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Presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves joga duro com a imprensa centro-americana

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  • 17 agosto, 2022
Rodrigo Chaves shaking hands with a supporter

Rodrigo Chaves cumprimentando apoiadores em evento. (Crédito: captura de tela)

Roman Gressier, publicado originalmente em El Faro

"Senhores feudais". "Ratos". "Gente ruim que busca prejudicar este país". Três meses após sua chegada à presidência, o controverso e belicoso Rodrigo Chaves tem alardeado aos costarriquenhos sua hostilidade em relação à imprensa. A esse respeito, mesmo o líder da "Suíça da América Central" não é uma exceção à regra centro-americana. 

A imprensa tem acompanhado de perto os primeiros escândalos da administração, incluindo a disputa pública sobre sua decisão de manter a exigência de vacina contra a COVID-19 e um ciberataque de resgate russo nos servidores do governo que durou semanas e o levou a declarar estado de emergência duas semanas após tomar posse em maio.

A esfera política costarriquenha se irritou com reportagens na imprensa durante a emergência de maio relatando que o chefe de gabinete do presidente disse aos especialistas de imprensa do governo para limitar o acesso à informação pública. "Não veja isso como censura, mas como disciplina extrema", disse ele, segundo um dos principais jornais do país, La Nación. Uma pessoa presente na reunião privada onde a ordem foi dada disse ao jornal que o chefe de gabinete havia chamado a imprensa de "inimiga". O presidente classificou a reportagem como mentira.

Mas um ponto especialmente doloroso para Chaves são as múltiplas alegações de corrupção e má conduta. Em primeiro lugar, há a evidência veiculada em público durante meses de que ele pagou por várias despesas de campanha com fundos paralelos, não passando pelo financiamento legal do partido. Se o Supremo Tribunal Eleitoral o considerar culpado e a Procuradoria Geral decidir acusá-lo, ele poderá mais tarde enfrentar acusações criminais puníveis com até seis anos de prisão.

Em seguida, há afirmações de que, enquanto era ministro das finanças em 2019, Chaves não conseguiu proteger os investidores de um golpe fiscal da empresa de serviços financeiros Grupo Aldesa. Uma vítima do golpe alegou o mesmo de dois de seus predecessores. Ele disse à imprensa no ano passado que as autoridades fiscais não o informaram sobre o caso, tornando-o incapaz de reportá-lo devidamente. Em 23 de junho, um juiz negou as acusações.

Finalmente, há relatos agora sob investigação da Procuradoria Geral de que Chaves negociou a extensão até 2031 dos direitos de operar Puerto Caldera para uma empresa de propriedade do filho de seu gerente de campanha e atual assessor, Calixto Chaves. Em troca, a empresa supostamente prometeu investir para aliviar a superlotação no porto do Pacífico.

Chaves nega fervorosamente qualquer ato ilícito. Ele chamou as investigações de "frívolas e absurdas" e argumenta que em outros países elas constituiriam um "abuso de processo".

"A maioria dos atos de corrupção pública que afetam o público têm sido relatados como resultado de investigações jornalísticas", disse Emma Lizano, ex-presidente da Associação de Jornalistas da Costa Rica, ao El Faro. "Parece que as restrições ao acesso à informação se tornaram uma tendência neste governo, pois ataca os jornalistas e corta deliberadamente o acesso à informação". 

People walking down the street in Costa Rica

Rua na Costa Rica. (Crédito: captura de tela)

Porto seguro?

O novo chefe de Estado direcionou uma ira particular ao maior jornal do país, o histórico La Nación. Em julho, as autoridades suspenderam a licença de funcionamento de um centro de eventos de propriedade da empresa controladora Grupo Nación que financia o jornal, alegadamente por obstruir o tráfego.

Em uma entrevista coletiva, o presidente acusou o jornal e o repórter designado à Casa Presidencial, Juan Diego Córdoba, de "caluniar a pátria" por informar sobre o fechamento do centro de eventos. Córdoba também fez parte da equipe que expôs as evidências do financiamento paralelo da campanha do atual presidente.

"Não se trata aqui de liberdade de expressão. É um pequeno grupo empresarial que pensa que seu nome e ancestralidade lhe dão direito a todos os seus caprichos e desejos", disse Chaves. Isto é semelhante às alegações dos promotores guatemaltecos deste mês de que um novo caso de lavagem de dinheiro contra o veterano jornalista José Rubén Zamora "não teve nada a ver com sua prática de jornalismo".

Chaves acrescentou: "Na Costa Rica ninguém usa uma coroa, especialmente enquanto eu, Rodrigo Chaves, for presidente". A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenou a revogação e os comentários, lembrando suas promessas de campanha de "destruir" La Nación, Canal 7, e outros por reportar alegações de assédio sexual e financiamento ilícito de campanhas.

Rodrigo Chaves hugging a supporter at an event, evening

Rodrigo Chaves abraçando um apoiador. (Crédito: captura de tela)

O presidente também ofereceu algumas palavras para a SIP, acusando o Grupo Nación de "pedir pequenos favores a seus parceiros e amigos na [SIP] para defender seus interesses escusos".

A cientista política costa-riquenha Tatiana Benavides disse ao El Faro que as hostilidades fazem "parte de uma estratégia para desacreditar a imprensa aos olhos do público e retratar o monitoramento e o questionamento como uma campanha contra ele, assim como outros governos com traços populistas na região". Ela acrescentou: "Ele tem uma atitude melhor para com aqueles que não o questionam".

Talvez um paradoxo desta investida seja o fato de que o ex-pouco conhecido Chaves aproveitou o apoio e a imagem pública da ex-jornalista Pilar Cisneros, hoje membro do Legislativo, para construir sua campanha.

"A liberdade de imprensa na Costa Rica está em boa saúde. O governo a defenderá a qualquer custo", disse Chaves em julho em rede nacional na TV enquanto o caso Nación escalava. "Foi fechado um único ponto de venda? Algum jornalista foi preso? A impressão [dos jornais] foi interrompida? Obviamente não".

"A Costa Rica não é a única nação a recorrer a esta tática", escreveu o conselho editorial do La Nación em julho, em referência a Nicarágua, Guatemala e El Salvador. "Ao contrário, o país chegou tarde ao fenômeno impulsionado pelas redes sociais e pelos exércitos de trolls às ordens dos governantes desta região".

É irônico que a Costa Rica continue sendo um paraíso para os jornalistas exilados da Nicarágua de Daniel Ortega. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2018. Este mês, o governo nicaraguense fechou meios de comunicação católicos em Matagalpa. Em julho, toda a equipe do histórico jornal La Prensa fugiu do país, deixando-o sem meios impressos.

Um último à parte: Na quinta-feira, a Costa Rica se uniu ao resto da América Central para aprovar a escolha da Nicarágua para o novo secretário do Sistema de Integração Centro-Americana (SICA). Há um mês, contamos como os líderes regionais têm se aproximado cada vez mais do regime Ortega-Murillo.

Nota do editor de El Faro: Esta newsletter foi atualizada para incluir que, no final de junho, um juiz rejeitou as acusações de descumprimento de dever em um processo de fraude fiscal, apresentado pela empresa financeira Grupo Aldesa contra o Presidente Chaves.

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