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Abertura, mapeamento colaborativo, sonificação e extensões: projetos orientados por dados fortalecem o jornalismo investigativo no México

Transparência e dados abertos estão intimamente relacionados ao jornalismo de qualidade. Uma matéria será mais confiável se fornecer dados abertos e bem analisados. É por isso que a cada ano, no início de março, hackers cívicos, designers, jornalistas e outros celebram o Dia dos Dados Abertos, ou Open Data Day.

A organização mexicana Social Tic leva esta celebração muito a sério e realiza anualmente uma "grande festa de dados abertos" na Cidade do México, onde são realizados workshops, mesas redondas, hackathons e apresentações de projetos.  Tudo com a intenção de compartilhar "conhecimentos e experiências com dezenas de entusiastas do uso e da abertura de dados".

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), a ideia dos dados abertos consiste em que os dados estejam livremente disponíveis a todos "em termos de poder acessar, usar e republicar tais dados, sem restrições de direitos autorais, patentes ou outros mecanismos de controle ou propriedade". Além disso, todas as informações do setor público disponibilizadas como dados abertos são conhecidas como "Governo Aberto".

LatAm Journalism Review (LJR) compilou os projetos de dados apresentados no evento da Social Tic deste ano e conversou com alguns de seus criadores sobre o benefício jornalístico dos dados abertos.

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Claudia Ocaranza, cofundadora de pidala.info. (Foto: Cortesia)

"O objetivo com nosso projeto é que os cidadãos perguntem mais e melhor, a transparência é um símbolo de democracia... Acreditamos que podemos ajudar a fortalecer as investigações de jornalistas, suas histórias, permitindo-lhes acessar informações com um processo melhorado", disse Claudia Ocaranza, cofundadora de pidala.info, um dos projetos de dados apresentados, à LJR.

Armazém de dados Causa Natura

De acordo com seu site, Causa Natura é um think tank mexicano que aspira a ser um dos centros de pesquisa, diálogo e incidência de referência na América Latina para a boa governança dos recursos naturais.

Causa Natura apresentou seu trabalho de rastreamento do esforço de pesca no México e de detecção de ilegalidades com sinais de satélite. "Começamos a abrir os dados da iniciativa Pescando Datos em 2019. O objetivo é disponibilizar informações úteis ao público interessado através de uma ferramenta simples, alternativa e independente para consulta de dados governamentais abertos (DAG) sobre a pesca no México", disse Sara Chávez, coordenadora da Unidade de Dados da Causa Natura, à LJR.

Todos os dados sobre investigações de pesca ilegal e outros são compartilhados em seu armazém de dados.

"Na Pescando Datos nos concentramos em questões de política pesqueira e durante os dois primeiros anos percebemos a utilidade de abrir informações para diferentes públicos, incluindo jornalistas. A partir desta iniciativa, decidimos ampliar nosso escopo na abertura de dados e decidimos construir o armazém de dados dentro da Causa Natura, para que haja informações não apenas sobre política pesqueira, mas também sobre outras agendas nas quais trabalhamos, a partir da pesquisa e do jornalismo", disse Chávez.

Votar entre balas

A organização Data Cívica, com pesquisadoras do Programa de Estudo da Violência do Centro de Pesquisa e Ensino de Economia (CIDE) criou a plataforma Votar entre balas, onde documentam a violência eleitoral que se tornou uma ferramenta do crime organizado no México para influenciar a vida pública em estados e municípios.

"A violência criminal-eleitoral refere-se a qualquer ato organizado ou ameaça de organizações criminosas que ocorre durante um processo eleitoral para intimidar, prejudicar fisicamente, amedrontar ou eliminar um ator político", explica Data Civica na metodologia da pesquisa.

Neste trabalho, para construir o banco de dados, foi realizada uma pesquisa automatizada no Twitter e foi feita uma raspagem no Google para identificar notícias com informações sobre eventos de violência eleitoral. Posteriormente, foi realizada uma leitura manual e sistematização de cada artigo, a fim de capturar apenas casos relevantes para a análise.

Todos os dados e reportagens coletadas podem ser baixados de seu website.

