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Procuradoria da Colômbia considera "crime de Estado" assassinato de jornalista que aconteceu há 17 anos

Após quase 17 anos, o assassinato do jornalista e humorista colombiano Jaime Garzón foi identificado como crime de Estado pela Procuradoria da Colômbia, pela participação que tiveram membros do Exército e do extinto Departamento de Inteligência (conhecido como DAS), em conjunto com um grupo criminoso.

Embora a conexão de agentes do Estado com o crime esteja sendo investigada há anos, é a primeira vez que o crime é publicamente categorizado desta forma. Em declarações à Notícias

Caracol, o diretor da Procuradoria Nacional Especializada, Iván Lombana, também informou sobre novas linhas de investigação que envolvem outros oficiais.

Lombana assegurou que o general Rito Alejo del Río, o coronel Jorge Eliécer Plazas Acevedo e o subdiretor do Departamento Administrativo de Segurança (DAS), José Miguel Naraváez, planejaram o crime com o falecido líder do grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), Carlos Castano.

Segundo o procurador, Garzón se tornou um personagem “incômodo” para uma parte das forças de segurança e dos paramilitares depois de um suposto acordo entre o jornalista e as guerrilhas colombianas para mediar a liberação de reféns mediante o pagamento de Garzón com uma parte do dinheiro dos sequestros.  Uma versão que é posta em causa, segundo disse Lombana às Noticias Caracol.

De acordo com a investigação, para cometer o crime na cidade de Bogotá foram contratados sicários da organização criminosa de Medellín “La Terraza”, sob o comando do ex-líder paramilitar Diego Fernando Murillo, conhecido como “don Berna”. Ainda que em 2013 a Procuradoria tenha vinculado Murillo ao assassinato do jornalista, a Lei de Justiça e Paz (processo de paz com os paramilitares) e a extradição de Murillo para os Estados Unidos suspenderam a investigação, segundo informou a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP).

A operação do assassinato de Garzón ficou a cargo de três homens e uma mulher que se hospedaram na casa do coronel Plazas Acevedo. O oficial era na época o chefe de inteligência de uma brigada militar de Bogotá, segundo o promotor.

O coronel Plazas também teria dado indicações aos sicários sobre como cometer o homicídio, segundo o jornal El Espectador. De fato, na brigada a que pertencia o coronel foram encontrados recentemente mapas e esboços dos seguimentos que elaboraram para o jornalista, segundo disse Lombana ao Noticias Caracol.

“Isso explica que simplesmente membros das forças de segurança seguiram Jaime Garzón. Foi a informação que apresentaram ao comandante Carlos Castaño que finalmente determinou a decisão de eliminá-lo”, explicou Lombana em suas declarações.

Desde 2014, o coronel Plazas Acevedo está vinculado a várias investigações, incluindo o assassinato de Garzón. Vários ex-paramilitares garantem que foi ele quem coordenou o assassinato, informou o El Espectador.

Em relação ao general Del Río, condenado a 25 anos de prisão pelo assassinato de um fazendeiro no departamento de Chocó, o promotor anunciou que ele será convocado a depor em 14 de Março sobre o assassinato do jornalista.

A ligação tem a ver com indícios que apontam para uma relação com os paramilitares, especificamente com Carlos Castaño, e também porque na época o comandante era o superior direto do coronel Plazas, segundo o Noticias Caracol.

O ex-Diretor Adjunto do DAS, José Miguel Narváez, é considerado quem mais investigou Castaño a cometer o crime, segundo o jornal El Espectador. Narváez, que também foi indiciado por este crime, é apontado como um dos ideólogos da AUC e um dos homens que teria desviado as investigações criminais de Garzón, o jornal acrescentou.

Um desses desvios foi a captura de dois outros membros da La Terraza acusados ​​pelo DAS de serem os sicários no caso Garzón. Cinco anos mais tarde, estes homens foram libertados por falta de provas, informou o El Espectador.

Nesse sentido, foi criada outra linha de investigações em que o general da Polícia Maurício Santoyo, ex-chefe de segurança do ex-presidente Álvaro Uribe, não só teria encoberto a investigação, mas também teria sequestrado dois dos verdadeiros assassinos para entregá-los a “Don Berna”, que teria executado os sicários, disse o Notícias Caracol.

Atualmente, o general Santoyo está nos Estados Unidos cumprindo uma pena de 13 anos por suas ligações com outro gangue criminoso no país, disse o El Espectador.

"Achamos que é positivo que a Promotoria entenda que se trata de um crime de Estado. No entanto, nos parece insuficiente, considerando que passamos vários anos pedindo para que este declarado um crime contra a humanidade. É claro que este assassinato ocorreu em um contexto de perseguição por representantes dos Direitos Humanos", disse o advogado que representa a família de Semana.com.

O crime que matou sorrisos na Colômbia

Jaime Garzón foi morto na madrugada de 13 de agosto de 1999, quando o jornalista se dirigia a emissora Radionet de Bogotá. Ele era um dos homens mais queridos e influentes no país; e tornou-se referência nacional graças aos seus programas humorísticos e sua irreverência, conforme publicou a revista Semana.

Ele também era famoso pelos diferentes personagens que caracterizavam seu humor político. Seu último personagem foi um engraxate que entrevistava personagens mais reconhecidos no país. Garzón também foi conhecido por seu trabalho pela paz na Colômbia.

Sua morte foi o início de "uma das mais violentas e difíceis épocas para a imprensa colombiana", disse a FLIP. Entre 1999 e 2002, 32 jornalistas foram mortos, 13 destes casos pelas mãos de grupos paramilitares.

Durante todos estes anos, apenas o ex-chefe paramilitar Carlos Castaño foi condenado em 2004, quando já estava morto, adicionou a FLIP.

Familiares de Garzón, advogados e organizações como a FLIP buscam que o assassinato seja considerado um crime contra a humanidade. O principal objetivo é o evitar a prescrição do caso, o que pode significar deixar o crime impune. A legislação colombiana determina que após 20 anos da prática de um crime, ele prescreve, isto é, o tempo está se esgotando para encontrar os culpados do caso.

Em Junho de 2015, a Procuradoria reiterou que o assassinato de Garzón não poderia ser declarado um crime contra a humanidade.

Por investigar o crime de Garzón, a também jornalista Claudia Julieta Duque tem sido vítima de ameaças, intimidação e perseguição. Atualmente ex-funcionários da extinta DAS são acusados de "tortura psicológica” contra Duque.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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