texas-moody

Aumenta proporção de latino-americanos que evitam o noticiário, diz pesquisa do Instituto Reuters

O aumento do número de pessoas que evitam conteúdos jornalísticos é uma tendência global e ainda mais acentuada em países da América Latina.

É o que mostra o Digital News Report do Instituto Reuters 2022, publicado nesta quarta-feira, 15 de junho.

O Brasil é onde a situação é pior. 54% dos brasileiros evitam as notícias, bem acima da média mundial de 38%. Há cinco anos, 27% dos brasileiros preferiam não consumir o noticiário, um pouco abaixo da média mundial de 29%.

Evitar notícias ao longo do tempo... 38% em todos os países dizem que "muitas vezes ou às vezes" evitam as notícias (eram 29% em 2019). Países da América Latina (sem dados para 2017 ou 2019 para o Peru e a Colômbia). Fonte: Instituto Reuters

Evitar notícias ao longo do tempo... 38% em todos os países dizem que "muitas vezes ou às vezes" evitam as notícias (eram 29% em 2019). Países da América Latina (sem dados para 2017 ou 2019 para o Peru e a Colômbia). Fonte: Instituto Reuters

 

Na Argentina, a situação também piorou: 46% dizem hoje evitar conteúdos jornalísticos contra 31% em 2017. Os outros países da região pesquisados foram Chile (38%), Colômbia (38%), México (37%) e Peru (37%).

Os motivos para a aversão ao noticiário são diversos: 43% reclamam da repetitividade, especialmente na cobertura de política e da pandemia de COVID-19. 29% se dizem desgastados pelas notícias, enquanto outros 29% não confiam no noticiário.

“Os dados indicam uma frustração com a política e uma espécie de polarização em vários países, sobretudo em Argentina, Brasil e México. Isso geralmente está ligado a uma questão de baixa confiança. As pessoas não concordam com algo em uma notícia porque estão muito enviesadas para um lado ou para o outro”, disse à Latam Journalism Review (LJR) o autor do Digital News Report, Nic Newman.

Nic Newman, Instituto Reuters: ‘Os dados indicam uma frustração com a política e uma espécie de polarização em vários países, sobretudo em Argentina, Brasil e México. Isso geralmente está ligado a uma questão de baixa confiança’. Crédito: cortesia

Nic Newman, Instituto Reuters: ‘Os dados indicam uma frustração com a política e uma espécie de polarização em vários países, sobretudo em Argentina, Brasil e México’. Crédito: cortesia

Cerca de um terço (36%) diz que as notícias pioram o seu humor. Dificuldade de entendimento é citada por 8% dos entrevistados para se afastar das notícias. Isso é ainda mais verdade entre o público com menos de 35 anos. “As pessoas estão procurando uma espécie de escapismo e, no digital, há sempre algo mais divertido para fazer”, afirmou Newman.

O relatório mostra também uma redução global no índice de confiança nas notícias, depois de uma pequena melhora no ano anterior. Na média global, 42% dos entrevistados confiam no noticiário.

Na América Latina, o Brasil é o único país com um resultado acima da média: 48%. Já os argentinos têm o menor confiança na mídia: 35%. Os demais países pesquisados também ficaram abaixo da média global no quesito confiança: Peru (41%), Chile (38%), Colômbia (37%) e México (37%).

De acordo com Newman, é necessário filtrar melhor o conteúdo que chega até o público, pois muitos se sentem “bombardeados” por notícias às quais não desejavam ter acesso. “Sempre houve aquela promessa de que, com o digital, seríamos capazes de personalizar as notícias e trazer assuntos relevantes, mas isso acabou não acontecendo. A personalização ainda não funciona de uma maneira eficaz. Esse é um dos desafios que precisamos superar nos próximos 10 ou 15 anos”, disse.

Marcas x Jornalistas

O Digital News Report do Instituto Reuters traz ainda dados sobre o quanto o público presta atenção nas marcas das organizações de notícias ou nos jornalistas individualmente.

Os respondentes ainda prestam mais atenção nas marcas de notícias na maioria dos países. Os jornalistas individuais são menos importantes no Chile e na Argentina, em comparação com a Colômbia e o Brasil. Fonte: Instituto Reuters

Os respondentes ainda prestam mais atenção nas marcas de notícias na maioria dos países. Os jornalistas individuais são menos importantes no Chile e na Argentina, em comparação com a Colômbia e o Brasil. Fonte: Instituto Reuters

 

Mundialmente, os respondentes disseram que prestam mais atenção nas marcas de notícias (47%) do que em jornalistas específicos (22%). Na América Latina, isso também ocorre em Argentina, Chile, Peru e México.

Já na Colômbia e no Brasil, o público disse prestar mais atenção em jornalistas específicos do que em organizações jornalísticas. Segundo Newman, esse movimento reflete a possibilidade adicional que surgiu para jornalistas desenvolverem seus próprios relacionamentos com a audiência e os seus próprios negócios.

“Esse é um desafio específico [para as marcas], especialmente se você está tentando obter conexões fortes e fazer com que as pessoas aceitem modelos de assinatura. Isso será mais difícil em um mercado no qual essas conexões de marca são mais fracas”, disse.

O Digital News Report do Instituto Reuters traz ainda dados sobre desinformação, polarização, privacidade, mudanças climáticas, receitas de assinaturas digitais e atuação de jornalistas nas redes sociais. Ele pode ser lido aqui na íntegra (em inglês).

Uma versão em espanhol do relatório será publicada em 28 de junho, graças à Fundação Gabo. Nesse mesmo dia, será realizado um evento especial de apresentação para a América Latina, com a participação de Rasmus Nielsen, diretor do Instituto Reuters; Eduardo Suárez, editor-chefe do Instituto Reuters; Luz Mely Reyes, editora e fundadora do Efeito Cocuyo, da Venezuela; e Patrícia Campos Mello, colunista da Folha de S.Paulo, do Brasil. As inscrições para este evento já estão abertas.

Artigos Recentes