Vinte e dois jornalistas foram assassinados em países da América Latina entre janeiro e junho de 2022. O número é maior que o total de assassinatos de jornalistas nos países da região no ano passado: 17. É maior também do que jornalistas mortos na cobertura da Guerra da Ucrânia: 16 no mesmo período -- outros 14 jornalistas morreram na Ucrânia atuando em combates militares. Os dados são da Press Emblem Campaign (PEC), ONG internacional cujo objetivo é fortalecer a proteção legal e a segurança de jornalistas ao redor do mundo.
“Na América Latina, 22 jornalistas foram mortos nos primeiros 6 meses de 2022, ou seja, 5 a mais do que em todo o ano de 2021. Além do México (13), lamentamos 3 vítimas no Haiti, 2 no Brasil, 2 em Honduras, 1 no Chile e 1 na Guatemala. No Brasil, o assassinato do jornalista britânico com seu colega na Amazônia foi particularmente triste. No México, a deterioração adicional é assustadora, com 2 vítimas por mês. Deve haver impunidade zero," disse à LatAm Journalism Review (LJR) o presidente da PEC, Blaise Lempen.
No caso mais recente na América Latina, o mexicano Antonio de la Cruz se tornou o décimo-terceiro jornalista assassinado no país em 2022, segundo a PEC. Ele foi baleado em 29 de junho perto de sua casa em Ciudad Victoria, estado de Tamaulipas. Sua filha, Cinthya de la Cruz, também foi baleada no mesmo ataque e morreu dois dias depois. O jornalista trabalhava como repórter no jornal Expreso há 15 anos.
"Esse crime ratifica a vulnerabilidade de quem pratica o jornalismo no país. O assassinato do senhor Antonio de la Cruz, assim como os assassinatos de jornalistas cometidos no primeiro semestre do ano, alimentam medo e ansiedade no sindicato jornalístico do país", expresou através de unm comunicado Guillermo Fernández-Maldonado, representante em México da ONU-DH.
A LJR listou todos os casos registrados pela PEC. Nem todos são reconhecidos pelas autoridades como crimes motivados em represália à atividade jornalística exercida pelas vítimas, mas também são poucos os casos que a polícia e a Justiça conseguiram esclarecer. Outras organizações que também monitoram violência contra jornalistas têm critérios diferentes para contabilizar cada caso.
O Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) registra 19 assassinatos de jornalistas na América Latina e no Caribe nos primeiros seis meses de 2022: oito com motivação confirmada e 11 ainda a ser esclarecida. Já a Unesco lista 18 casos no seu Observatório dos Jornalistas Assassinados, enquanto o barômetro Repórteres Sem Fronteiras (RSF), 11. Esta última lista apenas casos confirmados de assassinatos relacionados à atividade jornalística.
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1. Amady John Wesley, Haiti, 6 de janeiro
2. Wilguens Louissaint, Haiti, 6 de janeiro
Os jornalistas haitianos foram assassinados a tiros por um grupo de criminosos enquanto tentavam entrevistar o líder de uma gangue rival. Amady trabalhava para a rádio canadense Écoute FM, de Montreal, e Louissaint era repórter dos veículos online Télé Patriote e Tambou Verité.
3. Pablo Isabel Hernández Rivera, Honduras, 9 de janeiro
O jornalista comunitário e líder indígena foi morto a tiros por pessoas desconhecidas enquanto se dirigia a uma igreja na cidade de San Marcos de Caiquín. Rivera era diretor da rádio comunitária Tenán 94.1 F.M, "La voz Indígena Lenca”, e já havia relatado ameaças de morte em anos anteriores, além de sofrer sabotagem em seu veículo de comunicação.
4. José Luis Gamboa, México, 10 de janeiro
O jornalista mexicano foi esfaqueado em um suposto assalto em Veracruz. Nos dias anteriores à morte, Gamboa havia publicado nas redes sociais críticas severas ao nível de insegurança em sua região. Um suspeito do assassinato foi preso pelas autoridades mexicanas.
5. Alfonso Margarito Martínez Esquivel, México, 17 de janeiro
O fotojornalista mexicano sofreu uma emboscada e foi morto a tiros na frente de sua casa, em Tijuana. Um indivíduo não identificado disparou várias vezes e fugiu. Profissional independente que fotografava cenas de crime, Martínez teve trabalhos publicados em veículos como Zeta Tijuana, La Jornada de Baja California e Cadena Noticias. A polícia identificou e prendeu o suposto autor e dois mandantes do crime.
6. Lourdes Maldonado, México, 23 de janeiro
Mais uma das vítimas da violência contra jornalistas no México, a comunicadora foi assassinada a tiros na frente de sua casa, em Tijuana. Maldonado já havia relatado o medo de perder a própria vida diretamente ao presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador. Após trabalhar em veículos tradicionais como Televisa e Radio Formula, ela apresentava o noticiário local “Brebaje”. Três suspeitos foram presos.
7. Roberto Toledo, México, 31 de janeiro
O cinegrafista e editor de vídeo do portal mexicano Monitor Michoacán foi atacado por três homens armados que atiraram e fugiram, na garagem de seu escritório. “Revelar corrupções de governos, funcionários e políticos corruptos levou à morte de um de nossos companheiros”, disse o diretor do Monitor Michoacán, Armando Linares, após o homicídio. O próprio Linares seria assasinado seis semanas depois, no dia 15 de março.
8. Marcos Ernesto Islas Flores, México, 6 de fevereiro
Aposentado do jornalismo há um ano e meio, o ex-editor do Notiredes, de 30 anos, foi mais uma vítima assassinada a tiros na frente de casa em Tijuana, no México. Segundo o pai e também jornalista Marco Antonio Islas Parra, houve quatro disparos. A Procuradoria Geral do Estado de Baja California informou que prendeu o suposto assassino de Flores.
