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Campanha #NoNosCallarán luta para conseguir justiça em crimes contra jornalistas no México

Um mês depois dos brutais assassinatos do jornalista de Veracruz Rubén Espinosa, da ativista Nadia Vera e de outras três mulheres em um apartamento da Cidade do México, ativistas e jornalistas continuam lutando contra a impunidade e pela liberdade de expressão.

Em 31 de agosto, uma campanha com a hashtag #NoNosCallarán tomou conta das redes sociais e da primeira página do jornal mexicano El Universal.

Impressa toda em tinta preta con la frase NO NOS CALLARÁN en blanco pudo verse la primera página de El Universal.

Uma carta dirigida ao presidente Enrique Peña Nieto e a outras autoridades pedindo a investigação dos assassinatos de jornaliistas e a criação de mecanismos para sua proteção foi impressa em uma página interior do jornal. As marcas das organizações defensoras da liberdade de expressão PEN América e do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ na sigla em inglês), assim como a de toda a comunidade ativista digital Avaaz, foram publicadas abaixo da carta.

Em uma outra página havia 600 assinaturas de jornalistas e intelectuais de 192 países, junto à hashtag #NoNosCallarán. Estas assinaturas representam só uma parte das mais de 730 mil pessoas que assinaram essa petição no site da Avaaz.

Desde a publicação da carta e da hashtag em El Universal#NoNosCallarán foi utilizada em mais de 500 mensagens no Twitter chegando a mais de 8 milhões de pessoas nas últimas 24 horas, de acordo com Keyhole. O ponto máximo de atividade ocorreu na tarde do dia 1º de setembro.

Um post do jornalista da Univisión Jorge Ramos foi replicado (retweeted) quase 3 mil vezes: “#NoNosCallarán nem em México, nem nos Estados Unidos. Não vamos nos sentar, não vamos ir embora, não vamos nos calar”.

Estes usuários estão expressando sua solidaridade com os jornalistas mexicanos e fazendo valer a liberdade de expressão como um direito humano. Junto a suas promessas de que não vão ser silenciados, estão marcando nestes comentários o presidente Peña Nieto e o governador de Veracruz, Javier Duarte.

Em um editorial publicado em Aristegui Noticias, a jornalista e ativista Lydia Cacho expressou suas razões para não serem silenciados. “Porque a democracia não se constróu com submissão #NoNosCallarán. Porque meus colegas ativistas não mereciam a morte #NoNosCallarán. Porque todas as vidas humanas importam #NoNosCallarán […]”.

Na Cidade do México, reproduções da conhecida capa da revista Proceso, na qual aparece uma foto feita por Espinosa do governador Duarte com o título “Veracruz: estado sem lei”, foram colocadas em uma parede em frente ao prédio do governo desse estado, de acordo com a Avaaz.

O grupo de defesa da liberdade de expressão Artigo 19 também se manifestou sobre o primeiro mês destes assassinatos fazendo chamados por uma investigação melhor. A organização publicou um extenso relatório que afirma que a Procuradoria da Cidade do México violou o protocolo na investigação dos assassinatos de Espinosa, Vera, suas companheiras e uma trabalhadora doméstica. Acusam as autoridades de vazar informação, revitimizar os falecidos e suas famílias, ter diferentes linhas de investigação, entre outras questões.

Até o momento, só duas pessoa foram detidas pelos assassinatos. Uma pessoa foi posta em custódia dias depois dos assassinatos, de acordo com a agência AP. Em 30 de agosto, as autoridades anunciaram a detenção de um ex-policial, segundo La Razón e a agência AFP.

A carta de Avaaz não é a primeira dirigida ao governo mexicano depois dos assassinatos na Cidade do México, em uma tentativa de atrair a atenção de todo o mundo.

Em 17 de agosto, um grupo de jornalistas apresentou uma carta assinada por mais de 500 jornalistas, escritores, artistas e defensores da liberdade de expressão de todo o mundo. Eles pediram uma investigação séria da morte de Espinosa e de todos os jornalistas assassinados no país, assim como a revisão do mecanismo de proteção para jornalistas.

Em resposta à carta, a Secretaria de Governo emitiu um comunicado reafirmando o compromisso do governo com a liberdade de expressão e com o mecanismo de proteção.

O assassinato de Espinosa, o sétimo de um jornalista este ano no México, jogou luz aos problemas que apresenta o mecanismo de proteção do país. Organizações internacionais e defensores da imprensa questionaram sua eficácia desde sua criação em 2012 e alguns jornalistas em perigo, entre eles Espinosa, optaram por buscar ajuda em outros lugares.

México ocupa o 148º lugar entre 180 países na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2015 da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Segundo o CPJ, 35 jornalistas foram assassinados desde 1992 por causas relacionadas ao seu trabalho, destes casos, 28 ficaram impunes. O CPJ também registrou outros 40 casos de jornalistas assassinados cujos motivos não foram determinados.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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