Projeto de sonificação de dados

Rubén García apresenta uma abordagem alternativa para as visualizações de dados às quais o público está acostumado.

García apresentou um projeto de sonificação de dados no qual ele converte informações abstratas em sons para proporcionar, em suas palavras, uma experiência auditiva e uma compreensão mais intuitiva dos dados. "Embora a maioria das pessoas seja visual, nós também somos muito ligados ao áudio, e a música pode gerar uma sensação de sensibilidade", disse García em sua apresentação no evento Social Tic.

García utilizou o conjunto de dados de abril de 2020 de ligações para a Línea Mujer, um serviço telefônico para orientação, aconselhamento e acompanhamento de mulheres que sofrem violência no México, mas em vez de fazer uma reportagem visual, ele transformou os dados em música. Desta forma, representou o tempo de espera de uma mulher quando ela faz uma ligação para esta linha direta.

Novos dados no portal de dados abertos da Cidade do México

A equipe da Agência Digital de Inovação Pública, responsável pela implementação de políticas de gestão de dados e governo aberto na Cidade do México, apresentou novas bases de dados públicas e ferramentas de visualização dentro do portal de dados abertos da capital mexicana.

Alguns destes novos dados correspondem ao registro civil e permitem saber quantas pessoas nascem na cidade, que nomes têm, quais são os mais repetidos, etc.

El Dato MX

El Dato Mx é um projeto em construção criado por Diego Plata, que sozinho procura fazer análises e escrever notícias apoiadas em dados e evidências.

Até o momento, possui um site com informações esportivas e políticas. Tem também uma conta no Twitter, onde ele compartilhou visualizações do fluxo do metrô da Cidade do México e mapas de densidade populacional.

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Equipe do mapeamento colaborativo Comapper apresentou o trabalho que fazem em Tulum, México. (Foto: Cortesía)

Comapper

Comapper é um projeto humanitário de mapeamento colaborativo que procura reduzir os riscos decorrentes da expansão urbana em Tulum, México.

Como Comapper explica em seu site, o mapeamento coletivo ou colaborativo é uma "ferramenta participativa que permite a reflexão sobre o território comum, pois qualquer mapa não pretende ser uma representação fiel ou exaustiva da realidade, é um exercício no qual os participantes podem identificar problemas além daqueles visíveis para cada pessoa, fornece elementos para o desenvolvimento de um diagnóstico do território, torna visível as redes colaborativas, um espaço para compartilhar experiências, socializar e encontrar soluções comunitárias".

Qualquer pessoa pode participar ajudando a mapear ou se juntar às brigadas de campo em Tulum.

Análise de manchetes sobre femicídios

A Social Tic também aproveitou a oportunidade para apresentar o estudo Feminicidios en México, entre el silencio y la indignación: Análisis de titulares en medios digitales y reacciones en redes sociales. Neste trabalho, analisaram manchetes de meios digitais e redes sociais sobre os feminicídios no México.

O objetivo foi identificar os casos de feminicídio que receberam mais cobertura nas redes sociais e na mídia, identificar quais casos intensificaram a conversa e descobrir se as redes sociais e as manchetes estão de acordo com os casos mais frequentemente mencionados.

Pidala.info

Pidala.info é um projeto que procura facilitar o acesso à informação pública em toda a América Latina. Em primeira instância, eles criaram uma extensão do navegador Chrome que funciona na Plataforma Nacional de Transparência do México, permitindo solicitações massivas (mais de 33 ao mesmo tempo) e um resumo das solicitações.

"A ideia surgiu a partir das necessidades e observações dos membros da equipe. Somos jornalistas e desenvolvedores com uma longa experiência no desenvolvimento de tecnologia cívica. Em várias ocasiões, vimos nossas investigações jornalísticas limitadas porque o processo de entrada de um grande número de solicitações de informações necessárias tornou-se incômodo e titânico", disse Ocaranza. "Conversando com outros jornalistas, vimos que este era um problema comum. Encontrar uma solução para essa inquietude foi a base do que anos mais tarde se tornaria pidala.info".

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