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Jornalistas latino-americanos sofreram 630 ataques durante o primeiro semestre de 2020

Entre janeiro e junho de 2020, foram registrados 630 ataques contra a imprensa na América Latina, segundo Voces del Sur, uma iniciativa voltada para a liberdade de imprensa na região. Os ataques aumentaram ou pioraram depois que os governos declararam estado de  emergência de saúde. 

O projeto regional publicou seu primeiro relatório conjunto sobre o monitoramento de agressões e ataques a jornalistas latino-americanos que cada organização realizou localmente.

Reporte 2020 del colectivo Voces del Sur

Relatório de Voces del Sur 2020

Participam do Voces del Sur 11 organizações da sociedade civil que defendem a liberdade de expressão e a imprensa. São elas: Fundamedios, do Equador; Instituto de Prensa y Sociedad (IPYS), do Peru e Venezuela; Foro de Periodismo Argentino (Fopea), da Argentina; Asociación Nacional de Prensa de Bolivia; Comité por la Libre Expresión (C-Libre), de Honduras; Centro de Archivos y Acceso a la Información (CAinfo), do Uruguai; Fundación Violeta Barrios de Chamorro, da Nicaragua; Instituto Demos, da Guatemala; Associação de Jornalismo Investigativo (Abraji), do Brasil; e o Instituto Cubano de Libertad de Expresión y Prensa, de Cuba.

Dos 630 ataques registrados, o relatório observou que 225 eram em sua maioria ataques físicos. Da mesma forma, ocorreram 126 casos de discursos estigmatizantes, 77 restrições na Internet, 75 casos de dificuldade de acesso à informação, 43 detenções arbitrárias, 33 de uso abusivo do poder do Estado contra jornalistas e meios de comunicação.

Também documentaram 32 processos judiciais contra os meios de comunicação e profissionais da imprensa, 8 intervenções no quadro jurídico que infringiram as normas internacionais de liberdade de expressão e acesso à informação, 6 sequestros, 3 casos de tortura, um homicídio e um desaparecimento forçado.

O principal agressor foi o Estado, afirma o relatório, sendo responsável por 453 casos do total dos ataques contra jornalistas e meios de comunicação nos países monitorados.

O relatório também mapeou as leis que foram usadas para criminalizar a desinformação durante a pandemia. Por exemplo, na Bolívia, indica o relatório, o governo interino tentou até quatro vezes publicar decretos para sancionar publicações que eles considerem desinformação. No entanto, a rejeição das organizações da sociedade civil boliviana conseguiu evitar os decretos, afirmou.

Segundo a aliança de organizações, a pandemia definiu a partir de março um eixo comum de cobertura e novos desafios para o jornalismo latino-americano, a emergência sanitária.

Voces del Sur reporte 2020

Número de agressões contra jornalistas do relatório 2020 do Voces del Sur

No Equador, o estado de emergência contribuiu para que muitos jornalistas fossem privados das proteções necessárias para cobrir a pandemia. Segundo a reportagem, o Equador foi um dos primeiros países a denunciar a morte de jornalistas por COVID-19 após realizarem seu trabalho.

Houve casos de prisões arbitrárias de jornalistas pela polícia na Guatemala. Enquanto estavam no Peru, jornalistas foram ameaçados pelo WhatsApp e pelo Facebook por autoridades locais após reportagens que teriam revelado atos de corrupção durante a pandemia.

No Brasil, que conta com a Lei de Acesso à Informação desde 2011, o presidente Jair Bolsonaro publicou em março deste ano medida para suspender as respostas aos pedidos de acesso à informação, estabelecendo limites arbitrários. A medida foi posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal.

Prisões arbitrárias de jornalistas continuam na Venezuela. Segundo o IPYS Venezuela, nos primeiros seis meses do ano ocorreram 30 prisões arbitrárias de jornalistas. Muitas ocorreram depois que o presidente venezuelano Nicolás Maduro decretou a emergência sanitária em 13 de março.

Na Nicarágua, os ataques e ameaças contra a imprensa continuaram com a mesma intensidade desde que eclodiram os protestos sociais contra o regime de Daniel Ortega em abril de 2018.

Os jornalistas cubanos continuaram a ser ameaçados com o Decreto Lei 370. Com este decreto, qualquer opinião ou informação nas redes sociais pode ser sancionada diretamente com multa, sem ter de passar por um tribunal.

Somente entre janeiro e junho deste ano 30 pessoas foram interrogadas e multadas, segundo o estudo. A multa imposta pelo decreto equivale a US$ 120 e, caso não o jornalista não pague o valor, pode ser punido com até 6 meses de prisão.

O Uruguai aprovou a Lei de Consideração Urgente no início de julho, que inclui artigos que violam o direito de protesto, liberdade de expressão e acesso à informação pública, disse o relatório.

Leia o relatório completo aqui.

Esta história foi originalmente escrita em Espanhol e traduzida por Marina Estarque. 

 

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