O aumento do número de pessoas que evitam conteúdos jornalísticos é uma tendência global e ainda mais acentuada em países da América Latina.
É o que mostra o Digital News Report do Instituto Reuters 2022, publicado nesta quarta-feira, 15 de junho.
O Brasil é onde a situação é pior. 54% dos brasileiros evitam as notícias, bem acima da média mundial de 38%. Há cinco anos, 27% dos brasileiros preferiam não consumir o noticiário, um pouco abaixo da média mundial de 29%.
Na Argentina, a situação também piorou: 46% dizem hoje evitar conteúdos jornalísticos contra 31% em 2017. Os outros países da região pesquisados foram Chile (38%), Colômbia (38%), México (37%) e Peru (37%).
Os motivos para a aversão ao noticiário são diversos: 43% reclamam da repetitividade, especialmente na cobertura de política e da pandemia de COVID-19. 29% se dizem desgastados pelas notícias, enquanto outros 29% não confiam no noticiário.
“Os dados indicam uma frustração com a política e uma espécie de polarização em vários países, sobretudo em Argentina, Brasil e México. Isso geralmente está ligado a uma questão de baixa confiança. As pessoas não concordam com algo em uma notícia porque estão muito enviesadas para um lado ou para o outro”, disse à Latam Journalism Review (LJR) o autor do Digital News Report, Nic Newman.
Cerca de um terço (36%) diz que as notícias pioram o seu humor. Dificuldade de entendimento é citada por 8% dos entrevistados para se afastar das notícias. Isso é ainda mais verdade entre o público com menos de 35 anos. “As pessoas estão procurando uma espécie de escapismo e, no digital, há sempre algo mais divertido para fazer”, afirmou Newman.
O relatório mostra também uma redução global no índice de confiança nas notícias, depois de uma pequena melhora no ano anterior. Na média global, 42% dos entrevistados confiam no noticiário.
Na América Latina, o Brasil é o único país com um resultado acima da média: 48%. Já os argentinos têm o menor confiança na mídia: 35%. Os demais países pesquisados também ficaram abaixo da média global no quesito confiança: Peru (41%), Chile (38%), Colômbia (37%) e México (37%).
De acordo com Newman, é necessário filtrar melhor o conteúdo que chega até o público, pois muitos se sentem “bombardeados” por notícias às quais não desejavam ter acesso. “Sempre houve aquela promessa de que, com o digital, seríamos capazes de personalizar as notícias e trazer assuntos relevantes, mas isso acabou não acontecendo. A personalização ainda não funciona de uma maneira eficaz. Esse é um dos desafios que precisamos superar nos próximos 10 ou 15 anos”, disse.
O Digital News Report do Instituto Reuters traz ainda dados sobre o quanto o público presta atenção nas marcas das organizações de notícias ou nos jornalistas individualmente.
Mundialmente, os respondentes disseram que prestam mais atenção nas marcas de notícias (47%) do que em jornalistas específicos (22%). Na América Latina, isso também ocorre em Argentina, Chile, Peru e México.
Já na Colômbia e no Brasil, o público disse prestar mais atenção em jornalistas específicos do que em organizações jornalísticas. Segundo Newman, esse movimento reflete a possibilidade adicional que surgiu para jornalistas desenvolverem seus próprios relacionamentos com a audiência e os seus próprios negócios.
“Esse é um desafio específico [para as marcas], especialmente se você está tentando obter conexões fortes e fazer com que as pessoas aceitem modelos de assinatura. Isso será mais difícil em um mercado no qual essas conexões de marca são mais fracas”, disse.
O Digital News Report do Instituto Reuters traz ainda dados sobre desinformação, polarização, privacidade, mudanças climáticas, receitas de assinaturas digitais e atuação de jornalistas nas redes sociais. Ele pode ser lido aqui na íntegra (em inglês).
Uma versão em espanhol do relatório será publicada em 28 de junho, graças à Fundação Gabo. Nesse mesmo dia, será realizado um evento especial de apresentação para a América Latina, com a participação de Rasmus Nielsen, diretor do Instituto Reuters; Eduardo Suárez, editor-chefe do Instituto Reuters; Luz Mely Reyes, editora e fundadora do Efeito Cocuyo, da Venezuela; e Patrícia Campos Mello, colunista da Folha de S.Paulo, do Brasil. As inscrições para este evento já estão abertas.