texas-moody

Jornalistas apoiam diretor do site investigativo peruano IDL-Reporteros, alvo de campanha de desinformação

  • Por Jacqueline Fowks
  • 14 fevereiro, 2024

*Este artigo foi publicado originalmente pelo IDL-Reporteros e é republicado aqui com sua permissão.

Diante da campanha empreendida pelos dois setores políticos mais ligados a casos graves de corrupção na história recente do Peru, em cumplicidade com a máquina midiática de outros investigados, um grupo de personalidades, jornalistas e cidadãos emitiu uma declaração rejeitando o que consideram ser uma nova tentativa de "obstruir o início do julgamento por lavagem de dinheiro e organização criminosa da líder" da Fuerza Popular, Keiko Fujimori.

Gustavo Gorriti

Gustavo Gorriti. (Centro Knight)

Em uma declaração por escrito, os signatários expressaram seu apoio a Gustavo Gorriti, diretor do IDL-Reporteros, que é o ponto focal da campanha de desinformação que, no estilo das operações psicossociais do Fujimontesimo na década de 1990, visa confundir a opinião pública atribuindo a ele supostos poderes sobre o Ministério Público.

"Apoiamos o jornalista investigativo mais antigo do Peru, nos solidarizamos com ele e repudiamos firmemente as ofensas contra ele", diz o documento assinado no dia 9 de fevereiro por um amplo grupo de cidadãos. O texto foi uma resposta à escalada de ataques de políticos sob investigação por corrupção ou lavagem de dinheiro, como a líder da Fuerza Popular, Keiko Fujimori; o ex-congressista do APRA e advogado de Patricia Benavides, Jorge del Castillo; e o líder da Renovación Popular, Rafael López Aliaga, atual prefeito de Lima.

Os dois últimos, assim como Keiko Fujimori, estão sendo investigados por lavagem de dinheiro. Del Castillo está sendo investigado pela Equipe Especial da Lava Jato pelas contribuições da Odebrecht à campanha presidencial de Alan García em 2006. López Aliaga está sendo investigado por supostamente fazer parte de uma organização criminosa envolvida em lavagem de dinheiro.

A lista de apoiadores inclui as assinaturas de 80 jornalistas e fotógrafos atuantes e é encabeçada pelo proeminente jornalista investigativo do jornal La República, Edmundo Cruz; a colunista e advogada Rosa María Palacios; o diretor para a América Latina da organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras, Artur Romeu; e o jornalista e escritor Renato Cisneros.

Jornalistas do diário La República e seu editor, Gustavo Mohme, e de OjoPúblico, Epicentro, o semanário Hildebrandt en sus trece, Salud con Lupa, El Búho (Arequipa), Convoca.pe, Infopaís (Ayacucho), entre outros, também aderiram ao comunicado. O comunicado também foi assinado por Zuliana Lainez, secretária geral da Associação Nacional de Jornalistas e vice-presidente da Federação Internacional de Jornalistas.

A declaração se posiciona especificamente sobre a maquinaria dos operadores de mídia utilizada como parte da operação de desinformação, especialmente por meio do Willax, o canal de televisão do empresário Erasmo Wong, investigado por lavagem de dinheiro. Sua gestão de interesses foi documentada pelo IDL-Reporteros em diferentes ocasiões, como no conhecido caso das 'Brujas de Cachiche', que revelou os esforços para organizar uma operação de despejo ilegal em seu favor na usina de açúcar Andahuasi.

"Como em infusões anteriores transmitidas por esse canal, os apresentadores dos programas e seus convidados exigiram que o Ministério Público investigasse o jornalista [Gorriti] e atribuíram a ele um suposto poder nesse órgão estatal. Desde 2018, o diretor da IDL-Reporteros tem enfrentado agressões contínuas de um pequeno número de meios de desinformação, políticos ligados a casos de corrupção e lavagem de dinheiro e vândalos de ultradireita ligados a líderes da Fuerza Popular e da Renovación Popular que estão sob investigação do Ministério Público", diz o comunicado.

A nova estratégia psicossocial começou esta semana, quando Willax transmitiu partes selecionadas – e ocultou outras – da declaração do ex-assessor da promotora suspensa Patricia Benavides, Jaime Villanueva, ao promotor Reynaldo Abia, que pertence ao gabinete do promotor supremo que investiga Benavides.

Nessa declaração, misturada com afirmações sobre diferentes personagens, o ex-funcionário do Ministério Público deu informações falsas sobre Gustavo Gorriti em relação aos dois procuradores mais notórios da Equipe Especial da Lava Jato no Peru. Por exemplo, ele sugere que um promotor deu informações importantes ao jornalista em troca de uma suposta contrapartida.

