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Site Prodavinci amplia seu programa de 'educomunicação' para capacitar jornalistas venezuelanos sobre temas-chave

Em mais um esforço para minar o jornalismo, o governo venezuelano promoveu no início de 2023 um curso online de três meses para o “treinamento e a certificação de repórteres”. Foi um programa gratuito oferecido pelo Instituto Nacional de Formação Educacional Socialista (INCES), sob os auspícios do Ministério do Poder Popular para a Educação do Governo de Nicolás Maduro.

O sindicato jornalístico venezuelano condenou veementemente a iniciativa e a descreveu como uma estratégia para "desprofissionalizar" o jornalismo no país, onde a carreira é aprendida e praticada em condições cada vez mais precárias. Em alguns estados, as faculdades de Comunicação Social registram níveis  elevados de abandono.

Com base em diferentes diagnósticos de organizações, como a Espacio publico, o Sindicato Nacional da Imprensa (SNTP) e o Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS), sobre a situação do jornalismo na Venezuela, a organização de jornalismo investigativo Prodavinci viu a necessidade de fortalecer a formação de jornalistas no país. Para fazer isso, a entidade decidiu utilizar a sua divisão educacional, a Academia Prodavinci, para contribuir com a profissionalização dos comunicadores venezuelanos.

“Em 2023 começamos a trabalhar com jornalistas e vimos essa necessidade diante da crise da mídia na Venezuela, dos desertos de notícias e também da falta de treinamento formal e não formal para comunicadores”, disse à LatAm Journalism Review (LJR) a jornalista Mariengracia Chirinos, responsável pela Academia Prodavinci. “Vimos a necessidad, e que talvez nosso meio tivesse potencial para contribuir muito mais com o problema da liberdade de expressão que vive a Venezuela, podendo oferecer um programa de treinamento para jornalistas”.

Alunos do primeiro curso

O primeiro curso do Programa de Formação de Jornalistas foi Jornalismo e Economia: Kit de Ferramentas, oferecido online no final de março de 2023. (Foto: Cortesia Prodavinci)

 

 

A Academia Prodavinci tem como base a educomunicação, conceito que a organização adotou em 2020 com a meta de ampliar o impacto social de seu jornalismo e contribuir com a educação na Venezuela. Teorias em torno da educomunicação se referem a como se podem estabelecer pontes entre a comunicação e a educação e como podem ser gerados insumos educacionais úteis para diferentes setores da sociedade.

O Programa de Formação de Jornalistas da Academia Prodavinci teve início oficialmente no dia 9 de março deste ano com a videoconferência “Histórias que Mudam o Mundo”, da editora-executiva do Pulitzer Center, Marina Walker Guevara.

O Pulitzer Center tem sido uma organização fundamental na história da Prodavinci, não só porque os apoiou em projetos que receberam reconhecimento internacional, como a sua cobertura sobre a Covid-19, a investigação por meio do jornalismo de dados sobre incêndios florestais e a reportagem multimídia sobre o colapso do sistema previdenciário venezuelano, mas também porque seu programa de comunicação e educação serviu de inspiração para a aplicação do conceito de educomunicação e a criação da Academia Prodavinci.

“Eles [The Pulitzer Center] não focam apenas no jornalismo, mas têm uma linha educacional muito forte que nos inspirou a dizer 'ei, esta é uma experiência muito bem-sucedida que tem um grande impacto público e que provavelmente podemos replicar em outra escala, na escala local, e isso pode ser de grande ajuda para diversos setores'”, disse Chirinos.

A aproximação com especialistas de diferentes disciplinas tem sido uma das marcas das investigações jornalísticas do Prodavinci, em que a redação costuma se aliar a acadêmicos e cientistas em colaborações que vão além do relacionamento com fontes especializadas tradicionais.

Esta colaboração também está presente na Academia Prodavinci. Os cursos e materiais desenvolvidos pela iniciativa são produzidos por especialistas nos temas.

O primeiro curso do Programa de Formação de Jornalistas, Jornalismo e economia: Caixa de ferramentas, oferecido em quatro sessões online no final de março de 2023, foi ministrado pelos economistas Anabella Abadi, Giorgio Cunto e Ángel Alayón, este último fundador da Prodavinci. Para o segundo curso, sobre jornalismo e saúde, realizado em maio, um biólogo e imunologistas e infectologistas foram chamados para atuar como instrutores.

“Os programas da Academia Prodavinci visam fortalecer as habilidades analíticas e habilidades dos jornalistas. Seu principal objetivo é formar profissionais capazes de compreender e navegar pelos complexos marcos conceituais necessários para enfrentar com eficácia os problemas e desafios contemporâneos da Venezuela”, disse Alayón à LJR. “A mera entrevista com uma fonte especializada ou a citação de um livro já não basta. A profundidade e a amplitude da compreensão de um jornalista sobre os assuntos que cobre são essenciais. Queremos ver cada vez mais um trabalho jornalístico que não seja apenas informativo, mas também contextualizado, analítico e relevante para a audiência”.

Os cursos para jornalistas consistem em três sessões, além de uma sessão prática focada na análise de casos reais de cobertura jornalística sobre o tema do curso.

“Nenhuma cobertura é perfeita e isso deve ser reconhecido. [Os cursos da Academia Prodavinci] não focam apenas em analisar boas práticas, mas em respeitosamente perceber o que não devemos fazer, mas tem sido visto na imprensa", disse à LJR Joshua De Freitas, estudante de jornalismo que fez dois cursos da iniciativa.

