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Organizações internacionais pedem aos EUA que revejam negativa de visto ao jornalista Hollman Morris

Numa demonstração de solidariedade internacional, organizações de jornalismo e de direitos humanos de todo o hemisfério se uniram para pedir ao governo dos Estados Unidos que reverta a decisão proibindo o renomado jornalista colombiano Hollman Morris de entrar no país como bolsista da Fundação Nieman, na Universidade de Harvard.

A embaixada americana em Bogotá negou o visto ao jornalista, impedindo sua participação nos estudos. Em seu premiado programa de televisão Contravía, Morris faz duras críticas ao conflito armado na Colômbia e às políticas governamentais nessa área. Ele revelou ligações entre chefes paramilitares e representantes do governo colombiano, causando a prisão de 30 parlamentares, como relata uma matéria da Columbia Journalism Review.

Apesar – ou talvez por causa – de seu trabalho com direitos humanos, Morris foi considerado permanentemente inelegível para um visto americano, com base na seção do Ato Patriota dos EUA que trata de "atividades terroristas", informaram a Associated Press, o Washington Post e O Globo.

"Ficamos muito surpresos. Isso nunca aconteceu antes", disse à Associated Press o curador da Fundação Nieman, Bob Giles. "Hollman havia viajado anteriormente para os Estados Unidos para dar palestras e receber prêmios". Morris participou do Austin Fórum sobre Jornalismo nas Américas em 2009, quando falou sobre "O outro lado das tecnologias digitais: como os governos usam a tecnologia para espionar jornalistas e defensores dos direitos humanos — o caso da Colômbia".

Sociedade Interamericana de Imprensa, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), a Sociedade Dart e a Repórteres e Editores Investigativos são algumas das organizações de imprensa que pedem ao governo dos EUA que reveja a decisão.

"As leis antiterrorismo são uma ameaça à democracia se podem causar a vitimização chocante e perversa de pessoas como Hollman Morris, verdadeiros defensores dos direitos humanos", disse Aidan White, secretário-geral da IFJ.

O CPJ advertiu que negar o visto a Morris, vítima de ameaças de morte e de uma campanha para desacreditá-lo, pode colocar sua vida em perigo ainda maior. Como lembra o CPJ, Morris teve seu telefone grampeado, foi espionado pela agência colombiana de inteligência e acusado pelo presidente Álvaro Uribe de ter ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) - um grupo considerado terrorista pelos governos dos Estados Unidos e da Colômbia.

As organizações American Civil Liberties UnionAmerican Association of University Professors e PEN American Center enviaram uma carta à secretária de Estado, Hillary Clinton, pedindo que a entrada de Morris seja autorizada.

No início deste ano, Clinton reverteu restrições semelhantes contra o professor de ciências políticas sul-africano Adam Habib, e o professor suíço de estudos islâmicos Tariq Ramadan. Na carta enviada a Hillary, as organizações observam que "a recente notícia de que Morris teve seu visto negado contradiz as decisões do governo nos casos Habib e Ramadan".

A carta também afirma que "nenhum interesse legítimo é favorecido pela exclusão de cidadãos estrangeiros por motivos ideológicos. A exclusão ideológica empobrece a investigação intelectual e o debate nos Estados Unidos, sugerindo ao mundo que nosso país está mais interessado em silenciar que engajar seus críticos, e enfraquece nossa capacidade de apoiar o dissenso em nações politicamente repressivas".

Associação Nacional de Jornalistas Hispânicos e a UNITY: Journalists of Color se dirigiram ao embaixador dos EUA em Bogotá, pedindo que reveja a decisão.

Recentemente, Morris foi homenageado na Colômbia por demonstrar coragem em sua luta pela verdade, a paz e a democracia, lembra o Centro de Investigação e Educação Popular (CINEP), uma das organizações responsáveis pela homenagem.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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