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Diretor do Canal 10, na Nicarágua, busca refúgio na embaixada de Honduras em meio a acusações de perseguição contra o canal

A notícia de que Carlos Pastora, diretor-geral do Canal 10, na Nicarágua, buscou refúgio na embaixada hondurenha em Manágua, despertou rumores sobre a suposta perseguição do governo de Daniel Ortega contra o canal.

"Recebemos o sr. Carlos Pastora com um pedido de proteção pela nossa missão diplomática na Nicarágua", confirmou a chanceler hondurenha María Dolores Agüero à mídia de Honduras em 23 de agosto, segundo a agência EFE.

A decisão de Pastora teria sido feita em 21 de agosto, quando iria viajar a Miami para negócios, e agentes da imigração não permitiram que deixasse o país, dizendo que ele estava sob restrição migratória, informou o La Prensa.

Pastora, que também tem nacionalidade hondurenha, procurou ajuda do país ao considerar que estava em perigo, conforme disse no dia 23 de agosto. Em uma carta enviada por Pastora ao Comissário Nacional por Direitos Humanos de Honduras, Roberto Herrera Cáceres, ele pediu proteção para si mesmo e sua família.

"Meus direitos humanos estão sendo violados por parte do governo, e minha família e eu tememos por nossas vidas, denunciando que poderíamos ser mortos, e clamando às autoridades do meu país, que nos ajude imediatamente", escreveu Pastora na carta que foi lida por apresentadores do Canal 10.

As declarações de Pastora reviveram alegações de que o governo de Ortega está perseguindo o Canal 10.

Uma reportagem do jornal Confidencial afirmou que o Acción 10, programa de notícias no canal com a maior audiência do país, tem cobrido os protestos contra o governo desde abril, assim como a "repressão brutal" destes protestos civis.

Devido à cobertura, jornalistas do Canal 10 têm sido assediados por supostos grupos paramilitares, e seu chefe de informação também tem sofrido assédio e ameaças, informou o Confidencial.

A suposta perseguição teria aumentado depois que o empresário mexicano Ángel González se recusou a vender o canal para o governo, acrescentou o Confidencial. González, que criou seu império de mídia na maioria dos países da América Central, controla metade do duopólio de canais na Nicarágua, junto da família presidencial - incluindo filhos e negócios próximos da administração Ortega.

Durante esta semana, o Canal 10 tem enfrentado diferentes situações que fizeram o meio de comunicação e seus jornalistas suspeitarem que o Estado quer influenciar seu trabalho.

Na última segunda-feira, em 20 de agosto, Óscar Ortiz, chefe de informação do Canal 8, estatal, chegou às instalações do Canal 10, afirmando o que ficaria responsável pelos programas de notícias do canal, noticiaram o La Prensa e o Canal 10. Apesar de dizer que fora enviado por Pastora, os funcionários o removeram do local e ressaltaram que não permitiram uma mudança na linha editorial do veículo, que segundo o funcionário do Canal 8, passaria a focar em temas sociais e não mais em questões políticas, segundo o Confidencial.

Em reunião com os funcionários, Pastora negou ter mudado o atual chefe de informação dos programas de notícias, Mauricio Madrigal, segundo o Confidencial. Madrigal também negou que a linha editorial do veículo tenha mudado.

Diante do ocorrido, um grupo de pessoas realizou um protesto pacífico do lado de fora do Canal 10, para demonstrar apoio ao slogan "a verdade não é vendida". Jornalistas indicaram que, em sua maioria, estão "dispostos a pedir demissão" caso a linha editorial do veículo seja modificada ou se o veículo for comprado pelo governo, disse Jairo Castillo, jornalista do Canal 10, em nota do próprio canal. Durante a manifestação, um homem em uma motocicleta foi visto tirando fotos das pessoas que participavam.

Na quarta-feira, 22 de agosto, o governo anunciou que a Unidade de Análise Financeira (UAF) abriu um "processo de inteligência financeira" contra Pastora que, além de ser o diretor do Canal 10, também é parceiro de outras empresas, incluindo a proprietária da Acción 10 e da Radio Televisión Nicaragüense S.A., informou o Confidencial.

"O processo de análise envolve alegações de lavagem de dinheiro, transferência para o exterior de ativos obtidos por recursos de origem ilícita", disse a declaração da UAF, publicada pelo Confidencial.

Em sua carta ao Comissário de Direitos Humanos de Honduras, Pastora ressaltou que a administração de Ortega busca "se apropriar do Canal 10 para censurar vozes independentes".

"Querem me forçar a contratar um jornalista do Canal 8 para vir e regular as publicações dos programas do noticiário. Devido a essa situação, que tem sido acompanhada por ameaças diretas por telefone, monitoramento e intimidação, minha família e eu tomamos a decisão de deixar o país e buscar segurança retornando a Honduras. Ação que não me foi permitida pelo governo (do) sr. Ortega, que emitiu uma restrição de imigração contra mim sem qualquer motivo", escreveu Pastora, de acordo com o que os apresentadores do Acción 10 leram.

Agüero, a chanceler hondurenha, disse que esta foi a primeira vez que uma pessoa buscou proteção na embaixada hondurenha na Nicarágua, segundo a EFE.

"Estamos em um processo de coleta de informações para podermos ter evidências, examinar a situação delicada e determinarmos qual ação será tomada", disse, segundo informou a agência de notícias.

Ela também afirmou que realizará consultas com os governos de Honduras e da Nicarágua.

Desde que os protestos contra Ortega começaram, em abril, os meios de comunicação têm sido vítimas de ataques, ameaças, roubo de equipamento e até de acusações de ligação com terrorismo.

O caso mais sério aconteceu em Bluefields, no leste da Nicarágua, quando o jornalista Ángel Gahona foi morto durante a cobertura de um protesto pelo Facebook Live em 21 de abril. A viúva do jornalista chamou o atual processo judicial contra dois jovens acusados de cometer o crime um "escárnio", porque acredita-se que não sejam os verdadeiros culpados, noticiaram a EFE e o La Prensa.

Em 24 de agosto, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) disse que seu Mecanismo Especial de Monitoramento para a Nicarágua (MESENI) "continua a registrar intimidação, assédio e ameaças contra jornalistas" no país.

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