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Colômbia em alerta após duas semanas de ataques contra a imprensa

Em pouco mais de duas semanas, o jornalismo colombiano teve que enfrentar um de seus maiores medos: o ressurgimento da violência como mecanismo censurador da liberdade de imprensa, algo comum durante o apogeu dos grupos armados e dos cartéis do narcotráfico.

atentado contra o chefe de investigações da revista Semana, Ricardo Calderón; o assassinato de um locutor em Cali, as ameaças a oito jornalistas em Valledupar, e o descobrimento de um plano para assassinar dois analistas políticos e um jornalista de Bogotá prenderam a atenção de autoridades e entidades em prol da liberdade de imprensa no país. O nível de insegurança é tal que, na manhã de 15 de maio, as instalações da revista Semana foram evacuadas por um falso alerta de bomba, informou o jornal El Colombiano.

O Procurador Geral da República, Eduardo Montealegre, disse que "esses casos não podem ser uma simples coincidência” e acrescentou que já existem provas sobre quem são os responsáveis, informou o jornal El Espectador. “Não pensem que grupos criminosos ou inimigos da paz vão desestabilizar o país com atentados contra jornalistas", assegurou o funcionário, segundo o El Espectador.

E é exatamente o problema da paz que parece "incomodar" alguns grupos do país. Pelo menos e o que pensam organizações como a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), a Federação Colombiana de Jornalistas (Fecolper) e algumas das próprias vítimas, que apontam que essa onda de ameaças são reações às denúncias sobre máfias políticas regionais e à negociação de paz realizadas pelo governo com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), publicou a agência Associated Press.

Os analistas León Valencia e Ariel Ávila, e o jornalista Gonzalo Guillén – contra quem era o plano de assassinato revelado – têm publicado uma série de informes sobre as ligações de políticos com máfias de grupos armados em diferentes regiões. Alguns desses políticos foram eleitos prefeitos ou governadores nas eleições de 2011, informou a Reuters.

O caso das ameeaças a oito jornalistas da cidade de Valledupar, estado de Cesar (norte do país) está relacionado à cobertura do processo de restituição de terras. Esse tema tem como origem o roubo de terras que por anos grupos de esquerda e de direita causaram a camponeses de diferentes regiões do país. Após a aprovação da Lei de Vítimas e Restituição de Terras em 2011, o governo busca devolver a cerca de 400 famílias deslocadas pela violência mais de dois hectares de terra, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras.

Desde então, diferentes grupos armados têm se oposto ao processo. Por exemplo, o autodenominado Grupo Anti-restituição de Terras assina o panfleto no qual apontava os jornalistas como “objetivo militar” e lhes dava 24 horas para sair da cidade. Líderes camponeses porta-vozes de famílias deslocadas também têm sido ameaçados e assassinados por esses grupos, informou o portal Verdad Abierta.

Após a ameaça coletiva, a FLIP, a Fecolper e a Associação Nacional de Jornais (Andiarios) se reuniram com o Ministério do Interior, com a Procuradoria, com a Defensoria Pública, com a Polícia Nacional e com a Unidade Nacional de Proteção para analisar a situação dos jornalistas e começar seu processo de proteção por meio da UNP.

Embora a situação dos jornalistas na Colômbia tenha melhorado nos últimos anos como consequência da diminuição da violência, o país é historicamente um dos mais perigosos para o exercício da profissão jornalística, segundo dados do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ).

 

 

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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