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Jornalista guatemalteca Claudia Méndez analisa erros judiciais na imprensa como Bolsista Nieman em Harvard

A jornalista guatemalteca Claudia Méndez Arriaza, de 35 anos, faz parte da turma de 2012 de Bolsistas Nieman. Com 13 anos de experiência na profissão (já trabalhou como editora e repórter para o El Periódico e apresentou também o programa de TV A las 8:45), Méndez foi selecionada como a Bolsista Nieman América Latina 2012 da Fundação John S. e James L. Knight.

Enquanto se aproxima fim do prazo de inscrição para as Bolsas Nieman (da Universidade de Harvard), entre outras oportunidades, o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas conversou com Méndez sobre sua experiência como bolsista Nieman em Harvard e sobre como aplicar o conhecimento em seu trabalho como jornalista na Guatemala. Depois de cobrir julgamentos em seu país, relacionados ao assassinato do Arcebispo Juan Gerardi Conedera e ao massacre de Dos Erres, assim como casos de narcotráfico, Méndez hoje estuda erros judiciais e a cobertura deles pela imprensa, como parte de seu projeto Nieman.

CK: O que acha do jornalismo praticado na Guatemala?

CM: É um jornalismo com pelo menos duas ou três novas gerações de jornalistas jovens, que realizam projetos novos, ambiciosos e bastante diferentes. Não se pode comparar nem o jornalismo de cinco anos atrás com o o que é produzido agora. O jornalismo mudou e avançou, mas há muito mais a ser feito. Por exemplo: embora haja um esforço extraordinário para o desenvolvimento do jornalismo local, ainda encontro repórteres de comunidades que me dizem a mesma coisa: "se não está nos veículos da capital, não aconteceu". Talvez seja um reflexo de um vício mais estrutural, além do jornalismo, mas é certo que o jornalismo local está muito ameaçado e fraco ultimamente. No entanto, é possível encontrar histórias como a de uma colega do Sul: as repetidas matéria sobre corrupção em uma prefeitura motivaram mudanças estruturais não só na administração, mas na percepção da população sobre as autoridades.

CK: Por que decidiu concorrer a uma Bolsa Nieman? Como reagiu ao saber que tinha sido selecionada?

CM: En 2007, em ex-bolsista guatemalteco da Fundação Nieman, Julio Godoy, o primeiro jornalista do país a receber a bolsa, me falou sobre a Fundação Nieman e me incentivou a participar. Eu havia acabado de terminar um mestrado em Literatura Hispano-Americana, tinha conciliado o mestrado com o trabalho em tempo integral para o elPeriódico, então precisava de uma pausa na vida acadêmica. Estou em dívida com Julio Godoy, pois até hoje os e-mails nos quais, dois anos depois, ele me incentivou novamente a concorrer a uma bolsa.

Outras pessoas, além de Julio Godoy, me incentivaram a participar, como Jean Marie Simon, uma advogada formada em Harvard que promove uma discussão da violência e das consequências da guerra na Guatemala por meio da fotografia e da educação. Ela me falou da Fundação Nieman, me incentivou e me deu apoio durante todo o processo de inscrição para a bolsa. E, no Fórum de Austin sobre Jornalismo nas Américas, conheci Cecilia Alvear, que me deu o último empurrão: eu tinha dúvidas se deveria ou não me inscrever, pois não estava claro para mim se eu teria apoio financeiro total da Fundação Knight. Mas Cecilia Alvear foi generosa comigo, ao explicar cada passo, inclusive a revisão dos catálogos de cursos para ter idéias mais claras. Comecei a escrever e ex-bolsistas, como Raúl Peñaranda, me aconselharam sobre a inscrição e o ano nos EUA. Também contei com o apoio incondicional de meus chefes, Juan Luis Font e Ana Carolina Alpírez. Menciono todos esses nomes porque essas pessoas foram determinantes, cada conversa, cada resposta e conselho por e-mail explica por que decidi me inscrever: porque tive pessoas que me incentivaram, colegas e mentores que confiaram em mim e me animaram.

Como eu reagi ao saber que havia sido selecionada? Sou uma mulher caracterizada por uma fé cristã, então, quando soube que havia sido selecionada, fiquei muito grata por esse presente de Deus. Senti toda essa emoção, que logo se transformou em exercícios mentais para estabelecer objetivos e aproveitar a oportunidade ao máximo.

CK: Como tem sido sua experiência em Harvard?

CM: Já aprendi muito. Há uma lição diária: repensar conceitos, o que dava como certo. As discussões com os professores, os estudantes, os métodos de estudo e aprendizagem são diferentes e acredito que Harvard propõe, a cada dia, novos questionamentos para seus alunos, para que descubram e repensem o mundo que os cerca. Eu tinha, por exemplo, uma idéia do conceito de "Estado de Direito" que consta, inclusive, da minha proposta de estudo. Em uma aula, transforma-se completamente o conceito em uma pergunta que nos obriga a repensar se realmente há um conceito claro de Estado de Direito no mundo e quem o define. Classes governantes? Classes governadas? Além disso, um estudo literário do século 19 foi uma grande lição para entender quantos processos atuais do jornalismo, por exemplo, foram definidos no exercício da literatura.

CK: Qual foi sua experiência favorita como bolsista?

CM: Há muitas: desde fazer parte de um grupo de trabalho em um programa conjunto da Kennedy e da Law School, no qual realizamos trabalho de campo em instituições do sistema de Justiça em Boston, até descobrir meu novo meio de transporte em Cambridge: uma bicicleta! São muitas experiências: espirituais, pessoais, intelectuais, profissionais. Não posso deixar de lado a relação com os demais bolsistas, que nos ensinam muito sobre suas experiências como jornalistas em várias partes do mundo.

CK: Nos conte um um pouco sobre seu projeto. Do que trata?

CM: O projeto está nascendo: uma análise sobre erros judiciai que a imprensa replica. O impacto da imprensa nos erros judiciais e se a imprensa assume um papel íntegro em todos esses processos. Tenho interesse no tema porque pude testemunhar como uma vida pode se transformar não só com um erro judicial, mas com um erro jornalístico.

CK: Quando volta para a Guatemala? Quais são seus planos?

CM: Acredito que em julho. E planejo voltar a desempenhar minha funções com novas idéias, que pretendo aplicar logo.

CK: Como é possível melhorar/mudar o jornalismo na Guatemala com o que aprendeu em Harvard?

CM: Compartilhando e educando: o jornalismo se transforma quando podemos compartilhar conhecimento e experiência com os novos repórteres. Incentivar e alimentar a curiosidade dos novos profissionais, fazer mais perguntas do que as necessárias, provocar debates sobre nosso papel e como o desempenhamos.

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