Enquanto jornalistas latino-americanos se preparam para cobrir as campanhas e as eleições em toda a região nos próximos meses, eles estão enfrentando candidatos e membros do público hostis à profissão, incluindo alguns que insistem em usar ataques físicos e verbais para interferir no trabalho destes profissionais.
Então ao mesmo tempo em que repórteres, fotógrafos e editores vão aos centros de votações e aos comícios na cobertura da temporada eleitoral, organizações de liberdade de expressão e defensores do jornalismo estão monitorando ataques à imprensa e criando iniciativas para promover a responsabilização dos candidatos por suas declarações.
Desde o começo de 2018, na Colômbia, os candidatos endureceram seus discursos e campanhas políticas contra a imprensa no período que antecede as eleições presidenciais e legislativas em 27 de maio, segundo a Fundação pela Liberdade de Imprensa (FLIP) da Colômbia.
Os candidatos "iniciaram uma série de comentários ou lançaram declarações que poderiam passar facilmente de críticas válidas a violações do dever de funcionários públicos de manter um discurso favorável à liberdade de expressão", Sebastián Salamanca, advogado e coordenador da área de atenção e defesa dos jornalistas da FLIP, disse ao Centro Knight. "Então pensamos que precisávamos responder a isso em diferentes níveis", explicou.
Nesse sentido, no início deste ano a FLIP lançou sua campanha #VotoInformado nas redes sociais, principalmente Twitter, com o objetivo de promover um discurso articulado e respeitoso por parte de candidatos, jornalistas e cidadãos em defesa da liberdade de expressão no contexto das eleições.
"O que percebemos acima de tudo em termos de eleições para o Congresso é que alguns candidatos começaram a atacar os meios que os criticavam como uma estratégia de campanha. Assumimos o trabalho de documentar cada uma dessas declarações feitas por políticos ou candidatos disputando o voto popular", disse Salamanca.
Como parte da campanha #VotoInformado, disse Salamanca, a FLIP enviou cartas aos candidatos que fizeram declarações falsas ou incitaram a violência contra qualquer meio de comunicação ou jornalista em particular, para explicar por que o que eles disseram violava os padrões internacionais de liberdade de expressão e como era importante retificar ou esclarecer publicamente o que foi dito.
"A parte do trabalho oculto da campanha é falar diretamente com os candidatos, ou enviar cartas ou trocar comunicações com seus gerentes de comunidade" para fazê-los moderar seus discursos, disse Salamanca. Durante a campanha pelas eleições legislativas, #VotoInformado conseguiu diminuir o tom do que foi dito pelos candidatos nas redes sociais, o que destacam como um resultado positivo de sua campanha, disse Salamanca.
Desde o início de fevereiro até o início de maio, a FLIP documentou 18 ataques de candidatos presidenciais contra a imprensa. Eles o mediram com um índice de censura chamado "censurómetro", que faz parte de sua campanha para o voto informado.
A maioria desses ataques contra a imprensa foi protagonizada pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. Também por meio de sua campanha, a FLIP pediu uma retificação pública no Twitter ao candidato de direita Alejandro Ordóñez, que acusou o jornalista Ramiro Bejarano de ser membro das FARC depois que ele publicou uma coluna crítica sobre o candidato.
A intenção da campanha é aumentar o custo político dos comentários de candidatos que buscam atacar a imprensa recorrendo à desinformação. "Nos casos mais graves, apresentamos queixas formais ante a Procuradoria solicitando retificações públicas de suas falsas alegações. É um mecanismo democrático, trata-se de esclarecer as acusações quando elas são falsas", disse Salamanca.
No caso do México, cujas eleições presidenciais ocorrerão em 1º de julho deste ano, a campanha eleitoral já começou a esquentar.
O capítulo mexicano da Artigo 19, organização internacional pela liberdade de expressão, está atualmente participando de dois projetos que buscam promover um ambiente de maior transparência entre os candidatos e a opinião pública durante os meses da campanha eleitoral.
Uma é a #MéxicoSinMiedo2018, realizada em conjunto com a Anistia Internacional. Trata-se de uma plataforma de monitoramento de mensagens postadas no Twitter pelos candidatos em relação a quatro temas de direitos humanos: violência contra a imprensa, violência de gênero, desaparecimento forçado e detenções arbitrárias.
Esta plataforma também busca fomentar a interação entre candidatos e usuários do Twitter em um diálogo que os comprometa publicamente a apresentar propostas concretas que ajudem a resolver os problemas do país, Juan Vázquez ,da Artigo 19 do México, disse ao Centro Knight via email.
Como o México é o país mais perigoso para jornalistas no hemisfério ocidental, a campanha pede propostas de candidatos para que os jornalistas possam “trabalhar sem medo”.
Neste sentido, o segundo projeto do qual a Artigo 19 participa é “Rompe el Miedo” (“Acabe com o medo”), que é realizado em coordenação com as organizações R3D e Data Cívica. A rede já está ativa e sua cobertura será nacional, disse Vázquez.
A rede busca monitorar o processo eleitoral para prevenir agressões e violações dos direitos humanos de jornalistas, ativistas e cidadãos. Seu objetivo é documentar, monitorar e acompanhar os casos de ataques ou ameaças registrados durante as eleições presidenciais e relatá-los às autoridades, conforme explicado pelas organizações participantes em uma coletiva de imprensa realizada em abril deste ano.
Por sua vez, o site de notícias Animal Político lançou seu projeto de verificação de fatos Verificado 2018 em colaboração com mais de 80 meios de comunicação, universidades e organizações da sociedade civil. O objetivo é analisar o discurso em torno da próxima eleição e também treinar jornalistas em novas metodologias e técnicas de jornalismo investigativo para a cobertura eleitoral.
O projeto tem seu próprio site e contas nas redes sociais. Desde seu lançamento, já publicou dezenas de notas com a hashtag #Verificado2018 para indicar que as informações publicadas foram analisadas e classificadas quanto ao seu nível de veracidade.
Em entrevista realizada anteriormente pelo Centro Knight, o diretor geral do Animal Político, Daniel Moreno, disse que o espírito do Verificado 2018 é “servir ao leitor de um formato diferente que consiste em aumentar o custo da mentira, não deixando que a classe política seja capaz de mentir para as pessoas impunemente.”
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.