Por Carlos Soria Galvarro, diretor adjunto da Radio Sur Agricultura e membro do conselho nacional da AMARC-Bolivia
Um total de 15 agressões contra jornalistas e cinegrafistas de veículos estatais e privados foram registrados durante o conflito policial ocorrido na Bolívia, entre os dias 21 e 26 de junho.
Os dados foram informados pela “Unidade de Monitoramento e Vigilância da Liberdade de Expressão” da Associação Nacional da Imprensa (ANP) da Bolívia com base num estudo realizado em cinco cidades. Os mais afetados nos incidentes violentos, protagonizados por policiais amotinados, foram os jornalistas e cinegrafistas do canal e da estação de rádio governamentais.
As informações recolhidas de fontes distintas indicam que os jornalistas e cinegrafistas da Bolivia TV foram empurrados e agredidos após terem sido confundidos com informantes do governo. A jornalista da também estatal Radio Patria Nueva, Helen San Román, sofreu golpes dos policiais durante manifestações registrada na Praça Murillo, de La Paz. Na cidade de Oruro, a jornalistas da emissora privada PAT, Irene Torrez, também foi vítima de agressão física enquanto cobria o conflito dos policiais. Oficiais de baixa patente encarregados da ordem pública ocuparam unidades policiais de várias cidades, reivindicando do governo um aumento salarial, o reconhecimento do direito de expressar insatisfações e melhores condições de trabalho. Seus pedidos foram atendidos parcialmente após intensas negociações.
Conflitos, cobertura arriscada
Os dados informados acima confirmam uma lamentável tendência que tem se confirmado nos últimos anos: os jornalistas são vítimas de agressões durante a realização de seu trabalho de cobertura dos numerosos conflitos que acontecem no país.
Segundo uma base da dados do Observatório Nacional de Meios (ONADEM), entre 1 de outubro de 2007 e 30 de setembro de 2010 foram registrados 473 episódios de agressão a jornalistas, principalmente nas cidades de La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Mais da metade dos casos afetaram jornalistas de emissoras de televisão, cerca de 25% foram contra jornalistas de veículos impressos e 16% contra radialistas.
Cerca de 20% dos agressores eram dos setores sociais em protesto; 16% eram apoiadores do governo; 14% eram agressores não identificados e 11% eram policiais. (Ver “Veículos à vista”, Informe sobre o jornalismo na Bolívia , 2005-2008 e “Veículos à vista 2”, Análise sobre o Direito à Informação e Comunicação e sobre o Jornalismo na Bolívia, 2009-2011. Publicações da Fundação UNIR).
Insegurança atinge a jornalistas
No último dia 25 de fevereiro foram encontrados mortos os corpos de Verónica Peñasco Layme e Víctor Hugo Peñasco Layme, na cidade de El Alto, próxima a La Paz, a sede do governo boliviano.
Verónica era chefe de redação da mais antiga e prestigiada emissora aymara Radio San Gabriel, e apresentadora do programa “Markasan Arupa” (a voz do povo), transmitido pelo Canal 7- Bolivia Tv. Seu irmão mais novo, Víctor Hugo, era locutor da emissora de rádio educativa indígena Radio Pachaqamasa.
A indignação em relação a esse crime ainda não havia cessado quando, em meados de maio, houve um acontecimento semelhante: o jornalista Eugenio Aduviri, da editoria de esportes do jornal La Razón, foi assassinado num assalto enquanto voltava de seu trabalho durante a madrugada.
Três jornalistas assassinados em menos de três meses. As investigações policiais afirmaram que ambos os casos se trataram de crimes comuns. Alguns dos responsáveis foram detidos e estão em processo de julgamento.
Um seguro de vida
A comoção iniciada pelo assassinato dos irmãos Peñasco Layme motivou uma iniciativa governamental para o estabelecimento legal de um seguro de vida para jornalistas, a ser financiado com recursos provenientes de publicidade.
A ideia foi apoiada pelas associações de jornalistas e também pelo setor empresarial do meio, mas ainda não houve consenso em relação aos termos para torná-la efetiva. Entre os motivos para isso estão as crises internas que as organizações sindicais dos trabalhadores da imprensa têm enfrentado. Entretanto, as empresas jornalísticas foram convocadas a oferecer mais segurança e transporte a seus profissionais, particularmente durante os turnos noturnos.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.