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Meios independentes do Triângulo Norte se fortalecem, mas fazem jornalismo de dados com recursos limitados

Corrupção, desigualdade e violência são algumas das características comuns de Guatemala, El Salvador e Honduras, países da região conhecida como Triângulo Norte.

No entanto, nos últimos anos, o jornalismo independente na região foi reforçado por várias iniciativas de treinamento em jornalismo de dados e monitoramento que foram coordenados e realizados por organizações como a Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano (FNPI, na sigla em espanhol) e organizações internacionais sem fins lucrativos, como a Internews.

Como parte do painel "Jornalismo independente no Triângulo Norte" do 12o Colóquio Ibero-americano de Jornalismo Digital, os jornalistas da região apresentaram suas experiências com investigações jornalísticas que desenvolveram a partir do jornalismo de dados e aplicando o jornalismo de soluções. A conferência foi realizada em 14 de abril na Escola de Jornalismo da Universidade do Texas em Austin e o painel foi moderado por Alejandra Cruz, diretora do Curso de Novo Jornalismo da FNPI.

Para identificar fenômenos regionais que afetam Guatemala, Honduras e El Salvador, as jornalistas guatemaltecas Ximena Villagran e Elsa Cabria fundaram há três anos a produtora de jornalismo de dados, narrativo, multimídia e agora jornalismo de soluções El Intercambio, sediado na Guatemala. Elas produzem conteúdo jornalístico multiplataforma para meios de comunicação.

Seus primeiros aliados são as fundações e organizações que as financiam, como a Fundação Ford, Hivos, Oxfam, Seattle International Foundation, entre outros, disse Villagrán. E seus segundos aliados, continuou ela, são os grandes e pequenos meios de comunicação que difundem suas reportagens, que eles adaptam a qualquer formato que seja necessário para que sejam publicados e alcancem um público mais amplo.

Elas perceberam no processo que todos os assuntos investigados são afetados pelas políticas públicas implementadas pelos governos da região. "Acreditamos que devemos não apenas contar a história de uma pessoa e colocar um contexto de dados, mas queremos saber quem é responsável pelo que está acontecendo", e propor uma solução usando fontes e leis que a respaldem, acrescentou.

Para suas reportagens, explicou Villagrán, elas constantemente pedem informações aos governos e criam bases de dados que depois analisam para decidir o que trabalhar. Seus eixos temáticos são violência e gangues, mulheres e prisões, educação, infância e desigualdade, explicou Villagrán.

Especificamente em Honduras, o pedido de informação pública às instituições do Estado não é algo simples. "Não tenho acesso a certos documentos para minhas reportagens investigativas", disse a jornalista hondurenha Helen Montoya, que trabalha para a revista digital Expediente Público.

Montoya disse que a 'Lei dos Segredos Oficiais' realmente dificulta o acesso de jornalistas em Honduras à informação estatal.

Quanto a El Salvador, a jornalista Karen Fernández apresentou a revista semanal televisiva Focos TV. Este projeto inclui entrevistas aprofundadas sobre questões políticas e econômicas, arte, assuntos internacionais e cultura local. Focos começou com edições semanais em formato de TV, mas agora levam seus conteúdos para as redes sociais para alcançar um público mais amplo.

A jornalista comentou que, apesar dos avanços do jornalismo em El Salvador, os meios independentes continuam tendo dificuldades em acessar fontes de financiamento sustentáveis. Muitas vezes essa situação faz com que os jornalistas não recebam o suficiente por seu trabalho.

Ela também explicou que em seu país as mulheres jornalistas continuam sendo menosprezadas e sofrem assédio constante no trabalho e por parte do público. Ela citou um estudo realizado pela Internews e pela Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos de El Salvador segundo o qual 100% das jornalistas participantes disseram sofrer assédio em seu trabalho.

Finalmente Joseph Dickens, da Internews, uma organização internacional que tem um programa de treinamento e monitoramento para a América Latina e o Caribe que visa empoderar jornalistas, disse que, como organização, podem ver o progresso que fizeram jornalistas independentes do Triângulo Norte.

De acordo com Dickens, a Internews capacitou 141 jornalistas na região nos últimos três anos. Essas capacitações foram feitas após avaliar o marco legal da liberdade de expressão em cada um desses países. Eles também investigaram com quais mecanismos de proteção a jornalistas e de acesso à informação contavam e fizeram uma análise de gênero para conhecer a situação das mulheres jornalistas.

Tudo isso, segundo Dickens, com o objetivo de saber quais limitações enfrentam os jornalistas do Triângulo Norte para promover, dessa forma, uma maior colaboração entre as organizações jornalísticas e com as organizações da sociedade civil.

"Nosso foco tem sido empoderar jornalistas com essas habilidades para ter um jornalismo de maior qualidade que os ajude a ser mais sustentável".

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