Um total de 37,4 milhões de brasileiros (equivalente a 17,9% da população) vivem nos chamados desertos de notícias, ou seja, municípios onde não há um veículo jornalístico sequer. A esses, se somam mais 27,5 milhões (13,2% dos brasileiros) que moram em “quase desertos”, com até dois veículos jornalísticos.
Essa é uma das principais conclusões da mais recente edição do Atlas da Notícia, um projeto do PROJOR – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo – em parceria institucional com a Abraji, Intercom e 22 escolas de jornalismo do país, e com o apoio do Facebook Journalism Project (FJP).
O trabalho é inspirado no projeto America's Growing News Deserts, da Columbia Journalism Review, em sua terceira edição. Esta terceira edição brasileira revela a existência de 11.833 veículos jornalísticos no país em todos os meios: impresso, digital, rádio e TV.
No entanto, esses meios de comunicação têm uma distribuição desigual no território, tanto que em 60% dos municípios brasileiros, não há um veículo sequer. Das cinco regiões do país, o Nordeste se destaca negativamente.
“O Nordeste teve a maior proporção de desertos de notícias entre as regiões brasileiras. 73,5% dos municípios nordestinos foram classificados como desertos. Isso significa que nesses lugares não há cobertura jornalística sobre assuntos locais, de interesse público, como os gastos da prefeitura, a falta de remédios no posto de saúde, a qualidade da merenda nas escolas,” disse ao Centro Knight a jornalista Mariama Correia, pesquisadora do Atlas da Notícia no Nordeste.
Ela também destaca que o ano de 2019 foi bem desafiador para o jornalismo nordestino, com o aprofundamento da crise de veículos impressos e demissões em massa de jornalistas.
“É uma realidade que representa um desafio imenso para o combate à desinformação na região. Sabemos que, diante dessa ausência de informação produzida com critérios jornalísticos, como uma boa apuração, por exemplo, as notícias que circulam nas redes sociais, como o Whatsapp, acabam sendo as únicas fontes de informação da população”, disse Correia.
Do total de veículos registrados, as emissoras de rádio somam 4.195 (35,5%), seguidas por veículos impressos 3.429 (29%), veículos digitais 3.051 (25,8%) e emissoras de TV 1.158 (9,8%). O Atlas 3.0 identificou o fechamento de 331 veículos jornalísticos, dos quais 195 (60%) impressos.
“Os dados agora reunidos pelos pesquisadores do Atlas da Notícia, com apoio de 193 colaboradores voluntários de escolas de jornalismo das cinco regiões do país, são uma base consistente para que pesquisadores de todo o Brasil possam orientar novas investigações,” disse o jornalista Sérgio Lüdtke, que coordenou as equipes de trabalho nas cinco regiões brasileiras, de acordo com o comunicado de imprensa do projeto. “Esses dados permitirão detectar os caminhos trilhados mais recentemente pelo jornalismo e identificar necessidades das comunidades e oportunidades futuras que se abrem para os jornalistas profissionais no Brasil.”
O Volt Data Lab fez a pesquisa, análise e mapeamento desta edição do Atlas, que inclui também a publicação de uma API (Interface de Programação de Aplicativos) para facilitar o acesso e utilização das informações geradas sobre a presença de veículos jornalísticos nos 5.570 municípios brasileiros. Segundo Sérgio Spagnuolo, que lidera o Volt Data Lab, a construção da API do Atlas é inédita no jornalismo brasileiro.
“Trata-se de um recurso muito utilizado por empresas de tecnologia, mas ainda pouco implementado dentro do segmento jornalístico,” disse, segundo o comunicado de imprensa do projeto. “Esta ferramenta permitirá a implementação de aplicações, automatização de análises e gráficos e facilitação do uso dos dados do Atlas por pesquisadores."
“A terceira edição do Atlas da Notícia reafirma o compromisso do Projor em gerar dados e análises imprescindíveis para iniciativas que visem fortalecer a imprensa local brasileira em face aos desafios trazidos pela revolução digital,” disse Francisco Belda, presidente do Projor.