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Meios das Américas unem esforços para cobrir crise de famílias migrantes separadas na fronteira entre México e EUA

Na Guatemala, o site El Periódico reportou recentemente que cinco crianças guatemaltecas, afetadas pela política de tolerância zero imposta pela atual administração dos EUA no início de maio às famílias de migrantes sem documentos, foram reunidas com seus pais em seu país de origem.

O jornalista Ramón Ignacio Zamora, do El Periódico, disse em uma entrevista ao Centro Knight que até agora eles identificaram 11 casos de crianças guatemaltecas que foram separadas de seus pais pelas autoridades de imigração dos Estados Unidos na fronteira mexicana. Esses casos foram encontrados em uma plataforma de dados criada pela organização jornalística norte-americana ProPublica no fim de junho.

A ProPublica e seus aliados na América Latina e nos EUA pediram ao público que enviasse informações sobre migrantes detidos por meio de formulários online que compõem esse banco de dados e depois são compartilhados com os meios participantes.

"Nossa equipe de pesquisa está procurando as pessoas que enviaram os relatos [por meio  dos formulários] para entrevistá-los e saber mais sobre seus casos. É provável que nas próximas semanas publicaremos mais sobre isso", disse Zamora.

Atualmente, há dez redações em quatro países que realizam esse tipo de cobertura especial como parte de um esforço jornalístico colaborativo promovido pela ProPublica. Além de El Periódico, os meios latino-americanos convocados para este projeto são Animal Político, no México, Plaza Pública, na Guatemala, e El Faro, em El Salvador.

Desde o início “falamos sobre como era importante entrar em contato com a mídia na América Latina, especialmente na América Central e no México, porque as famílias que estão passando por essa situação e que estavam sendo mais afetadas pela política de tolerância zero [dos EUA] são da América Central”, María Sánchez Diez, uma jornalista espanhola da ProPublica, disse ao Centro Knight.

Sánchez Diez, que coordena com os aliados da mídia latino-americana no projeto, também explicou que, com a colaboração de outros meios, buscou ampliar a mensagem e abrir todos os canais de comunicação possíveis com diversos públicos da América Central e do México para ajudar essas famílias.

No final de junho, quando a ProPublica desenvolveu um mapa e banco de dados de centros de detenção nos Estados Unidos para onde as crianças migrantes teriam sido transferidas, também criou uma plataforma de dados acessível a todos os meios participantes. A plataforma é alimentada pelas informações fornecidas pelos leitores através de dois tipos de formulários, disponíveis em inglês e espanhol.

Sé algo sobre un centro” (Sei algo sobre um centro) e “Conozco a un niño en un centro de detención o refugio” (“Conheço uma criança em um centro de detenção ou refúgio”) são as perguntas que os dois formulários fazem e as respostas, enviadas pelos leitores, são tratadas de forma confidencial pela ProPublica. Essa informação é adicionada à plataforma, que é mostrada apenas aos aliados na forma de "dicas" ou pistas. Os meios parceiros recebem apenas as informações de contato fornecidas pelos entrevistados depois de se comprometer com a plataforma em reportar e se dedicar ao caso.

"O que não queremos é que uma mãe que foi separada de seu filho seja procurada por 50 jornalistas, portanto, para proteger as fontes e não sobrecarregá-las, criamos este sistema através do qual o primeiro [meio parceiro] que vê uma dica que lhe interessa, escreve para nós, nos pede as informações de contato e nós fornecemos", explicou Sánchez Diez.

Nos Estados Unidos, os meios parceiros são BuzzFeed News, Frontline, The Intercept, Texas Tribune e Univisión, um dos canais em espanhol mais vistos pelas comunidades hispânicas nos Estados Unidos.

Na maioria das vezes, cada meio de comunicação aliado tem uma pessoa designada para o projeto. Na Univisión, o chefe de projetos especiais e um repórter investigativo estão encarregados de revisar as dicas publicadas na plataforma e acompanhar o caso que querem reportar.

Em 16 de julho, a Univisión lançou o espacial “Liberados y Reunidos” (Liberados e Reunidos) sobre as histórias de quatro famílias que foram separadas. O especial foi publicado simultaneamente por Animal Político e El Faro.

Em menos de uma semana das matérias publicadas, as famílias foram reunidas pelas autoridades, disse Selymar Colón, gerente editorial e diretor sênior de notícias da Univisión, ao Centro Knight. Tanto Colón quanto Sánchez Diez disseram que essas famílias foram reunidas logo após a publicação, embora não pudessem assegurar que isso aconteceu como resultado do impacto social das reportagens.

"Para nós este projeto está no centro da missão da Univisión: fazer jornalismo colaborativo e jornalismo de serviço público. Esperamos que com essas histórias possamos também ter mais sugestões do público, sobre casos que nós podemos reportar", disse ela.

Além da plataforma, a ProPublica também criou um modelo de mensagens para divulgar e promover continuamente as histórias do projeto nas redes sociais, a fim de facilitar a comunicação com os meios aliados. "Fizemos alguns cartões no Twitter e alguma cópia sugerida caso eles queiram usá-los para manter o projeto vivo em suas redes, de forma contínua e para que as pessoas ainda tenham acesso aos formulários", disse Sánchez Diez.

Nos próximos meses, os meios participantes neste esforço colaborativo vão continuar publicando e divulgando histórias de famílias de migrantes afetadas. O projeto permanecerá aberto por um período indefinido de tempo, segundo Sánchez Diez, enquanto a plataforma continua a ser alimentada com as informações fornecidas pelo público e aqueles que querem contribuir com dados importantes que ajudem a localizar as quase 600 crianças que ainda não estão reunidas com seus pais.

Em países como a Guatemala, onde pessoas com poucos recursos quase não têm acesso à internet ou a um computador, de acordo com Zamora, o El Periódico pretende designar uma pessoa que possa receber por telefone qualquer informação sobre crianças guatemaltecas ainda detidas nos Estados Unidos. Desta forma, o jornalista continuou, eles poderão inserir mais dados nos fomulários da ProPublica para que a reunião de mais famílias seja possível.

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