A declaração em solidariedade a Gorriti destaca que, em 2011, a IDL-Reporteros começou a fazer reportagens sobre as atividades irregulares da construtora brasileira Odebrecht no Peru; que, em 2014, denunciou o vínculo com a Odebrecht do secretário da presidência no segundo governo de García, e que também revelou os esquemas de corrupção dessa transnacional articulados com o poder político em outros países latino-americanos.

"O IDL-Reporteros obteve documentação sobre as atividades da Odebrecht com Keiko Fujimori e Alan García por causa de sua extensa e diligente investigação do caso Lava Jato desde 2015, por meio de alianças com jornalistas latino-americanos e fontes de informação em vários países, não apenas no Brasil. Por exemplo, em junho de 2017, o IDL-Reporteros publicou o registro do diário de Marcelo Odebrecht sobre o 'aumento de Keiko 500' (da campanha eleitoral de 2011), antes que esse documento chegasse por meio de cooperação internacional ao escritório da Equipe de Procuradores Especiais da Lava Jato", explica o comunicado.

Durante 2023, o canal de TV de Wong tentou derrubar o diretor do IDL-Reporteros por meio de operações de desinformação, mas elas foram "grosseiras" e prontamente desmentidas, lembra o comunicado.

Além do apoio de jornalistas de diferentes mídias e representantes de sindicatos de imprensa, o documento em solidariedade a Gorriti recebeu mais de 110 endossos de organizações da sociedade civil e acadêmicos.

No topo da lista estão o historiador José Carlos Agüero, o historiador e sociólogo Nelson Manrique, o ex-procurador supremo Avelino Guillén, o cartunista Juan Acevedo, a advogada de direitos humanos Gloria Cano e a advogada ambientalista e ex-premiê Mirtha Vásquez.

Outros signatários incluem os historiadores Cecilia Méndez e José Luis Renique; o internacionalista Farid Kahhat; o economista Óscar Ugarteche; o ex-presidente da Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR), Salomón Lerner; a secretária executiva da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, Jennie Dador; a diretora executiva do Promsex, Susana Chávez; o advogado e ex-promotor anticorrupção Ronald Gamarra; e a diretora executiva do Promsex, Susana Chávez; a secretária executiva da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, Jennie Dador; a diretora executiva da Promsex, Susana Chávez; o advogado e ex-promotor anticorrupção Ronald Gamarra e o antropólogo de Ayacucho José Coronel.

Também assinaram o endosso os ex-comissários da CVR Rolando Ames e Sofía Macher; o economista e professor universitário Pedro Francke; o pesquisador e ex-ministro José de Echave; as professoras universitárias e ativistas feministas María Emma Mannarelli, Rocío Silva Santisteban e Victoria Guerrero.

Os romancistas Rafael Dumett, Santiago Roncagliolo e Peter Elmore acrescentaram seus nomes, assim como o diretor de Yuyachkani, Miguel Rubio; os dramaturgos Celeste Viale e Mateo Chiarella, e a Red Nacional de Trabajadores de las Artes y las Culturas-Lima. Cerca de 250 outros cidadãos assinaram o comunicado em sua capacidade individual.

Os 475 signatários afirmam que "apoiar a carreira de Gorriti e o meio de comunicação que ele dirige significa afirmar os princípios anticorrupção que devem prevalecer em um contexto tão crítico no Peru, no qual não há mais contrapesos ou instituições suficientes para defender a legalidade e o Estado de direito".

Entre a noite de sábado, 10, e a segunda-feira, 12, outros jornalistas peruanos, como Carlos Chunga, Gaby García, Pamela Huerta, Yvette Sierra, Ramiro Escobar, Amanda Meza e Melissa Goytizolo e a mídia digital independente Huanca York Times, assinaram a declaração. Os antropólogos Carmen Ilizarbe e María Eugenia Ulfe, o historiador Paulo Drinot, o internacionalista Óscar Vidarte e o jurista e ex-promotor público Luis Alberto Salgado também assinaram. Outros novos signatários incluem Roberto Pérez Rocha, diretor da Conferência Internacional Anticorrupção anual da Transparência Internacional, e Michael Shifter, fundador e ex-presidente do Diálogo Interamericano.

Além disso, jornalistas investigativos de pelo menos dez países latino-americanos e líderes de redes internacionais de jornalismo especializado rejeitaram a campanha de desinformação e ataques contra o diretor do IDL-Reporteros, Gustavo Gorriti, chamando-a de um ataque à liberdade de expressão e um risco à democracia. Além de assinarem um manifesto de solidariedade, destacaram a contribuição de Gorriti para o combate à corrupção na região, com suas investigações e como referência para várias gerações de jornalistas.

Traduzido por Carolina de Assis
Regras para republicação

Artigos Recentes