A mídia independente na Nicarágua precisa de recursos técnicos, um fórum internacional e maior visibilidade na imprensa internacional para garantir a continuidade de seu trabalho e atrair a atenção do mundo para a situação crítica que os jornalistas estão vivendo no país.
Essas foram as idéias dos participantes do seminário online "Jornalismo Nicaraguense frente à Repressão", organizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), no qual participaram a ativista Tanya Amador; o diretor da emissora Radio Darío, Aníbal Toruño; e Horacio Ruiz e Ricardo Trotti, representantes do SIP.
O painel online foi organizado como resultado da recente escalada no nível de repressão e hostilidade contra a mídia independente por parte do regime do presidente Daniel Ortega, com o fim de propor possíveis soluções para a situação da liberdade de expressão.
Tanya Amador e Aníbal Toruño falam sobre os perigos que a imprensa enfrenta na Nicarágua. (Screenshot)
Amador disse que é necessário que a mídia fora da Nicarágua dê mais espaço à crise do país e proponha o fortalecimento do vínculo entre cidadãos e jornalistas nicaraguenses com a mídia de outros países para compartilhar informações sobre o que está acontecendo no país da América Central.
"Devemos lembrá-los de que já tem um (jornalista) morto na Nicarágua. Temos que subir o tom, não podemos permanecer calmos no que estamos falando", disse Amador durante o webinar. "Nós realmente temos que elevar o tom para um tom de resgate. Você tem que repetir isso na frente da mídia internacional para que eles entendam o nível de repressão".
O ativista, fundador da organização humanitária Corner of Love, destacou que é necessário criar um plano para fornecer à mídia independente equipamentos como telefones celulares, computadores e outros dispositivos essenciais para realizar seu trabalho. De acordo com reportagens da imprensa, as autoridades frequentemente apreendem esses dispositivos quando prendem cidadãos ou jornalistas, ou quando invadem meios de comunicação, como aconteceu com a Rádio Darío em 3 de dezembro, quando um grupo comandado pelo chefe da polícia da cidade de León irrompeu na emissora. Quatro funcionários foram presos e equipamentos eletrônicos foram confiscados, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, por sua sigla em inglês). Parte da estação já havia sido incendiada por multidões pró-governo em abril, e a equipe teve que se mudar para outro prédio, acrescentou o CPJ.
Amador disse que a visibilidade da crise nicaraguense em outros países também foi afetada porque diminuiu a participação de cidadãos que anteriormente iam aos protestos e documentavam os abusos e os postavam na Internet.
"Essa participação fez todas aquelas marchas serem bem sucedidas. Agora a repressão é tão alta que as pessoas neste momento não estão participando como antes", disse o ativista. "Temos que ser criativos em como podemos ajudá-los a compartilhar informações com os meios (internacionais)".
Por sua parte, Toruño, que ficou exilado por mais de dois meses em decorrência dos ataques à Rádio Darío, que, segundo ele, continuam impunes, sugeriu a ideia de criar uma plataforma de alerta para denunciar casos de violência, assédio ou repressão contra os meios de comunicação, em seja possível guardar todo o material de jornalistas e cidadãos que documentam os abusos.
"O mundo sempre reage relativamente devagar em relação aos eventos que estão acontecendo e eu acho que é uma dinâmica que você tem que tentar modificar", disse Toruño. "O que você precisa fazer provavelmente seria criar uma plataforma de socorro com tudo o que está acontecendo no nível da imprensa, rádio, TV e todos os meios da internet, de forma que possamos postar rápida e eficientemente o que está acontecendo".
Outra das ideias do webinar foi organizar um fórum internacional em alguma cidade dos Estados Unidos com representantes da mídia, jornalistas e membros de organizações internacionais para encontrar possíveis soluções e apoio à imprensa nicaraguense.
Toruño foi contundente ao dizer que existe uma possibilidade real de que o governo de Daniel Ortega silencie completamente a mídia independente, o que fica evidente com ataques cada vez mais radicais.
"Precisamos garantir que não fiquemos sem meios de comunicação", disse ele. "Poderíamos estar enfrentando a possibilidade de ficar sem imprensa, e isso requer uma ação urgente para ver a alternativa de ter meios de comunicação que não podem ser silenciados ou fechados por Daniel Ortega."
A Fundação Violeta B. Chamorro documentou 77 violações da liberdade de expressão entre 20 de outubro e 3 de dezembro na Nicarágua, incluindo o ataque à Rádio Darío e a série de denúncias judiciais contra o diretor do 100% Noticias, Miguel Mora.
"Vimos e sentimos em nossas próprias mãos o que está acontecendo com o jornalismo independente na Nicarágua, a maneira pela qual ele é perseguido, assediado, insultado; as formas pelas quais a liberdade de imprensa está sendo atacada", disse Ricardo Trotti, diretor executivo da SIP. "Isso não é novidade, mas o problema da violência aumentou desde abril, desde os famosos protestos públicos."