A jornalista espanhola Salud Hernández-Mora desapareceu no último sábado, 21 de maio, ao meio-dia no município de El Tarra, enquanto investigava o fim de cultivos ilícitos na região de Catatumbo, no estado colombiano de Norte de Santander, informou a agência Reuters.
Nesta zona convergem grupos criminosos e grupos guerrilheiros como o Exército de Liberação Nacional (ELN), segundo a revista Semana.
Presume-se que Hernández-Mora, que exerce jornalismo na Colômbia há quase duas décadas e é atual colunista do jornal colombiano El Tiempo e correspondente do espanhol El Mundo, haveria sido sequestrada pelo ELN, o segundo maior grupo armado da Colômbia depois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), de acordo com as declarações do ministro de Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, publicadas pelo jornal El País de España.
“Não temos informação, nem ninguém reclamou se foi sequestrada, ou retida contra sua vontade”, explicou o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que, citando informação do serviço de inteligência de seu país, acrescentou que a última coisa que se soube da jornalista é que foi pega por alguém em uma motocicleta no município de El Tarra para ir ao município de Filogringo, informou El Tiempo.
O presidente Santos escreveu no domingo, 22 de maio, em sua conta no Twitter, que ordenou às forças armadas “prioridade e dedicação”, na busca da jornalista espanhola. As Forças Militares e a Polícia informaram oficialmente que ativaram os protocolos de busca de Hernández-Mora na região.
Hernández-Mora chegou à região de Catatumbo na segunda, 16 de mayo, segundo a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), não só para investigar sobre cultivos ilícitos, mas também sobre o caso do Capitão do Exército Wilmar Durán – condenado a 28 anos de prisão por assassinar um campesino –, e também sobre a morte de “Megateo”, chefe do Exército Popular de Libertação (EPL), terceiro maior grupo guerrilheiro da Colômbia, de ideologia maoísta.
El Tarra ,na zona de Catatumbo, segundo o site de notícias La Silla Vacía, é considerado um município de trânsito de armas e drogas, onde a polícia não tem nenhum controle graças à reforçada presença nos últimos meses do ELN e do EPL.
Segundo El Tiempo, o diretor da Fundación Progresar, Wilfredo Cañizares, disse que atualmente 80% da região de Catatumbo está tomada por cultivos de folha de coca, sendo El Tarra um “enclave estratégico” para o tema de corredores da guerrilha.
“A falta de informação concreta sobre o paradeiro de Salud Hernández-Mora nos preocupa enormemente. Não quero opinar sem ter dados específicos, mas se nossa jornalista está nas mãos de qualquer grupo contra sua vontade, exigimos seu imediato regresso, sã e salva”, declarou na noite de domingo 22 de maio o diretor de El Tiempo, Roberto Pombo. Não obstante, a FLIP informou que Hernández-Mora havia avisado a Pombo que estaria incomunicável até esta segunda.
Esto es lo que se sabe, hasta ahora, de la desaparición de Salud Hernández --> https://t.co/1fcp7nvrwU
— Revista Semana (@RevistaSemana) 23 de mayo de 2016
Na sexta, 20 de maio, a jornalista desaparecida foi despojada de seus equipamentos jornalísticos enquanto entrevistava líderes campesinos da região, e permaneceu na área para recuperá-los, informou a FLIP.
“Salud tem sido uma crítica feroz de meu governo, da Presidência e crítica minha, mas precisamente por isso, por ser uma pessoa que está criticando o governo, que dei instruções à Força Pública para que apliquem todos os esforços necessários para encontrá-la, e colocá-la em liberdade, se é que está retida contra sua vontade”, disse o presidente colombiano, publicou El Tiempo.
Nos últimos meses, segundo a Reuters, o ELN incrementou seus ataques e bombardeios aos oledutos de petróleo do país como forma de pressão ao presidente Santos para aceitar os diálogos de paz.
O ELN se uniu recentemente aos esforços de paz entre o governo e os grupos guerrilheiros do país. Contudo, o presidente colombiano disse que para iniciar as negociações com o ELN, estes devem libertar todos seus reféns, publicou Reuters. Desde fins de 2012, o governo colombiano adianta negociações de paz com as FARC.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.