Os jornalistas Marina Walker e Angel Alayon conversam durante uma videoconferência

Marina Walker, editora-executiva do Pulitzer Center, deu uma palestra de abertura moderada por Ángel Alayón, fundador da Prodavinci, para inaugurar o Programa de Formação de Jornalistas. (Foto: Cortesia Prodavinci)

O próximo curso programado será sobre Jornalismo e autonomia econômica das mulheres: Ferramentas para suas análises e cobertura, que acontecerá a partir de 6 de junho. Para o restante de 2023, o Programa de Formação de Jornalistas planeja oferecer cursos sobre temas como direitos humanos e mudanças climáticas, disse Chirinos.

O Prodavinci seleciona e concede cerca de 40 candidatos, principalmente jornalistas e estudantes de comunicação, para fazer seus cursos gratuitamente.

“A Academia Prodavinci se destaca por criar uma ponte entre especialistas de nível mundial e jovens jornalistas. Este modelo de interação simbiótica facilita uma troca direta de conhecimentos e experiências”, explicou Alayón. “Jovens jornalistas têm a oportunidade única de aprender diretamente com especialistas reconhecidos, enquanto os especialistas têm a chance de transmitir seus conhecimentos e entender as perspectivas dos jornalistas emergentes”.

O potencial educacional do jornalismo

Os primeiros esforços da Academia Prodavinci após sua fundação em 2020 foram focados em apoiar o processo pedagógico de alunos do ensino médio e universitário, dados os desafios representados pela educação a distância imposta pela pandemia de Covid-19 na Venezuela.

Inicialmente, o programa tinha o propósito de apoiar a compreensão de temas relacionados à pandemia. Os jornalistas da Prodavinci perceberam que a cobertura da Covid-19 que desenvolveram ao lado de cientistas e especialistas tinha potencial para se tornar um material educativo.

Foi assim que surgiu o primeiro guia explicativo e começou a Aula Prodavinci, a plataforma da Academia Prodavinci que combina jornalismo explicativo com material pedagógico para apoiar o aprendizado de alunos e atualizar os professores na Venezuela.

“Vimos que provavelmente se desenvolvêssemos essa linha de trabalho, a Aula Prodavinci, provavelmente iríamos contribuir com um conteúdo que nem os alunos nem os professores tinham tanto acesso naquele momento. Percebemos que provavelmente se nós, que já havíamos trabalhado de mãos dadas com  especialistas, pudéssemos transformar esse conteúdo em guias, seria muito mais fácil explicar a pandemia”, disse Chirinos.

A equipe da Prodavinci percebeu que outras investigações jornalísticas que publicaram também tinham potencial explicativo e pedagógico, e que poderiam ser transformadas em guias para explicar outros temas. Assim surgiram outros guias sobre questões de saúde, como “Tempos de malária na Venezuela”, “Como a água se torna potável” e "Câncer de mama na Venezuela", entre outros.

Em 2022, a Aula Prodavinci se aventurou em temas históricos, com guias sobre a história da democracia e do sistema educacional na Venezuela.

“Nossa primeira intenção é colocar isso a serviço da sociedade. É o nosso principal objetivo: como o nosso trabalho pode transcender a publicação e ter maior utilidade para diversos setores, quando as obras são atemporais ou explicam fenômenos que podem se repetir no tempo”, disse Chirinos.

Na Academia Prodavinci, está envolvida a maior parte da redação do jornal, que é composta por 12 pessoas. Quando um jornalista da Prodavinci está desenvolvendo uma reportagem que pode se transformar em um guia para explicar um tema, ele começa a trabalhar em colaboração com Jesús Piñero, jornalista da organização que também é historiador e educador.

“Desta forma, juntamos o jornalista que investigou e fez uma reportagem junto com uma pessoa que tenha as capacidades instrucionais e pedagógicas para poder chegar a uma linguagem, a uma narrativa e a formatos que sejam consistentes com a formação e a educação, em diferentes níveis", disse Chirinos.

Capturas de tela de dois guias explicativos desenvolvidos pela organização jornalística venezuelana Prodavinci.

Os guias explicativos da Academia Prodavinci surgem a partir de reportagens investigativas desenvolvidas por jornalistas da entidade. (Foto: Cortesia Prodavinci)

Os jornalistas da Academia Prodavinci também veem na iniciativa uma forma de contribuir com o combate à desinformação e à censura na Venezuela. Segundo Chirinos, isso se consegue não só preparando os jornalistas para desenvolver um trabalho de qualidade suficiente para se resguardar das tentativas do governo de desprestigiar o jornalismo, mas também capacitando o público e reconquistando a confiança perdida diante da crise enfrentada pelo jornalismo na Venezuela.

“Organizações e especialistas em liberdade de expressão têm dito que parte da solução para a crise da mídia que não só a Venezuela vive, mas também a América Latina e grande parte do mundo, pode ser resolvida com a educação”, disse Chirinos. “Para esses riscos de desinformação e circulação de informações que contaminam a agenda pública, uma das grandes soluções é não só fazer mais e melhor jornalismo, mas também formar as audiências e que essas audiências – os cidadãos – tenham um melhor julgamento , não só para consumir conteúdo jornalístico, mas também para saber o que esperar do jornalismo”.

Alayón, por seu lado, fez um balanço positivo dos primeiros meses do Programa de Formação de Jornalistas e disse que os esforços já começam a ter um impacto tangível por meio do trabalho jornalístico desenvolvido pelos primeiros alunos.

“Os participantes de nossos cursos não apenas adquirem novos conhecimentos e habilidades, mas também os aplicam em seu trabalho, demonstrando a eficácia de nossa abordagem de aprendizado prático com base em estruturas analíticas e estudos de caso”, disse Alayon.

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