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Fotojornalista hondurenho ganha Prêmio James Foley por seu trabalho explorando as 'complexidades do conflito' na América Latina

O fotojornalista e escritor hondurenho Tomas Ayuso é o vencedor do Prêmio James Foley Award de Reportagem de Conflito da Associação de Notícias Online.

Fotojornalista Tomas Ayuso recentemente venceu o Prêmio James Foley de 2019 da Associação de Notícias Online (Foto: Patrick MacLeod)

O prêmio, na quinta edição, reconhece “jornalistas digitais que produzem reportagens sob condições desafiadoras,” de acordo com a Associação de Notícias Online (ONA, na sigla em inglês), que oferece o prêmio.

"O comitê de seleção ficou impressionado com sua inflexível cobertura de conflito na América Latina no que se refere à guerra às drogas, ao deslocamento forçado e à desapropriação urbana", escreveu a ONA em um comunicado à imprensa.

A organização destacou seu projeto “O direito de envelhecer,” em que Ayuso - que cresceu em Tegucigalpa - segue os migrantes hondurenhos quando saem de casa e se veem deslocados no México.

Seu trabalho foi publicado na National Geographic, The New York Times, The Washington Post, Vice News, Danmarks Radio, entre outros. Ele é um bolsista da Open Society Foundations, um National Geographic Explorer e fotógrafo do World Press 6x6 Global Talent Program.

Ayuso será premiado na cerimônia dos Prêmios de Jornalismo Online 2019, em 14 de setembro, em Nova Orleans, nos EUA. ONA, sediada em Washington, D.C., é a maior associação de jornalistas digitais do mundo. Sua missão “é inspirar inovação e excelência entre os jornalistas para melhor servir o público”.

O Prêmio James Foley homenageia o jornalista de conflito americano e cinegrafista que foi sequestrado enquanto trabalhava para o GlobalPost e a Agência France-Presse na Síria e depois morto.

A seguir, uma entrevista do Centro Knight com Ayuso. Foi ligeiramente editada para maior clareza.

 

Foto de Tomas Ayuso

 

Centro Knight: Como e por que você começou sua carreira no fotojornalismo?

Tomas Ayuso: Depois de terminar um mestrado em Conflito e Desenvolvimento na New School, em Nova York, trabalhei com política internacional. Mas por motivos pessoais, tive que sair de Nova York e voltar para Tegucigalpa. Naquele momento, o colapso de Honduras se acelerava à medida que a violência, a instabilidade e o deslocamento das pessoas se tornavam algo normal. As reportagens, muitas vezes superficiais, que algumas agências de notícias dos países desenvolvidos estavam produzindo me surpreenderam por enquadrar os problemas do país recorrendo ao exotismo bombástico e às manchetes hiperbólicas, sem abordar o que estava acontecendo de fato. É claro que foi uma minoria que chegou a esses extremos, mas era desanimador ver como alguns jornalistas estrangeiros chegavam, nos nocauteavam e iam embora, deixando para trás um registro visual de imagens desumanizadoras que reduziram os hondurenhos a adereços nos artigos mais mórbidos e perpetuaram uma narrativa não abordada da crise. Em 2015, acreditei que um hondurenho também deveria contar as histórias de Honduras durante aquele momento histórico. Com a intenção de fazer um trabalho que explorasse as complexidades do conflito, suas fontes, suas vítimas e seus algozes, tanto no país quanto na região, aprendi sozinho como usar uma câmera, abandonei a voz monótona dos textos burocráticos e me joguei.

CK: O que motiva seu trabalho sobre conflito na América Latina?

TA: Quero realmente abordar as questões mais complicadas que a América Latina enfrenta sem sacrificar a dignidade das pessoas afetadas no processo. Através deste trabalho, foco na natureza humana e na luta das pessoas vítimas da desigualdade e tirania, seja de autoritários corruptos ou de gangues poderosas. Tenho esperança que aqueles que são coagidos ao silêncio ou lutem para preservar seu direito à vida me deem a chance de conectar seus testemunhos a uma narrativa que idealmente levará à justiça e à ação.

O estado atual das coisas na América Latina é insustentável. Através do jornalismo, que produz novos conhecimentos e fotografias que cultivam a empatia, pretendo promover uma melhor compreensão dos porquês dos nossos conflitos, para que as gerações futuras não tenham que repetir os mesmos erros daqueles que vieram antes delas.

CK: Há quanto tempo você trabalha no projeto "O direito de envelhecer"? Qual é a parte mais desafiadora em realizá-lo?

TA: O direito de envelhecer existe em alguma forma desde 2016. Naquela época, eu me concentrava mais em um tipo de narrativa em mosaico. Eu queria captar a dimensão da crise, pois todo hondurenho estava sentindo isso, independentemente de qualquer métrica. A abordagem me pareceu muito difusa para realmente expressar o quão profundamente as pessoas estavam sendo afetadas. Em meados de 2017, centrei a narrativa numa forma mais íntima: ter o sujeito, alguém que encapsula uma faceta da crise, para servir de guia e narrador. Reunindo uma série de assuntos que podem nos dizer as diferentes razões pelas quais as pessoas saem, como são os diferentes deslocamentos e como surgem diferentes resultados, surge uma imagem de como eles estão interligados e quão monumental é a luta de um país pequeno.

No que diz respeito aos desafios, conseguir as histórias na frente de um público era muito difícil. Começando sozinho sem qualquer conexão com a indústria, por muito tempo eu não consegui encontrar um ponto de apoio. Agora, felizmente, consegui encontrar espaços para compartilhar essas histórias. Contanto que essas histórias precisem ser contadas, espero poder levá-las a uma audiência.

Atualmente, acho que a parte mais difícil em fazer "O direito de envelhecer" tem sido o preço emocional. A tristeza e a dor que eu vi em primeira mão e ouvi em segunda mão deixaram suas marcas. É insuportável ver as pessoas sofrerem com a sequência de catástrofes provocadas pelo homem que ultrapassam comunidades inteiras. Mesmo tendo estado em risco, testemunhar a desolação que as famílias deslocadas suportam é a parte mais difícil do trabalho. Felizmente, tenho a sorte de ter uma rede de amigos e familiares que estiveram lá para mim a cada passo do caminho.

KC: O que significa ganhar este prêmio que honra o nome de James Foley?

TA: Recebo o prêmio com o nome de James Foley com humildade. Ele colocou a dignidade das pessoas antes de qualquer reportagem, mesmo nos contextos mais angustiantes. Como ele conseguiu se comprometer com o ofício sem perder a noção da humanidade ao seu redor, apesar dos horrores que o cercavam, permanece como um ponto de referência para aqueles de nós que percorremos o caminho que ele abriu. Eu nunca pensei que seria mencionado na mesma respiração que James Foley e muito menos recebesse um prêmio em homenagem a ele, feito para refletir seus valores como homem e jornalista. Por isso, estou sempre honrado e orgulhoso de continuar contando histórias de despossuídos com o mesmo coração aberto e determinação ética dirigida por James Foley.

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