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Jornalistas argentinos pedem fim a cinco anos de pressões políticas e a conflitos internos

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  • 13 junho, 2013

Por Alejandro Martínez

Jornalistas argentinos tinham muitas coisas para dizer em seu dia sobre a deteriorada relação da classe com os governantes do país – e sobre os problemas que ameaçam a profissão.

Cerca de 120 jornalistas utilizaram a sexta-feira, 7 de junho, o Dia do Jornalista na Argentina, para se reunir no Senado da Nação, lançar a campanha "Se me calarem, não posso servir a você" e pedir fim tanto às pressões de forças políticas contra os jornalistas como a conflitos internos que debilitam a profissão. O pronunciamento “Nós jornalistas dizemos Basta!”, lido pelo presidente da  FOPEA Fabio Ladetto, refletiu o sentido de urgência para consertar uma situação que tem piorado nos últimos anos.

“Da FOPEA, exigimos respeito à nossa profissão e às nossas pessoas", leu Ladetto. “Dizemos ‘basta’ às tentativas de destruir uma profissão que está no núcleo da democracia, 30 anos depois de recuperada. Esta não é uma tarefa de alguns, mas um feito coletivo."

Por um lado, a FOPEA pediu um fim ao uso discriminatório da publicidade oficial para pressionar os veículos, à discrminação no acesso à informação, nos eventos públicos e nos assédios e desqualificações contra jornalistas a partir dos veículos onde trabalham.

“Os casos de assédio público de jornalistas geraram um alto grau de violência social, que se aprofunda nos lugares de populações menores", disse Ladetto.

Por outro, a organização também pediu para que os jornalistas parem de se hostilizar por terem diferentes análises da realidade, de "disfarçar de informação a posição editorial dentro dos veículos", de usar os espaços de formação como "trincheiras políticas" e pediu o fim da precarização do trabalho na imprensa.

Os jornalistas também pediram o fim das ameaças, pressões e agressões contra profissionais da imprensa. Em 2012, a FOPEA registrou 172 casos de agressões e ameaças, o que representou um aumento de 41% em relação a 2011.

"Podemos dizer que a mensagem [da campanha] é uma advertência em relação a um processo que tem acontecido nos últimos anos na Argentina. Vários exemplos demosntram que há no país uma deterioração na liberdade de expressão que se aprofundou nos últimos anos", disse Andrés D'Alessandro, diretor executivo da FOPEA, em entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

As pressões enfrentadas pela imprensa argentina têm aumentado desde o conflito entre o governo e o setor agropecuário de 2008, durante o qual a mídia – especialmente o Grupo Clarín – não favoreceu o governo da presidenta Cristina Fernández de Kirchner. Desde então, a relação entre o governo e alguns veículos tem se tornado cada vez mais tensa.

Em 2009, o governo de Fernández de Kirchner conseguiu aprovar uma nova Lei de Meios para atualizar as regras obsoletas em relação ao tema e "desconcentrar e desmonopolizar" o mercado midiático do país. No entanto, o Grupo Clarín, o maior conglomerado de mídia da Argentina e a empresa que mais seria afetada pela lei, apontou a regulamentação como um ataque direto contra os veículos privados. O grupo instaurou uma medida cautelar contra a lei que ainda está vigente.

Em maio, o governo da Argentina propôs um projeto de lei para expropriar as ações da fábrica de papel de jornal Papel Prensa. O projeto de lei afetaria o Grupo Clarín, dono de 49% da empresa. O jornal La Nación é dono de 22,5% das ações. O restante é propriedade do governo.

Há algumas semanas, o governo argentino pediu que a associação de futebol trocasse de horário os jogos de domingo para coincidir e competir com o programa Periodismo para Todos de Jorge Lanata, um dos jornalistas mais críticos do governo de Fernández de Kirchner. O programa de Lanata superou o número de espectadores das partidas de futebil por três finais de semana consecutivos.

 

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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