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Artigo 19 lança documentário sobre o assassinato do jornalista brasileiro Rodrigo Neto

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  • 20 julho, 2015

Por Jessica Diaz-Hurtado

Rodrigo Neto, jornalista e apresentador de rádio de Ipatinga, Minas Gerais, denunciava injustiças e o envolvimento de policiais em crimes conhecidos na região do Vale do Aço, onde fica Ipatinga.

“Falar de Rodrigo Neto é falar da verdade”, disse a jornalista Gizelle Ferreira Barbosa.

“Impunidade mata,” documentário lançado recentemente pela organização defensora da liberdade de expressão Artigo 19 no Brasil, mostra a investigação sobre a morte de Rodrigo Neto em 2013 e as consequências da impunidade no Brasil.

Neto, jornalista político do jornal Vale do Aço, foi morto no dia 8 de março, apenas duas semanas depois do assassinato do jornalista Malfaro Bezerra Gois no Ceará. 37 dias depois da morte de Neto, o fotojornalista do Vale do Aço Walgney Assis Carvalho também foi executado a tiros.

Neto e Carvalho eram conhecidos por denunciar injustiças e crimes.

Em abril de 2013, o chefe da polícia civil de Minas Gerais confirmou o envolvimento de policiais no assassinato de Neto e Carvalho e os suspeitos foram afastados.

“A polícia foi capaz de silenciar a voz de Rodrigo Neto. Eles foram capazes de silenciar nossa voz e a voz dos jornalistas também. Agora a polícia aqui do Vale do Aço tem um poder muito maior de omitir informação do que tinha antes da morte de Rodrigo Neto", afirmou Ferreira Barbosa.

“Impunidade mata,” lançado em julho, vem logo depois de uma recente sentença contra um dos acusados de matar Neto, Alessandro Neves. Ele foi condenado a 12 anos pela morte de Neto e a mais 4 anos pela tentativa de assassinato de um amigo de Neto no dia do crime.  No ano passado, o outro assassino do jornalista, o ex-policial Lúcio Lírio, também foi condenado a 12 anos de prisão.

Embora este caso tenha sido resolvido, 58% dos casos como este não avançam, segundo a Artigo 19. Isso deixa os jornalistas em risco por suas atividades profissionais.

“Muitas vezes um comunicador coloca seu próprio corpo, sua própria existência, em uma situação hostil e difícil para permitir que as pessoas saibam o que está acontecendo. Eles enfrentam esquadrões de morte. Enfrentam criminalização, violência policial, abuso de autoridade, estão em meio a tiroteios. Eles estão lá. Eles são nossos olhos, nossos ouvidos, nossa consciência”, disse Maria do Rosario, deputada e ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.

Os produtores de “Impunidade mata” gravaram diversos testemunhos de amigos de Neto, familiares, a deputada Maria do Rosário e membros do Comitê Rodrigo Neto, um grupo organizado por colegas do jornalista para cobrar investigação e punição dos responsáveis pelo crime.

O documentário descreve o choque que jornalistas tiveram ao saber da morte de Neto e a mensagem que o episódio deixou: as liberdades de imprensa e de expressão estão sob ameaças fatais.

Fernando Bendito Jr., editor e membro do comitê Rodrigo Neto, fala no documentário que o clima na região se assemelhava à época da ditadura: um passo errado poderia levar a consequências fatais.

De acordo com a Artigo 19, Brasil é um dos três países da América Latina com o maior número de jornalistas mortos e está em 11º lugar no Índice Global de Impunidade 2014 do CPJ. A Artigo 19 e os jornalistas mostrados no “Impunidade mata” querem investigar casos como esse para denunciar os crimes contra jornalistas.

O processo burocrático para proteger jornalistas é complicado. A proteção para jornalistas é dada em nível federal, embora as investigações dos homicídios ocorram em nível estadual, segundo Maria do Rosario.

Se a investigação estadual sofre influência de envolvidos no crime, é improvável que ele seja resolvido e punido. Esse tipo de burocracia permite que a impunidade em casos de violência contra jornalistas continue a prosperar.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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