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Jornalistas enfrentam intimidações e obstruções ao cobrir eleições na Venezuela

Atos de intimidação, impedimentos às coberturas e a detenção de pelo menos três jornalistas foram alguns dos casos de violações à liberdade de imprensa registrados durante as controversas eleições presidenciais realizadas na Venezuela neste domingo, 28 de julho, de acordo com organizações de defesa do jornalismo.

O Instituto Prensa y Sociedad Venezuela (Ipys) relatou a ocorrência de pelo menos 41 violações às liberdades de informar em 13 estados do país durante o dia de votação e a segunda-feira (29 de julho). Desses 41 casos, 27 foram restrições de acesso à informação e 12 foram agressões físicas ou verbais. O restante incluiu uma detenção arbitrária e uma deportação.

Anteriormente, a Espacio Público registrou pelo menos 30 denúncias de violações à liberdade de expressão durante a jornada eleitoral até a manhã de segunda-feira. Vinte e seis dessas denúncias foram casos de intimidação a membros da imprensa em várias partes do país.

Anteriormente, a organização Espacio Público havia relatado pelo menos 30 denúncias de violações à liberdade de expressão, 26 das quais se referiam à intimidação de membros da imprensa. Entre as vítimas dos casos registrados pela Espacio Público estavam pelo menos 32 jornalistas, sete meios de comunicação, dois fotógrafos e um cinegrafista.

Vários dos atos de intimidação contra membros da imprensa ocorreram em centros de votação ao longo do país, segundo ambas as organizações. Esses atos incluíram impedir repórteres de entrar nas cabines de votação, obstruir entrevistas com eleitores e tirar fotos de representantes dos meios de comunicação.

O jornalista Rafael Ramírez, do meio digital Noticias Todos Ahora, foi vítima de ameaças e intimidação por parte de um membro da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) em um centro de votação em Puerto Ordaz, no estado Bolívar. Segundo o veículo, seu repórter foi acusado pela GNB de “instigar ao ódio” por tentar entrevistar pessoas que reclamavam da remoção de uma máquina de votação devido a supostos defeitos.

O Notícias Todos Agora afirmou que um membro da GNB ordenou a um grupo de pessoas em motocicleta que fotografassem Ramírez e o táxi no qual ele foi forçado a deixar o local.

A Espacio Público relatou que a jornalista do meio digital Tal Cual Luna Perdomo sofreu intimidações por uma funcionária da Força Armada Nacional (FAN), que lhe pediu para se retirar de um centro de votação localizado em uma escola em Caracas, apesar de ter credenciamento do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

“Perguntei por que deveria abandonar o centro eleitoral se estava fazendo meu trabalho. Na verdade, naquele momento, estava sentada escrevendo posts para a rede social X”, contou Perdomo em um vídeo em sua conta pessoal na rede social X. “Ela me disse que eu tinha que sair porque ela estava me pedindo para sair antes que ela me retirasse à força.”

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa da Venezuela (SNTP) relatou que a jornalista Daniela González, do jornal local La Nación, foi retirada de outro centro de votação em uma escola no estado de Táchira, apesar de também estar credenciada pelo CNE. A responsável pelo centro eleitoral lhe disse que só podia entrevistar pessoas do lado do governo, segundo relatou a organização no X.

O SNTP também denunciou que a jornalista Francesca Díaz, do jornal Correo del Caroní, foi intimidada no centro de votação onde foi emitir seu voto o governador do estado de Bolívar. De acordo com a organização, um sujeito não identificado tentou tirar a credencial de Díaz e fotografá-la enquanto ela gravava protestos da população contra o governador.

“Saindo da votação, o governador foi vaiado. Após registrar a situação, Díaz fez um relatório radiofônico e o cidadão não identificado se aproximou e pediu para saber sua identidade”, relatou o SNTP nas redes sociais. “‘Se sair uma informação errada do governador, já sei a quem culpar’, a disse”, acrescentou o o sindicato.

