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Cobrindo as eleições presidenciais 2020 nos EUA: Jornalistas debatem a 'ausência de reportagem de campo' e a 'a campanha mais estranha de todas'

Repórteres dos principais veículos de notícias dos EUA falaram durante um painel do 21º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ) sobre alguns dos desafios que a crise do coronavírus impôs aos jornalistas que cobrem as eleições presidenciais de 2020, como a quase ausência de reportagem de campo e falta de oportunidades para entrevistar eleitores pessoalmente.

O painel "Cobrindo campanhas eleitorais na era digital: desafios das eleições presidenciais de 2020 nos EUA", foi mediado por Evan Smith, co-fundador e CEO do The Texas Tribune. Smith definiu a próxima eleição como a "campanha mais estranha de todas", não apenas para candidatos e eleitores, mas também para a imprensa.

Panel

CW from top L: David Weigel, Laura Barrón-López, Alexi McCammond, Katie Glueck, Evan Smith

Ele explicou que essa campanha está acontecendo durante "três crises de uma geração ocorrendo ao mesmo tempo: emergência em saúde pública, colapso econômico e acerto de contas sobre raça".

"É estranho para a imprensa, que precisa cobrir as notícias, mesmo com várias restrições às suas habilidades para fazer seu trabalho, mas devemos fazê-lo", disse ele.

Os participantes do painel destacaram como estavam acostumados a viajar muito durante a campanha eleitoral e que agora precisam fazer a maior parte da cobertura de casa, com raras exceções. Eles também enfatizaram a importância de conversar pessoalmente com os eleitores para o seu trabalho e como é diferente fazer isso pela internet. 

"Nós estávamos em um movimento realmente intenso antecedendo a Super Tuesday, pela Virginia, Texas, Califórnia ... Depois voltamos, houve um pouco mais de campanha em lugares como Michigan e então tudo parou. É estranho [...] os candidatos estão lentamente tentando sair às ruas uma vez por semana, estar um pouco mais em público. E a imprensa está, obviamente, tentando descobrir como cobrir isso e, de maneira mais ampla, como cobrir o que está acontecendo no país, quando há tantas considerações logísticas e de saúde", disse Katie Glueck, repórter de política nacional do The New York Times. Ela mencionou que viajou recentemente para cobrir histórias, mas que o novo padrão era estar em quarentena como o resto do país.

Alexi McCammond, repórter de política do Axios, disse que eles estavam acostumados a viajar muito, "vivendo com uma mala" e, de repente, devido à pandemia, estão agora presos em casa, o que mudou a dinâmica de trabalho. "Estamos tentando descobrir como conversar com os eleitores, algo que eu amo fazer e que me ajudava a fazer as minhas análises, porque você tem uma noção real de como as pessoas se sentem de fato, o que te ajuda a entender melhor as pesquisas e os números. Eu sinto muita falta de fazer isso", disse ela. McCammond acrescentou que está fazendo grupos focais com os eleitores online no Zoom, mas a experiência é muito diferente de conversar com eles em um comício ou em um intervalo durante a campanha.

David Weigel, correspondente de política nacional do The Washington Post, disse que conseguiu viajar um pouco recentemente, mas não tanto quanto antes. Mesmo tentando simular essas conversas por telefone, ele diz que não é a mesma coisa.

"O que eu tenho sentido falta é de poder testar minhas intuições, algo que você só consegue fazer saindo da Internet e conversando com as pessoas. Eu sempre gostei, além de conversar com os eleitores nos comícios, de ver o que estava chegando a eles, o que estava repercutindo nas notícias e jornais locais. Estou sentindo falta das interações aleatórias com os eleitores que, mesmo sendo não-científicas, são super úteis. Por isso, tive que encontrar outras maneiras de transmitir a totalidade da campanha que não envolvem encontrar pessoas em público".

Smith disse que os repórteres estão tendo que se adaptar a uma nova realidade da quase "ausência de reportagens de campo", tentando encontrar maneiras diferentes de simular essas conversas pessoais.

Mais de um repórter disse que tem prestado muita atenção ao que os eleitores estão perguntando na seção de perguntas e respostas durante as reuniões de zoom com os candidatos. Laura Barrón-López, repórter de política nacional do Politico, mencionou que está mantendo um contato mais próximo com suas fontes. "Estou contando com as minhas fontes constantemente, mantendo o máximo de conversas possível, especialmente com organizadores de movimentos de base ou pessoas que podem me fazer questionar a bolha de Washington. Tentando me certificar de que estou tendo uma imagem a mais ampla possível", ela disse.

Barrón-López também explicou que a pandemia fez com que ela abraçasse novas áreas de cobertura. "Agora também ampliei minha especialidade para incluir a cobertura do coronavírus e do seu impacto desproporcional nas populações negras, latinas e nativos dos EUA. Estou gostando muito, é uma história importante a ser coberta, mas, ao mesmo tempo, ainda estou cobrindo os movimentos Black Lives Matter e, infelizmente, não conseguimos fazer o mesmo tipo de reportagem que estávamos acostumados a fazer, como pegar aviões e ir a eventos", disse ela.

Durante o painel, os repórteres também discutiram os ataques à imprensa e a desinformação, além de como a polarização política afetou os jornalistas e seu trabalho. Para assistir ao painel, clique aqui. Para se inscrever ou ler mais sobre as próximas palestras, visite isoj.org.

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