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Cresce a violência contra a imprensa no México, 30 jornalistas foram mortos durante o governo de Peña Nieto: Article 19

Em 2016, 11 jornalistas foram mortos no México. Segundo o informe anual “Libertades en Resistencia” do Article 19, este foi o ano mais violento para jornalistas naquele país desde 2000. Article 19 é uma organização independente de direitos humanos que funciona em todo o mundo para promover o direito e a liberdade de expressão.

Segundo o informe, ano passado foram registradas 426 agressões contra jornalistas em todo o México. O documento indica que 99,7% dos registros ainda estão em aberto por falta de investigação. De todos os casos denunciados, 81 jornalistas foram vítimas de ataques físicos e materiais, 79 sofreram intimidações, 76 receberam ameaças, 27 meios de comunicação foram atacados e 11 jornalistas foram mortos.

“Há uma clara tentativa de limitar a liberdade de expressão e o bom fluxo de informação para a sociedade mexicana”, disse Ana Cristina Ruelas, diretora da agência da organização para o México e a América Central para o site de notícias Sin Embargo.

Ruelas também disse que as agressões, as leis e a ineficiência do sistema mexicano indicam que “querem impedir que qualquer informação sobre má gestão em todas as instâncias e níveis do governo seja publicada”.

“A impunidade e a violência contra a imprensa (…) fazem de 2016 um ano histórico, com índices jamais vistos: crescimento de 29% de agressões em relação ao primeiro ano de mandato de Enrique Peña Nieto [2013] e de 163% quando comparamos o ano citado com o quarto ano de mandato de Felipe Calderón, que antecedeu o atual presidente”, indica um trecho do relatório do Article 19.

O documento mostra ainda que 53% das agressões denunciadas por jornalistas foram cometidas por funcionários públicos. O que representa um aumento de 37% deste tipo de denúncia em relação a 2015. A nota à imprensa da organização acrescenta que do início do governo de Enrique Peña Nieto até março deste ano, 30 jornalistas foram mortos.

Os ataques contra jornalistas mulheres também cresceram 15% em relação a 2015. Ao todos, 96 jornalistas mulheres denunciaram ter sofrido algum tipo de violência no México em 2016. Repórteres somam a maior parte das vítimas: há 184 registros de agressões contra eles. Seguidos por fotógrafos (56) e meios de comunicação (46) _ em sua maioria meios digitais e jornais.

Mais da metade das denúncias se concentram em cinco estados mexicanos:

Cidade do México (71), Oaxaca (60), Veracruz (58), Puebla (28) e Guerrero (26). Oaxaca, Veracruz e Puebla passaram por processos eleitorais de troca de governo em 2016. Quatro dos 11 assassinatos ocorreram em Oaxaca.

Segundo o informe, ano passado o governo mexicano adquiriu diversos “instrumentos de espionagem” sob a alegação que eles seriam usados na proteção aos cidadãos. “Há evidências que estes instrumentos foram usados sem ordem judicial e em situações suspeitas para obter informações privilegiadas e de foro privado sobre jornalistas e ativistas políticos”, diz o relatório.

Na conclusão do relatório, a Article 19 pede ao presidente Peña Nieto e aos membros de seu governo que demonstrem mais vontade política para combater a violência contra a liberdade de expressão e ao direito à informação. Também exigem proteção integral aos jornalistas e que o governo reconheça publicamente que seus funcionários estão entre a maioria dos agressores contra a imprensa. Exigem ainda o fim da impunidade e que os responsáveis pelas agressões e seus chefes sejam identificados e punidos.

Um dia antes da apresentação do documento, a Article 19 México realizou a conferência internacional Memoria y Resistencia. Especialistas em direitos humanos e liberdade de expressão e jornalistas do México e América Latina participaram do evento.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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