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Jornalista convida leitores a "capturar os corruptos" com jogo inspirado no caso da Lava Jato

A Operação Lava Jato é considerada o maior caso de corrupção na história do Brasil e provocou a indignação de muitos cidadãos. Por esse motivo, o jornalista Luiz André Alzer deu aos brasileiros a oportunidade de "se vingar" e punir políticos e empresários corruptos com um jogo de cartas, inspirado em personagens reais e situações do escândalo.

O jogo, chamado "O Jogo da Lava-Jato" foi impresso na edição de 28 de maio do jornal Extra do Rio de Janeiro, da qual Alzer foi fundador e diretor. O objetivo do jornalista, que acompanhou de perto o caso de corrupção transnacional, era oferecer aos leitores do jornal uma maneira divertida e lúdica de analisar a questão.

"Eu venho acompanhando de perto a cobertura sobre a Lava-Jato e alguns infográficos produzidos por jornais e sites reuniam informações como conexões dos personagens investigados e as denúncias que pesavam sobre eles. Isso, de certa forma, já tinha as características de um jogo. Eu gosto muito de jogos de cartas e de tabuleiros, e como sou jornalista, prefiro trabalhar com o mundo real, até porque não tenho tanto talento para ficção", disse ao Centro Knight Alzer, que já tinha lançado outros jogos de tabuleiro anteriormente: “Desafio Carioca”, sobre temas do Rio de Janeiro, e “O Jogo do Vinho”, sobre o universo vinícola, ambos baseados em  situações reais.

“O Jogo da Lava-Jato” consiste em 72 cartas, divididas em 36 "acusados" (mostrando tipos de personagens supostamente envolvidos no esquema de corrupção) e 36 "Decisões judiciais" (indicando quais ações legais devem ser feitas pelos jogadores). O objetivo do jogo é enviar o maior número de pessoas implicadas "à prisão".

Embora os personagens e as situações mostradas nas cartas sejam inspirados nos fatos que foram revelados desde 2014, quando a investigação começou no Brasil, o jogo não menciona os nomes reais dos acusados ou investigados. Isso foi feito para evitar problemas legais contra Alzer ou o Extra, uma vez que a investigação das autoridades brasileiras ainda está em andamento e nem todos os envolvidos foram julgados, mas também para criar uma dinâmica de um jogo lógico.

"Nenhum personagem reúne informações 100% fiéis aos fatos, já que para o jogo ter uma boa dinâmica, precisei fundir informações de outros personagens. Seria injusto atribuir a um personagem real alguns atributos que não são dele", disse o jornalista.

Assim, em vez de indicar os nomes dos envolvidos, as letras mostram títulos como "Senador", "Ex-deputado" e "Operador", cada um acompanhado das denúncias feitas contra ele, seu grau de envolvimento no caso, outros personagens com quem ele tem uma conexão, e a quantidade de dinheiro envolvida em propinas.

Além disso, cada carta de "Acusado" inclui uma caricatura feita por Renato Machado, que usou tanto em características reais quanto fictícias para criá-las, segundo entrevista ao jornal Extra. Conseqüentemente, o público não terá dificuldade em ver semelhanças físicas com alguns dos envolvidos.

Alzer afirmou que, apenas alguns dias depois do lançamento, recebeu emails de pessoas que acharam o jogo divertido e alguns leitores disseram ao Extra que o produto desencadearia boas discussões sobre o que está acontecendo no país. No entanto, o jornalista é cauteloso. Ele esclarece que o principal objetivo de sua criação é entreter, motivo pelo qual não vê risco de que o tema possa ser banalizado pelo jogo ou que ele possa gerar desinformação entre os leitores.

“O primeiro propósito do jogo é divertir. Ele não é uma reportagem em formato de jogo, embora tenha se inspirado, com o máximo de fidelidade possível, em fatos reais e nas notícias publicadas nos últimos dois anos”, disse Alzer. "Mas o jogo tem um outro propósito: dar a oportunidade de os brasileiros se sentirem vingados com os políticos e outros personagens envolvidos no maior esquema de corrupção da história do Brasil, já que cada jogador é um juiz com o objetivo de prender corruptos".

O jornalista acredita que o Extra era o veículo ideal para lançar o jogo, pois é uma publicação reconhecida por sua criatividade ao lidar com questões sérias e graves da realidade do país. Assim, usar um jogo de cartas para tratar o tema da Lava Jato foi quase uma decisão orgânica.

"Quando pensei no jogo, minha primeira ideia já era transformá-lo num jogo de cartas, o que permitiria ser lançado pelo Extra, que tem justamente essa característica de contar histórias de forma inovadora."

O jogo, que nas próximas semanas pode ser adquirido no site do jornalista como um baralho de cartas, se soma à crescente cobertura da Lava Jato no Brasil e no resto da América Latina. Na opinião de Alzer, a cobertura pode ter um efeito concreto sobre a vida política do gigante sul-americano.

"Isso [a cobertura] tem levado as pessoas a terem um volume de informação muito grande, que permite avaliar e formar uma opinião crítica. Acredito que nunca se debateu política de forma tão aberta no país. Mas que infelizmente tem sido debatida pelo lado da corrupção. De qualquer forma, as revelações que surgem o tempo todo certamente vão ter um poder transformador no país num futuro muito breve."

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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