Juan Carlos Muñiz Hernández combinava seu trabalho como repórter da editoria de crime para o portal Testigo Minero com a operação de um táxi na cidade de Fresnillo, no estado mexicano de Zacatecas. Muñiz aproveitava seus trajetos pela cidade a bordo de seu táxi para cobrir, dia e noite, casos de violência, crime ou acidentes que encontrava em seu caminho.
Muñiz era conhecido pelo pseudônimo “Rigoberto” e o povo de Fresnillo o apelidava de “El TX”, em referência à sua ocupação como motorista de táxi. O jornalista também fazia colaborações frequentes para rádios locais como B-15 e Rádio Zacatecas 97,9 FM.
Muñiz foi assassinado na sexta-feira, 4 de março. Homens o interceptaram e atiraram nele à queima-roupa enquanto ele dirigia seu veículo no bairro de Los Olivos, de acordo com relatos da mídia local. Muñiz tornou-se assim o sétimo comunicador morto até agora em 2022 no México. O jornalista de 36 anos era casado e pai de quatro filhos: duas meninas de 14 e 12 anos, uma criança de 2 anos e um bebê de 10 meses.
Organizações sociais e associações de jornalistas, tanto no México como internacionalmente, repudiaram o assassinato de Muñiz e exigiram justiça das autoridades mexicanas, enquanto estas, até segunda-feira, 7 de março, não haviam falado muito sobre isso.
O Ministério Público de Zacatecas limitou-se a emitir uma declaração horas após o assassinato, anunciando que abriu uma investigação com base no protocolo de investigação de crimes contra a liberdade de expressão e que entrou em contato com o Mecanismo de Proteção de Defensores dos Direitos Humanos e Jornalistas do Ministério do Interior.
O subsecretário de Segurança Pública do México, Ricardo Mejía Berdeja, referiu-se brevemente ao ocorrido durante a conferência matinal do presidente Andrés Manuel López Obrador em 7 de março. Ele disse, sem dar mais detalhes, que os responsáveis pelo assassinato já foram identificados e que sua prisão será decretada.
Enquanto isso, a organização Repórteres Sem Fronteiras condenou o assassinato de Muñiz por meio de suas redes sociais e exigiu que a Promotoria de Zacatecas investigue os fatos considerando o trabalho jornalístico da vítima, bem como forneça a seus familiares as medidas de proteção necessárias.
A Artigo 19 do México anunciou que já estava documentando o assassinato de Muñiz e se juntou à demanda para realizar uma investigação exaustiva que tenha como eixo principal o trabalho da vítima.
Por sua vez, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também condenou o ocorrido e pediu o fim da violência enfrentada por jornalistas no México.
"Chegou a hora de que o 'basta' brandido por jornalistas, organizações e meios de comunicação, indignados com a falta de justiça pelos assassinatos contra comunicadores, deixe de ser um slogan e se torne uma ação efetiva do governo para acabar com a violência", afirmou Carlos Jornet, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, em comunicado publicado em 7 de março. "São necessárias punições exemplares, para que fique claro aos assassinos que seus crimes não permanecerão impunes.”
A Comissão de Direitos Humanos do Estado de Zacatecas (CDHEZ) lamentou e condenou o assassinato de Muñiz e pediu que a proteção da vida, integridade pessoal, segurança e liberdade de expressão seja garantida aos jornalistas para que possam realizar seu trabalho.
“(A CDHEZ) reitera o apelo às autoridades estatais para implementar imediatamente um Mecanismo de Proteção aos Jornalistas, estabelecendo garantias de segurança e medidas preventivas e de proteção urgentes para os membros do grêmio jornalístico”, disse María de la Luz Domínguez, presidente da organização.
Da mesma forma, a Federação de Associações de Jornalistas da Espanha (FAPE) e a Federação Internacional de Jornalistas (FIP) condenaram o assassinato do jornalista de Zacatecas e exigiram uma investigação urgente no âmbito do protocolo de crimes contra a liberdade de expressão.
“Diante deste cenário alarmante, a FAPE, a FIJ e o SNRP (Sindicato Nacional de Redatores da Imprensa do México) exigem que sejam tomadas medidas urgentes para proteger os comunicadores em todo o território mexicano e que sejam encontrados e punidos os responsáveis […] dos assassinatos que ainda permanecem impunes”, disseram as organizações em um comunicado.
Juan Carlos Muñiz foi velado no fim de semana em Fresnillo e foi homenageado com uma missa no domingo, que contou com a presença de familiares, amigos e colegas do meio jornalístico de Zacatecas, além de membros do Corpo de Bombeiros de Fresnillo, do qual também fazia parte.
Os jornalistas presentes exibiram faixas com as legendas "Nem silêncio nem esquecimento", "Justiça para Juan Carlos Muñiz", "Pare com a violência, chega de jornalistas assassinados", "Nós somos a imprensa, não atire" e "Você não mata a verdade matando jornalistas”, entre outros, segundo o La Jornada.
Colegas presentes no funeral de Muñiz disseram que o assassinato teve um impacto direto na liberdade de expressão em Zacatecas, já que desde a morte de seu colega, alguns meios de comunicação suspenderam a cobertura de eventos violentos no estado e não descartam que isso possa produzir um vazio de informação devido ao risco do exercício do jornalismo, informou a emissora B-15.
Nos primeiros dois meses de 2022, seis jornalistas perderam a vida de forma violenta no México. O mais recente antes de Muñiz foi Jorge Camero Zazueta, assassinado em 24 de fevereiro no estado de Sonora.