Por Alejandro Martínez
O diretor de um jornal da Guatemala acusou o governo de tentar invadir sua casa em duas ocasiões na semana passada, noticiou a agência EFE. Funcionários federais desmentiram a versão e asseguraram que as operações não tinham o objetivo de entrar no domicílio do jornalista ou intimidá-lo.
José Rubén Zamora, diretor de elPeriódico, denunciou que cerca de 20 indivíduos – uns com uniformes policiais, outros portando câmeras, supostamente jornalistas – apareceram na porta de sua casa nos dias 9 e 10 de agosto alegando querer lhe entregar correspondência.
O jornalista disse que em ambas as ocasiões sua esposa impediu que os homens entrassem na casa. Os oficiais deixaram uma patrulha vigiando o domicílio, acrescentou.
Em resposta à acusação, o ministro do Interior, Mauricio López Bonilla, e o titular da Comissão Coordenadora da Política do Executivo em Matéria de Direitos Humanos (COPREDEH), Antonio Arenales Forno, asseguraram em uma coletiva de imprensa que os oficiais não buscavam ingressar no domicílio.
Segundo eles, a operação se tratava de uma intensificação da escolta que cuida da casa de Zamora desde 2003, quando um comando armado prendeu Zamora e sua família por várias horas em seu domicílio. López Bonilla disse que a responsabilidade das medidas cautelares agora passaria da Secretaria de Assuntos Administrativos e de Segurança (SAAS) à Secretaria do Interior.
“Não existe intimidação alguma contra o senhor Zamora e membros de sua família. O que existe por parte do senhor Zamora é uma manipulação dos fatos para criar um sentido de vitimização”, afirmou a COPREDEH em um comunicado de imprensa.
Contudo, Zamora disse que a operação não foi um procedimento administrativo normal e a descreveu como tendo “um contingente desproporcional”.
“Foi exatamente o modus operandi do comando que em 2003 invadiu nossa casa e sequestrou minha família”, afirmou Zamora respondendo ao comunicado da COPREDEH em uma carta obtida pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. “O normal é que me liguem, marquemos uma data e um agente responsável me explique a mudança”.
Zamora também assegurou que seu periódico continua sendo alvo de um boicote econômico e ataques cibernéticos quase diários a seu portal de internet provenientes, segundo ele, do governo.
Zamora é fundador do jornal Siglo Veintiuno que ajudou a prevenir o autogolpe de estado do então presidente Jorge Elias Serrano. Por seu trabalho e duras críticas contra os governantes do país, foi alvo de sequestros, ameaças de morte e atentados.
Em 2003, agentes da contra-inteligência militar simularam sua execução três vezes e o sequestraram em seu domicílio, junto a sua esposa e três filhos, com armas apontadas para sua cabeça. O lar de Zamora é protegido desde então, quando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos ordenou medidas cautelares para o jornalista.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.