Valorizar o trabalho jornalístico no México, acabar com a impunidade de ataques contra jornalistas e fortalecer a categoria são os objetivos preliminares dos participantes dos grupos de trabalho da iniciativa #AgendaDePeriodistas, que busca criar uma organização e um plano para combater a violência contra a imprensa no país.
Na primeira fase da iniciativa, em seis grupos de trabalho que foram realizados em junho na Cidade do México, mais de 500 participantes fizeram propostas de objetivos a serem seguidos. Desde então, jornalistas organizaram e trabalharam as ideias.
Três objetivos preliminares surgiram dessas sugestões que servirão de eixo para formar a agenda de uma organização futura que procurará apoiar, proteger e fortalecer o sindicato jornalístico no México.
"Esses três objetivos fazem parte de uma tendência e/ou uma preocupação generalizada de quem participou da atividade (as mesas de trabalho)", disse Antonio Martínez durante a apresentação dos objetivos, realizada no dia 10 de agosto na capital mexicana. "Eu acho que agora temos que começar com uma conversa sobre esses três objetivos".
O objetivo de avaliar a importância do trabalho jornalístico inclui divulgar números de ataques à imprensa, disse Martínez. A este respeito, participantes e representantes de organizações de jornalistas de outros países argumentaram que, ao invés de divulgar estatísticas - que variam, de acordo com a organização que as apresenta - o que deve ser feito é sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de estar bem informado.
"Nós temos que dizer às pessoas por que os jornalistas são importantes, porque somos seu instrumento para exercer o direito à informação", disse o jornalista Témoris Grecko. "Não é que somos importantes porque somos jornalistas, mas porque eles nos matam enquanto estamos servindo a sociedade como um instrumento".
Além de se sentirem desprotegidos, os jornalistas no México se sentem abandonados por outros setores da sociedade na luta por defender seu trabalho e garantir a liberdade de expressão, de acordo com outros participantes.
"Existe uma desconexão entre o nosso problema, o nosso drama, e a forma como a sociedade percebe nosso problema", afirmou o jornalista Homero Campa. "A ideia é conseguir esta comunicação com os diferentes setores sociais e alcançar o apoio. Devemos nos vincular com diferentes setores sociais para nos acompanhar neste processo".
Em relação à proposta de acabar com a impunidade, bem como os objetivos específicos de reforma da legislação e fortalecimento dos sistemas de proteção para jornalistas, os participantes concordaram que é um objetivo que não está nas mãos dos jornalistas. Além disso, são metas ambiciosas e pouco realistas.
No entanto, foi proposto abordar esse objetivo com ações ao alcance de jornalistas, como formar um sindicato forte que esteja em posição de negociar e pressionar legisladores, políticos e organizações.
"Teríamos que começar de baixo. Primeiro, alcançar unidade e adicionar jornalistas, conseguindo uma organização forte de jornalistas", afirmou Alfredo Zacarías, diretor do Fórum Argentino de Jornalismo (FOPEA). "Nenhum desses objetivos envolve ações que podem ser feitas se houver 10 ou 20 (jornalistas). Para chegar a este ponto de reformular as agências estaduais, primeiro precisamos ter uma organização forte que busque isso".
Cabe também aos jornalistas trabalharem de suas trincheiras para aumentar o custo político dos assassinatos de jornalistas, bem como pressionar os tribunais para resolver os casos em aberto, disseram os participantes.
"Uma questão contra a impunidade que depende do jornalismo é a investigação de casos, e a publicação de cada caso", disse Maria Teresa Ronderos, diretora da Open Society Foundations for Independent Journalism. "Essa é a tarefa do jornalismo, que é diferente da tarefa da política. Devemos fazer uma lista de prioridades, porque não podemos fazer tudo ao mesmo tempo, e menos ainda quando estamos começando".
De acordo com a jornalista, acabar com a impunidade e reformar as agências estaduais "são coisas que o Estado vai fazer, mas que o jornalismo pode ajudar pressionando, irritando e publicando".
"A agenda jornalística também pode fazer uma lista de coisas que o estado deveria fazer e não está fazendo", disse Ronderos.
Vários dos participantes concordaram que o fortalecimento dos jornalistas como categoria é essencial para alcançar os outros dois objetivos. Além disso, também foi proposto promover questões como treinamento e colaboração com outros setores para atingir as metas.
"A questão jurídica é fundamental para o jornalista, mas é muito mais importante fazer alianças com organizações legais, sem perder a essência do jornalismo", disse Fernando Ramírez, diretor da Fundação para a Liberdade de Imprensa da Colômbia (FLIP). "Trazer pessoas de outros lados nos permite crescer nas coisas que precisamos para trazer casos para a CIDH, que, como jornalistas, não sabemos como fazer".
Após a apresentação desses objetivos preliminares, o próximo passo para a #AgendaDePeriodistas é organizar as propostas e identificar os temas prioritários para depois criar uma agenda definitiva, bem como definir o modelo organizacional que será apresentado em setembro.
"A primeira coisa que precisa ser definida é o que nos interessa com a agenda, que é fundamental", disse Guillermo Osorno, diretor do portal Horizontal e convocador de #AgendaDePeriodistas, em entrevista ao Centro Knight antes do evento do dia 10 de agosto. "Não sei que tipo de organização queremos ser, porque não terminamos de definir a nossa agenda prioritária. Mas tem que haver uma grande adesão nacional. Essas duas coisas são básicas para poder ter peso e capacidade de influenciar em qualquer área com a qual estamos lidando ".
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.