No estado de Cojedes, os meios de comunicação Últimas Notícias, VTV, Venevisión, Digital Visión e Agência Cojedeña de Investigação foram intimidados por funcionários do Plan República, como é conhecido o operativo militar implementado durante os processos eleitorais na Venezuela. O Ipys denunciou que representantes desses meios de comunicação foram impedidos de acessar um centro de votaçã, apesar de terem credenciamento do CNE.

Quando finalmente os meios conseguiram entrar, os representantes do Plan República os impediram de capturar imagens, disse o Ipys em sua conta na X.

No estado Delta Amacuro, na manhã de domingo, indivíduos que se deslocavam em um veículo da Corporación Eléctrica Nacional cortaram o fornecimento de eletricidade ao prédio onde operam a rádio Fe y Alegría 92.1 FM, a emissora regional Ka Ina TV e a redação do noticiário digital Tane Tanae, conforme denunciaram ao SNTP trabalhadores desses meios.

Embora o serviço tenha sido restabelecido posteriormente, a Espacio Público classificou o incidente como um ataque e tentativa de censura.

Os ataques e atos de intimidação contra a imprensa que cobriu o processo eleitoral começaram antes mesmo do dia das eleições. O Colegio Nacional de Periodistas (CNP) informou que nas semanas anteriores à jornada eleitoral havia registrado pelo menos 102 agressões a jornalistas e meios de comunicação, de acordo com o site La Patilla.

Somente no mês de julho, a organização registrou 12 sites informativos bloqueados. Além disso, nos meses anteriores, pelo menos 14 emissoras de rádio haviam sido fechadas. O CNP também registrou pelo menos 31 casos de intimidação, nove de assédio e 12 de impedimentos de cobertura antes das eleições.

Por sua vez, o Ipys documentou que, no dia 27 de julho, as jornalistas colombianas Vanessa De La Torre e Carolina Trinidad, enviadas pela Caracol Radio, foram expulsas da Venezuela. De La Torre publicou em sua conta no X um documento carimbado pelas autoridades de Migração do aeroporto internacional de Caracas, no qual são consideradas “inadmissíveis” em território venezuelano por não cumprirem “com o perfil migratório para ingressar ao território nacional”.

O jornalista argentino Jorge Pizarro, da cadeia Radio Rivadavia, também foi deportado dias antes da jornada eleitoral, de acordo com o Ipys. Pizarro contou em seu meio de comunicação que, no aeroporto de Caracas, funcionários venezuelanos lhe negaram a entrada no país, retiveram seu passaporte, o interrogaram 10 vezes, tiraram 14 fotos em diferentes lugares e o fizeram gravar um vídeo no qual teve que dizer quem era e o que pretendia fazer na Venezuela, segundo a organização.

Detenções arbitrárias

Durante a jornada eleitoral de 28 de julho na Venezuela, as organizações de defesa da liberdade de imprensa também registraram pelo menos três detenções de membros da imprensa.

O SNTP relatou que agentes da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) detiveram o jornalista espanhol Cake Minuesa, repórter do meio digital OK Diario na madrugada de segunda-feira.

Minuesa teria afirmado que os resultados da eleição, que preliminarmente deram a vitória ao atual presidente, Nicolás Maduro, constituíram uma fraude eleitoral, de acordo com a Espacio Público.

Horas depois, na manhã da mesma segunda-feira, o OK Diario informou que seu repórter havia sido liberado “após intensas e discretas gestões realizadas pelo Ministério das Relações Exteriores” e pela embaixada da Espanha em Caracas. Minuesa foi transferido para Bogotá, para depois ser deportado para a Espanha, afirmou o meio europeu.

No domingo, a jornalista Erika Rincón e o cinegrafista Miguel Pachano, do Diário Órbita, do estado de Anzoátegui, foram detidos enquanto gravavam material audiovisual na Plaza Bolívar da cidade de El Tigre, segundo o SNTP. Os jornalistas estavam supostamente utilizando um drone para captar imagens aéreas, segundo a organização.

Os jornalistas foram levados a um Destacamento de Segurança Urbana por funcionários do Plano República, de acordo com o jornal local El Tiempo. Cinco horas depois, Rincón e Pachano foram liberados após assinar um termo de liberação, embora seu drone tenha sido confiscado.

Traduzido por André Duchiade
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