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Qualidade, independência e transparência são os principais motivos para um leitor pagar por notícias, diz estudo

Uma boa notícia para os novos meios jornalísticos digitais e também os tradicionais na América Latina: os leitores da região estão mais dispostos a pagar por notícias do que seus semelhantes no Reino Unido e na Alemanha, e não tão longe dos Estados Unidos. É o que descobriu a pesquisa “Consumo e pagamento de notícias digitais: oportunidades e desafios do modelo de assinatura na América Latina”.

Pesquisa com leitores de países da América Latina indica que decisão de pagar por notícias está associada a independência e transparência dos meios jornalísticos e sugere a veículos digitais comunicar melhor estes valores para a audiência potencial.

Pesquisa com leitores de países da América Latina indica que decisão de pagar por notícias está associada a independência e transparência dos meios jornalísticos e sugere a veículos digitais comunicar melhor estes valores para a audiência potencial.

Os pesquisadores ouviram 8.570 pessoas através de um questionário online e fizeram 89 entrevistas em profundidade com leitores e especialistas em quatro países: Argentina, Brasil, Colômbia e México. Entre os participantes, 13% assinam algum serviço jornalístico. Para fins de comparação, um estudo semelhante encontrou taxas de 8% no Reino Unido, 10% na Alemanha e 20% nos Estados Unidos, mercados mais bem estabelecidos que os da América Latina.

“Num contexto de abundância de informação acessível e gratuita ... o gratuito é concebido como um benefício implícito do conteúdo digital, que se tornou certo”, diz o estudo. Por isso, a pesquisa sugere que a decisão de pagar está diretamente associada a uma clara proposta de valor, que pode ser através da profundidade, especificidade ou exclusividade dos assuntos. 

Só que apenas o conteúdo não é suficiente: o meio precisa mostrar que há transparência quanto ao financiamento e à independência em relação aos poderes constituídos. Essa é uma das principais recomendações do estudo.

“Quando um meio consegue provar que é independente dos poderes hegemônicos, quando pode ser transparente sobre seus interesses, e quando o meio tem uma prática jornalística de alta qualidade, o público o valoriza mais e entende mais porque, digamos, estaria disposto a pagar por isso”, disse à LatAm Journalism Review Mijal Iastrebner, co-fundadora e diretora de SembraMedia.

A investigação foi financiada pela Luminate como um desdobramento do trabalho da aceleradora de veículos jornalísticos Velocidad, um programa do ICFJ e SembraMedia ,também financiado por Luminate para apoiar organizações de mídia independentes através de financiamentos e consultorias.

“A questão da transparência é muito importante, pois como vemos, para muitas pessoas, a complexidade de encontrar meios de comunicação independentes dos poderes do dia, nos leva a considerar que todos os meios de comunicação são tendenciosos e, portanto, não confiam em nenhum” disse Gabriela Hadid, diretora de investimentos do Luminate Group, durante um webinar de SembraMedia. “Portanto, tudo o que a mídia puder fazer para fortalecer a transparência, tanto nas fontes de financiamento quanto na cobertura do conteúdo, será importante para começar a mudar isso.”

A pesquisa identificou que os leitores consideram que houve uma diminuição da confiabilidade da informação disponível. “As informações são muito mais fáceis de acessar, mas nem todas as informações são verdadeiras ou baseadas em fatos. Por exemplo, notícias falsas são uma preocupação hoje em dia”, disse um dos respondentes. 

Nesse contexto, um dos principais desafios que os meios jornalísticos digitais enfrentam, segundo a pesquisa, é de credibilidade, uma vez que eles herdaram os mesmos problemas dos veículos tradicionais. “Isso é agravado pela proliferação de fontes diversas e díspares de informação, que exigem mais rigor e ética profissional na verificação de fontes e conteúdos,” diz a publicação. 

Por outro lado, a boa notícia é que neste ambiente, os leitores que identificam uma nova fonte de informação que se mostra correta e precisa tendem a se tornar fiéis, o que é um dos primeiros passos rumo à decisão de pagar pelo acesso. “A informação que me parece confiável, pouco a pouco eu vou me aproximando dessa fonte de informação e de outras não, porque me parecem muito falsas,” disse um dos respondentes.

Para a fidelização ocorrer, jornalismo de qualidade é essencial, mas não suficiente. É preciso trabalhar a construção da marca para desenvolver a credibilidade do veículo. Só que este é um processo lento e requer investimentos, mas os recursos para isso muitas das vezes não estão disponíveis.

Segundo Iastrebner, um dos itens citados nas pesquisas qualitativas é que quando há um nome conhecido na equipe, o valor desse meio se eleva muito, junto com a confiança no conteúdo:

“As mídias digitais independentes, que estão fazendo um jornalismo superinovador e necessário para as comunidades, que conhecem suas comunidades, precisam, na nossa perspectiva, trabalhar muito mais no posicionamento de sua marca e na explicação do valor de seu produto para o público para que tornam-se relevantes e, portanto, podem obter suporte do consumo ou do pagamento pelo público,” disse.

Leia o estudo na íntegra em espanhol ou em inglês. Confira também os dados aprofundados por país: Argentina, Brasil, Colombia, y México.

 

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