significativa", disse Lalonde.

O ISOJ é uma conferência global de jornalismo online organizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin.  Em 2024, o evento celebra 25 anos reunindo jornalistas, executivos de mídia e acadêmicos para discutir o impacto da revolução digital no jornalismo.

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