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Diretor-executivo de organização cubana pela liberdade de imprensa desaparece em meio a ameaças contra jornalistas independentes

Raúl Velázquez, diretor-executivo do Instituto Cubano para a Liberdade de Expressão e de Imprensa (ICLEP, na sigla em espanhol), está desaparecido há seis dias.

Velázquez foi ouvido pela última vez pelo telefone em 1o de fevereiro, quando falou com o diretor da mídia regional Panorama Pinareño e o Diretor de Monitoramento e Avaliação do ICLEP às 7h e às 9h da manhã, respectivamente, de acordo com o ICLEP. Naquele momento, ele viajava da província de Artemisa para Pinar del Río.

Velázquez deveria encontrar-se com Ivis Yanet Borrego Paulín, diretora do Panorama Pinareño, para uma reunião, mas nunca apareceu, informou o ICLEP.

"Tudo estava quieto, não havia operação policial no momento em que ele me ligou. Foi apenas às 10 da manhã, no parque perto da minha casa, que vimos algumas motocicletas com pessoas que não são da área e que pareciam agentes da Segurança do Estado ", disse ela, de acordo com a organização.

A Força Policial Revolucionária Nacional (PNR, na sigla em espanhol) de Pinar del Río e a Unidade de Investigação Técnica da Polícia Política em Pinar del Río disseram que Velázquez não estava detido com eles, informou o ICLEP.

No fim do ano passado, a Polícia Política revistou a casa de Velázquez e o deteve entre 30 de novembro e 4 de dezembro. Nesse período, ele foi submetido a interrogatórios, de acordo com o ICLEP. Ele foi libertado "sob investigação da polícia pelos supostos crimes de propagação de notícias falsas, receber dinheiro do governo dos Estados Unidos, impressão clandestina e incitamento pela não participação nas eleições para delegados às assembleias municipais do Poder Popular", disse o ICLEP. A organização acrescentou que a polícia política o vigiou continuamente.

Em maio de 2017, Velázquez foi libertado pela polícia política sem acusações após 72 horas de detenção.

"ICLEP denuncia a polícia política e a junta militar comandada pelo general e líder de Cuba, Raúl Castro, pelo desaparecimento forçado de seu diretor-executivo Raúl Velázquez", disse a organização.

ICLEP é uma organização sem fins lucrativos fundada para promover a liberdade de expressão e da imprensa em Cuba. Criou meios de comunicação comunitários como Panorama Pinareño, Cimarrón de Mayabeque, Luz Camagueyana e muito mais. Velázquez é diretor-executivo da organização em Cuba.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) pediu às autoridades que investiguem o desaparecimento de Velázquez.

Em um comunicado de imprensa, o presidente da SIP, Gustavo Mohme, condenou "o constante assédio da polícia política ao serviço de um regime intolerante e arcaico que busca destruir jornalistas e associações independentes".

Jornalistas independentes na ilha têm relatado assédio e ações legais nas últimas semanas e dias.

Durante uma "entrevista" em 15 de janeiro com agentes da Segurança do Estado, a jornalista Luz Escobar foi alertada e ameaçada com um processo, segundo 14ymedio, o site em que ela trabalha. O veículo acrescentou que também foi sugerido que a pressão seria colocada sobre sua família.

"Eles ameaçaram dizer aos meus vizinhos que sou uma contra-revolucionária, não me deixar sair do país e processar-me por um crime comum", disse Escobar, de acordo com 14ymedio. O site disse que também havia "uma oferta de colaboração para a jornalista para ajudar a Polícia Política a ‘influenciar a linha editorial de 14ymedio’, porque atualmente ‘é um jornal que recebe orientação do exterior para subverter a Revolução’. "

De acordo com 14ymedio, agentes também acusaram o site de ser financiado pelo governo dos EUA, uma acusação que o veículo nega categoricamente.

No fim de janeiro, Cubanet informou que Iris Mariño, jornalista da La Hora de Cuba em Camaguey, foi acusada de "usurpação de capacidade legal", uma acusação anteriormente feita contra seus colegas Sol García Basulto e Henry Constantin.

Quatro membros da Associação Pró Liberdade de Imprensa (APLP, na sigla em espanhol) foram recentemente convocados a estações de polícia e ameaçados pela polícia política, de acordo com um comunicado da organização republicado por Cubanet. A APLP disse que oficiais condenaram o trabalho da organização para a Revisão Periódica Universal (EPU), um processo que envolve a análise da situação de direitos humanos dos Estados membros da ONU.

E em 2 de fevereiro, agentes da Segurança do Estado ameaçaram a jornalista Adriana Zamora,do Diario de Cuba, e seu parceiro, Ernesto Carralero Burgos, segundo o mesmo jornal.

"Eles acabaram ameaçando-nos, dizendo que compete a Adriana fazer com que sua gravidez corra bem", disse Carralero Burgos, de acordo com Diario de Cuba. Os oficiais tentaram negar que eles os estavam ameaçando.

Repórteres sem Fronteiras (RSF) classificou recentemente Cuba na posição 173º entre 180 países em seu Índice Mundial de Liberdade de Imprensa.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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