9. Givanildo Oliveira, Brasil, 7 de fevereiro
Fundador do portal online de notícias Pirambu News, voltado para estudantes de jornalismo e jornalistas das periferias, o comunicador foi morto com tiros na cabeça um dia após noticiar sobre a prisão de um suspeito de duplo homicídio. Em seu veículo, Oliveira cobria principalmente assuntos sobre segurança pública na favela do Pirambu, em Fortaleza, no Ceará. A polícia prendeu um suspeito.
10. Heber López Osorio, México, 10 de fevereiro
Fundador e diretor dos portais Noticias Web de Salina Cruz e RCP Noticias, em Oaxaca, o mexicano foi mais um a ser assassinado a tiros na frente de casa. Um dia antes de morrer, López havia publicado uma denúncia de corrupção contra a ex-funcionária municipal de Salina Cruz Arminda Espinosa Cartas. A polícia prendeu dois suspeitos pelo homicídio.
11. Maxiben Lazzare, Haiti, 23 de fevereiro
Fotojornalista do portal Roi des infos, o haitiano foi morto por tiros da polícia, que disparava para dispersar manifestantes em um protesto de funcionários da indústria têxtil em Porto Príncipe. O primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, lamentou o episódio em publicação no Twitter, e jornalistas realizaram uma manifestação para pedir justiça por Lazzare.
12. Michelle Perez Tadeo, México, 23 de fevereiro
A apresentadora de televisão e modelo de 29 anos foi encontrada morta na zona rural da Cidade do México. Nascida em Veracruz, ela havia se mudado para a capital há nove anos para realizar o sonho de ser apresentadora esportiva. Perez Tadeo deixou um filho de quatro anos. Dois homens suspeitos do crime foram presos.
13. Juan Carlos Muñiz, México, 4 de março
O jornalista mexicano do portal Testigo Minero foi assassinado a tiros em Zacatecas. Muñiz, que também trabalhava como taxista, sofreu os disparos enquanto conduzia seu veículo. Focado na cobertura de violência e crime organizado, ele costumava assinar como “Rigoberto” ou “El TX”, em alusão à outra profissão que exercia. Um suspeito foi preso.
14. Orlando Villanueva, Guatemala, 8 de março
O jornalista guatemalteco foi baleado por indivíduos em um complexo esportivo público em Puerto Barrios, capital do departamento de Izabal, no leste da Guatemala. Villanueva cobria a política local no site Noticias del Puerto, do qual era dono. O site havia publicado recentemente reportagens sobre crimes, questões de segurança e protestos sociais na área.
15. Armando Linares, México, 15 de março
O diretor do Monitor Michoacán foi assassinado a tiros em sua casa na cidade de Zitácuaro, no México, apenas seis semanas após Roberto Toledo, repórter do mesmo veículo, também ser baleado e morto. A morte de Linares levou ao encerramento das atividades do portal, que era especializado em denúncias de corrupção, violência e ligações da política com o tráfico de drogas. As autoridades identificaram dois suspeitos pelo crime.
16. Luis Enrique Ramírez, México, 5 de maio
O corpo do jornalista, fundador do portal Fuentes Fidedignas e colunista do jornal El Debate, foi encontrado em uma estrada em Culiacán, capital do estado mexicano de Sinaloa. Segundo a Procuradoria Geral do Estado, Ramírez sofreu um “traumatismo craneoencefálico por golpes contundentes”. Cerca de três meses antes de sua morte, o comunicador escreveu que “queremos estar vivos e vivas para exercer a livre expressão”.
17. Yesenia Mollinedo, México , 9 de maio
18. Sheila Johana García, México, 9 de maio
A diretora (Yesenia) e a repórter (Sheila) do portal mexicano Veraz, de Veracruz, foram assassinadas a tiros dentro de um carro, no estacionamento de uma loja de conveniência. A polícia prendeu o suposto autor do crime. A mãe de Yesenia, Aurora, afirmou que a filha já havia sofrido ameaças e perseguições. Dois suspeitos foram presos.
19. Francisca Sandoval, Chile, 12 de maio
A jornalista do Señal 3 La Victoria, do Chile, foi baleada enquanto cobria a marcha do Dia do Trabalhador, em 1º de maio. Ela permaneceu internada por 12 dias, mas não resistiu aos ferimentos. “Francisca não nos deixou. Eles a assassinaram”, publicou o Señal 3 no Twitter. Um suspeito foi preso pelo homicídio.
20. Ricardo Alcides Ávila, Honduras, 25 de maio
O jornalista hondurenho de 25 anos, redator e cinegrafista da emissora independente MetroTV, sofreu um tiro na cabeça enquanto se deslocava de moto até o trabalho. A polícia inicialmente trabalhava com a hipótese de roubo, mas, segundo o Comitê para a Liberdade de Expressão (C-Libre), a vítima foi encontrada com dinheiro, celular e moto.
21. Dom Phillips, Brasil, 5 de junho
O jornalista inglês, que vivia no Brasil há 15 anos e colaborava para o The Guardian, foi encontrado morto no Vale do Javari junto com o indigenista Bruno Pereira. A polícia prendeu um pescador que confessou ter assassinado ambos a tiros e depois escondido os corpos na floresta. O suposto mandante se entregou à polícia.
22. Antonio de la Cruz, México, 29 de junho
O mexicano foi assassinado junto com a sua filha. Ele cobria meio ambiente, conflitos comunitários e outros assuntos locais para o Expreso há 23 anos. O jornalista usava as redes socias para fazer críticas a políticos e ao governo. Centenas de jornalistas e comunicadores fizeram um ato para pedir justiça para de la Cruz e os demais jornalistas mexicanos assassinados recentemente.