Por Ingrid Bachmann
Apesar da rejeição dos trabalhadores —que entraram na justiça para reverter a decisão — tudo parece indicar que o governo chileno vai se livrar do que resta do jornal La Nación, cuja propriedade é 69% de propriedade do Estado.
Embora a junta de acionistas do periódico tenha postergado a contratação da empresa responsável pela alienação dos bens do jornal — incluindo seus escritórios em um edifício em frente ao La Moneda, a sede do governo— a decisão de vender e efetivamente fechar o veículo continua de pé, explicou a Radio BíoBío.
Fundado em 1917, La Nación é exclusivamente digital desde dezembro de 2010, quando as autoridades cancelaram a edição impressa alegando problemas econômicos.
O sindicato da área jornalística do La Nación pediu em um comunicado para que parassem o processo de venda e que o presidente Sebastián Piñera e a junta de acionistas escutassem a proposta de continuidade para o veículo. “Não concebemos que um jornal de 96 anos, que testemunhou a história do país, seja tratado como uma mesa, uma cadeira, um computador ou um edifício vendidos à melhor oferta", disse o comunicado, citado pelo El Mostrador.
Segundo os empregados do La Nación, este é um jornal sustentável e viável, e que inclusive poderia se autofinanciar. Atualmente, o governo “não tem razões para se livrar do diário (…) e vender só acentua a concentração de meios”, disse Nancy Arancibia, a presidente do sindicato. A imprensa chilena é dominada por dois grandes grupos que controlam a maioria dos jornais nacionais e locais.
Além de argumentos econômicos e políticos, o debate sobre o futuro do La Nación tem evitado a discussão do papel e da necessidade de um jornal público. Apesar de haver uma rede de televisão estatal —Televisión Nacional (TVN), que já foi líder de audiência no país— não existe norma que garanta a pluralidade dos meios impressos ou a importância de contar com um jornal de serviço público. TVN é um canal estatal, mas autônomo, não recebe financiamento público e por lei deve se autofinanciar, em um esforço para garantir a independência, a imparcialidade ea representatividade de sua programação.
Neste sentido, a proposta de financiamento conjunto feita pelo sindicado do La Nación argumenta que sem recursos estatais para um orçamento base, o jornal não pode conservar seu sentido público nem sua independência, mas que hoje o governo tem a oportunidade única para assegurar seu funcionamento e garantir a existência de um veículo plural e transparente semelhante ao TVN.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.