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Jornalistas da América Latina criam equipes multinacionais para investigar crime organizado e outros temas

Motivados por problemas comuns a diversos países da América Latina, como o crime organizado ou o impacto ambiental de projetos transnacionais, jornalista do continente estão unindo esforços para investigar temas que ultrapassam fronteiras. A tendência, conhecida como jornalismo transfronteiriço, permite não apenas a análise de tais problemas, mas também tem ajudado a aumentar o público.

Em 2012, dois projetos revelaram que, obtendo financiamento com a ajuda das redes sociais para várias investigações simultâneas em diferentes países - e com o apoio de organizações não lucrativas, é possível fazer com que os jornalistas trabalhem em equipe por um objetivo comum. “Todo trabalho coletivo entre jornalistas demanda generosidade, humildade e muito profissionalismo”, disse ao Centro Knight o jornalista colombiano Carlos Eduardo Huertas, um dos líderes do jornalismo transfronteiriço na América Latina e ex-bolsista Nieman na Universidade de Harvard.

Em outubro, veículos digitais de quatro países latino-americanos publicaram simultaneamente reportagens sobre as vítimas do crime organizado. Coordenados pela InSight Crime (organização dedicada à cobertura do crime organizado na região), os sites de notícias Verdad Abierta, da Colômbia, El Faro, de El Salvador, Plaza Pública, da Guatemala, e Animal Político, do México, discutiram a exploração sexual de mulheres na Guatemala e em El Salvador, o recrutamento de crianças por grupos guerrilheiros na Colômbia e até o desaparecimento de engenheiros outros profissionais obrigados a trabalhar para o crime organizado no México.

“O objetivo foi mostrar que podemos nos ver no espelho de outros países”, disse Oscar Martínez, do El Faro.

Daniel Moreno, editor do Animal Político, acrescentou que “foi um trabalho que nos obrigou a ver além do nosso próprio umbigo”.

O colombiano Huertas fundou recentemente a organização sem fins lucrativos Connectas, para apoiar investigações em vários países da América Latina. O primeiro projeto foi o La Autopista de la Selva, sobre o impacto ambiental da rodovia Interoceánica Sur, que atravessa a Amazônia desde a costa peruana, no Pacífico, até a costa brasileira, no Atlântico. Estavam envolvidas a agência peruana Infos, a rede de arquitetura e urbanismo SAP e a agência de investigação ambiental EIA. A reportagem foi publicada em inglês, espanhol e português e teve mais de 330.000 visitas desde sua publicação. Outros veículos da região reproduziram o texto, como o Ciper no Chile, o Clarín na Argentina e O Estado no Brasil.

A investigação contou com financiamento da Fundação Knight, mas 15% dos recursos foram arrecadados por doações do público pela internet (pelo chamado crowdsourcing). “Com essas doações, tivemos a necessidade de informar frequentemente sobre os avanços do projeto”, explica Huertas.

Tais projetos também ajudam a aumentar a audiência e o prestígio dos veículos digitais. O El Faro, por exemplo, informou que o número de visitas a seu site triplicou com essa reportagens multinacional, que ficou entre os 15 textos mais lidos de 2012. O projeto, que incluiu elementos multimídia, também aumentou o tempo que os usuários passavam nos sites de cada meio. “O projeto nos permitiu chagar a outro público, que prefere informação visual por mapas, gráficos interativos e vídeos”, disse Moreno.

Os jornalistas envolvidos aprenderam com a experiência dos colegas e puderam ampliar a rede de contatos em outros países. “A experiência nos serviu para entender os modelos de trabalho do jornalismo digital em outros países e, assim, enriquecer nosso trabalho”, assegura Moreno.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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