A violência fatal contra jornalistas na América Latina continuou em crescimento em 2015, e o Brasil foi destaque na lista dos países mais mortais para jornalistas, preparada pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ na sigla em inglês), ocupando o terceiro lugar no mundo todo.
Com seis mortes confirmadas pela organização, o país “teve seu maior número de mortes desde 1992, quando o CPJ começou a registrar dados detalhados destes casos”, segundo o relatório. A organização ressaltou que houve avanços no país na punição aos assassinos de jornalistas nos últimos dois anos.
O caso mais recente foi o do blogueiro de 30 anos Ítalo Eduardo Diniz Barros, assassinado no estado do Maranhão em 13 de novembro. Apenas três dias antes, o jornalista de uma rádio comunitária Israel Gonçalves Silva foi assassinado no estado de Pernambuco.
O jornalista de rádio Gleydson Carvalho tomou um tiro enquanto estava no ar com um programa da Rádio Liberdade FM em Camocim, Ceará, em agosto.
No transcurso de uma semana em maio, os corpos de dois jornalistas assassinados foram encontrados na parte oriental do país. Em 18 de maio, o corpo decapitado do blogueiro de ‘Coruja do Vale’ Evany José Metzker foi encontrado em Minas Gerais. Dias mais tarde, a polícia descobriu o corpo torturado do jornalista de rádio comunitária Djalma Santos da Conceição na Bahia.
Em uma região que foi particularmente perigosa para os jornalistas nos últimos anos, o jornalista de rádio paraguaio Gerardo Ceferino Servían Coronel foi assassinado em Ponta Porã, Brasil, na fronteira com o Paraguai, em 5 de março.
Além do Brasil, México, Colômbia e Guatemala foram os outros três da América Latina na lista de mais mortais para jornalistas em 2015, segundo o relatório de fim de ano da organização. Para o CPJ, 12 dos assassinatos de jornalistas nestes países foram confirmados como crimes relacionados ao trabalho. Seis dos casos ocorreram no Brasil.
Em 2014, a organização confirmou que sete jornalistas foram assassinados no cumprimento de seu trabalho na América Latina. Paraguai, que teve três mortes confirmadas no ano passado, saiu da lista este ano.
Os jornalistas assassinados na América Latina este ano escreviam sobre temas perigosos como o crime organizado ou a corrupção e alguns haviam recebido ameaças a suas vidas antes do crime.
Em seu relatório, o CPJ incluiu as mortes de jornalistas nas quais se confirmou a relação com o trabalho das vítimas. Também incluiu jornalistas que foram “assassinados em fogo cruzado em situações de combate” ou que foram “assassinados no exercício de uma cobertura perigosa, como a de um protesto de rua”. A organização está trabalhando para determinar se os assassinatos de seis jornalistas na América Latina estiveram diretamente relacionados com o exercício de seu trabalho. Os nomes desses jornalistas estão em uma lista abaixo.
O CPJ confirmou a morte de quatro jornalistas no México durante 2015, razão pela qual ficou em oitavo lugar na lista de países mais mortíferos para os jornalistas neste ano. Os estados de Oaxaca e Veracruz viram os mais altos níveis de violência.
A morte mais recente, o assassinato em julho do fotojornalista Rubén Espinosa Becerril na Cidade do México, atraiu atenção internacional e esforços galvanizados para enfrentar a violência contra jornalistas no México.
Duas pessoas dispararam contra o jornalista de rádio Filadelfo Sánchez Sarmiento em frente ao seu escritório em Miahuatlán de Porfirio Díaz, Oaxaca, na manhã de 2 de julho. Dois meses antes, em maio, o corpo do jornalista de rádio de Veracruz Armando Saldaña Morales foi encontrado em Oaxaca.
Só dois dias depois do início de 2015, o jornalista José Moisés Sánchez Cerezo desapareceu após ser levado de sua casa por indivíduos armados, em Medellín de Bravo. Seu corpo foi encontrado no dia 24 de janeiro em Veracruz.
O CPJ confirmou a morte de um jornalista por motivos relacionados com seu trabalho em cada um dos dois últimos países latino-americanos de sua lista de 2015.
A jornalista de rádio colombiana Flor Alba Núñez Vargas, de 25 anos, recebeu um tiro enquanto caminhava em direção ao trabalho em Pitalito, no estado de Huila, em 10 de setembro.
Em 10 de março, o repórter guatemalteco Danilo López estava cobrindo um evento oficial do governo em Mazatenango, estado de Suchitepéquez, quando foi baleado fatalmente.
O CPJ informou que um total de 69 jornalistas foram assassinados em todo o mundo durante 2015 como resultado de seu trabalho. Síria e França, com 13 e 9 mortes de jornalistas confirmadas respectivamente, foram os países mais mortíferos, segundo a organização.
Segundo o CPJ, os temas mais comuns cobertos pelos jornalistas assassinados eram política e direitos humanos.
As organizações defensoras da liberdade de expressão e de imprensa têm seus próprios critérios para determinar se um assassinato está ou não relacionado à atividade profissional de um jornalista ou de um trabalhador dos meios de comunicação. Como resultado, os relatórios das diferentes organizações oferecerão diferentes números finais sobre os jornalistas assassinados por razões ligadas ao seu trabalho.
Por exemplo, no relatório de fim de ano do Repórteres Sem Fronteiras (RSF), um total de oito jornalistas foram assassinados no México em 2015. “México segue sendo o país mais mortífero da América Latina para jornalistas”, disse a organização em seu documento. Contudo, RSF só confirmou em três casos que o motivo do crime estava relacionado com o trabalho jornalístico.
A seguir ainda estão mais 15 casos de mortes de jornalistas da América Latina que não estão nos números do CPJ sobre assassinatos com motivos profissionais confirmados. Alguns estão sendo investigados pelo CPJ, outros foram reportados por organizações como RSF. Também incluímos assassinatos de jornalistas e trabalhadores de mídia cobertos este ano pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas en la que ningún motivo se ha determinado.
Brasil
Colômbia
Guatemala
Honduras
México
*Lorenzo Holt colaborou nesta matéria.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.